22 Setembro 2012
O Concílio não só afirmou que nós, valdenses, não éramos mais hereges e excomungados, mas também disse algo ainda maior, que nunca havia sido dita antes e que não foi mais dito depois: que as nossas Igrejas são instrumentos de salvação.
A opinião é do teólogo valdense italiano Paolo Ricca, em discurso proferido na assembleia italiana Igreja de Deus, Igreja dos Pobres, realizada em Roma por ocasião dos 50 anos da abertura do Concílio e do início do Ano da Fé. O artigo foi publicado no sítio Fine Settimana, 15-09-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Obrigado de coração pelo convite. Estou aqui, sem um mandato específico, em nome do pequeno protestantismo italiano e em particular da Igreja Valdense, a qual pertenço. Também devo dizer que essas definições e delimitações são cada vez mais estranhas para mim, e os pertencimentos transcendem todas as classificações.
Perguntei-me sobre o que dizer nesta saudação de sete minutos. Devo dizer-lhes o que significou o Concílio Vaticano II para nós, que em certo sentido não somos nada, embora existindo na Itália há oito séculos como pequena comunidade que busca também ela ser cristã, se aproximar um pouco daquilo que deveria ser uma Igreja cristã...
Para lhes dizer o que significou para nós e também para mim pessoalmente (mesmo participando de fora, mas também de dentro, através dos observadores delegados do Vaticano II), deveria lhes narrar aquela que foi a história anterior ao Concílio Vaticano II, deveria contextualizar historicamente. Precisaria ter tempo, mas não há.
Digo-lhes apenas uma coisa. Por oito séculos, fomos na Itália hereges e excomungados. Nós, valdenses, duas vezes excomungados: uma primeira vez na Idade Média e uma segunda vez quando aderimos à Reforma Protestante. Desse ponto de vista, estamos a postos, não nos falta nada.
O que aconteceu com o Concílio Vaticano II é que essas duas categorias de heresia e de excomunhão desapareceram. E nós nos tornamos, por causa de uma mutação genética imprevista, imprevisível, mas muito agradável, irmãos separados.
Vocês entendem a diferença entre herege e irmão separado? Se você é irmão de um herege, você também é herege. Essa foi realmente uma revolução copernicana, no mínimo...
Depois, estamos separados não de Cristo, mas da Sé Apostólica, e não é a mesma coisa. Portanto, uma separação, que pode ser tolerada. Teria sido mais grave se tivéssemos sido separados de Cristo, como éramos considerados antes. Agora, ao invés, somos considerados somente separados da Sé Romana. Essa foi a revolução que efetivamente mudou tanto a relação do catolicismo com relação a nós, quanto, embora com dificuldade, a nossa relação com a Igreja Católica.
Mas vocês, comunidade conciliar, são os que contribuíram muito e que continuam contribuindo para criar uma ponte entre a pequena e modesta realidade evangélica italiana e o catolicismo romano como um todo.
O Concílio não só afirmou que não éramos mais hereges e excomungados, mas também disse algo ainda maior, que nunca havia sido dita antes e que não foi mais dito depois – algo impensável e inaudito –, isto é, que as nossas Igrejas, segundo o documento conciliar sobre o ecumenismo, são instrumentos de salvação. Até então, ao invés, éramos considerados instrumentos de perdição.
As nossas Igrejas são instrumentos de salvação das quais o Espírito Santo não se recusam a se servir para realizar a sua obra. Coisas extraordinárias, coisas formidáveis que, infelizmente, não se repetiram mais.
Para nós, portanto, o Concílio está na frente e não atrás.