Por: Jonas | 13 Setembro 2012
De 2 a 7 de setembro deste mês de setembro, os sacerdotes diocesanos de Barbastro-Monzón realizaram, em Peralta de La Sal, os Exercícios Espirituais, conduzidos pelo cardeal Oscar-Andrés Rodríguez Maradiaga (foto), arcebispo de Tegucigalpa (Honduras) e presidente da Cáritas Internacional, que avalia, entre outras questões, que “deixamos de falar a linguagem do mundo atual. As pessoas cada vez nos entendem menos”.
A entrevista é da Delegação Diocesana de Meios de Comunicação (Barbastro-Monzón), publicada no sítio Religión Digital, 11-09-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
O Papa convocou um “Ano da Fé”, que começará em outubro, e que pede uma nova evangelização. Como se deve levar o Evangelho a este mundo do século XXI?
Acredito que quem nos dá a pauta é o Senhor Jesus, o primeiro evangelizador, a quem contemplamos em missão permanente na Igreja. Como dissemos na Conferência de Aparecida, não haverá nova evangelização sem novos evangelizadores, sem uma autêntica “conversão pastoral”.
Não podemos continuar fazendo “mais do mesmo”, mas renovar o coração missionário e não esperar que as pessoas venham até nossas paróquias, mas sair em busca das ovelhas. Existem novos areópagos e pátios dos gentios que esperam a Palavra de Deus. Se estivermos cheios do ardor missionário de São Paulo, cujo coração palpitava: “Ai de mim se eu não evangelizo!”, o Ano da Fé será uma forte motivação para transmitir a “chama da fé”, sempre ardente e radiante às novas gerações deste milênio. Não se trata simplesmente de comunicar ideias, mas de favorecer um encontro pessoal com o Cristo vivo, uma autêntica experiência de Cristo.
Completou-se um ano da Jornada Mundial da Juventude, celebrada em Madri. Hoje, os jovens são um grupo difícil na pastoral ordinária de nossas paróquias. Juventude e fé não caminham bem?
Não acredito nisso. A juventude de hoje, como a de ontem, vibra diante das causas nobres. Eles também respondem, quando sabemos comunicar a alegria do Evangelho. Muitas vezes, o problema está na linguagem. Penso que, às vezes, em nossas paróquias precisaríamos da ajuda de “foniatras espirituais”. Vivemos em um mundo novo, o que significa um território a ser explorado. Podemos ter medo do risco e da aventura. No século XXI, parece que já não existe nada para explorar. Porém... a humanidade continua mudando, não está estática. As pessoas mudam. Continuam formulando novas maneiras de ser no mundo.
Elas nos apresentam uma nova humanidade a ser interpretada. Interpretar a fundo o que está acontecendo. Devemos nos esforçar para entender os jovens. E, então, devemos considerar a comunicação da Boa Nova. Deixamos de falar a linguagem do mundo atual. As pessoas cada vez nos entendem menos. Por isso, poucos nos escutam. Outra vez enfrentamos o problema da comunicação. A linguagem supõe emissor e receptor. Não estamos na frequência e o receptor não nos entende. Como interpretar a nova humanidade, a nova juventude, se não conhecemos a linguagem do mundo de hoje?
Vivemos um novo contexto cultural e midiático: o que se move é o mundo das percepções, não das realidades. Toda a atual ferramenta midiática cria percepções. Os meios de comunicação social modificam a percepção social. A ferramenta mais espetacular é a Internet. Em muitos países, o adolescente médio passa 28 horas semanais, ou mais, na Internet. Caso vai à Igreja, o máximo seria uma hora? Está sendo gestado um novo tipo de jovem. Por vezes, em ambientes hostis à fé e em campanhas constantemente sustentadas contra a Igreja.
Sabemos que educar é ensinar a viver. Quem educava, tradicionalmente, era a família, a escola e a Igreja. Hoje em dia já não fazem isso. O panorama foi profundamente modificado. A família desempenha um papel nutricional. A escola ensina habilidades para ganhar dinheiro. E a Igreja, muitas vezes, se reduz a um marco decorativo para cerimônias sociais. Hoje em dia, quem ensina os jovens a viver? As telas midiáticas, e se socializam nas danceterias ou bares. Por isso, devemos reaprender a Evangelizar em novas realidades, sem temor, deixando abrir-se ao Espírito Santo. A fé apresentada como a vida em plenitude, sempre será boa com os jovens.
O senhor se comprometeu muito na defesa dos direitos humanos. Parece que ainda existe mais palavra do que realidade na questão dos direitos humanos. Hoje, quais os direitos humanos que acredita ser mais descumpridos?
Os direitos humanos são uma matéria pendente em todo o mundo. Por vezes, se reduzem ao âmbito político. A Doutrina Social da Igreja tem este assunto como central na mensagem social do cristianismo. Já foi comemorado o sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em muitos aspectos, e em muitos lugares, ainda é uma matéria pendente.
Precisamos reconstruir a democracia a partir de uma nova lógica: a do Bem Comum, que é uma das contribuições do Evangelho no mundo da política. E a construção do Bem Comum não deve cair na armadilha de configurar novos estados imperiais.
Não podemos ignorar que nem a política e nem os políticos gozam de bom nome, nem de boa reputação. Todos, desde qualquer profissão ou a partir de nenhuma, sentem-se autorizados e justificados para falar mal da política ou dos políticos, deixando cair sobre ela os piores qualificativos.
Uma solidariedade adequada à globalização exige a defesa dos direitos humanos. A este respeito, o Magistério da Igreja destaca que a presença de uma autoridade pública internacional, a serviço dos direitos humanos, da liberdade e da paz, não apenas ainda não foi conquistada completamente, como também se deve constatar, infelizmente, a frequente indecisão da comunidade internacional acerca do dever de respeitar e aplicar os direitos humanos. Este dever diz respeito a todos os direitos fundamentais e não permite decisões arbitrárias, que acabariam em formas de discriminação e injustiça. Ao mesmo tempo, somos testemunhas do aumento de uma preocupante divergência entre uma série de novos “direitos”, promovidos nas sociedades tecnologicamente avançadas, e direitos humanos elementares que ainda não são respeitados em situações de subdesenvolvimento. Penso, por exemplo, no direito à alimentação, água potável, moradia, autodeterminação e independência.
No ano de 2007, o papa Bento XVI nomeou-lhe presidente da Cáritas Internacional. Qual é a sua missão neste serviço eclesial?
A Cáritas Internacional é uma Confederação de 164 países, pela qual somos o braço da caridade da Mãe Igreja. Meu papel é o de animação e coordenação junto a uma equipe de leigos e sacerdotes, de diversas nacionalidades, que residem em Roma, sob a orientação do Secretário Geral. Eu me considero como o diretor de uma orquestra sinfônica, que interpreta a bela música do amor de Cristo, especialmente próxima dos que mais sofrem.
Está se criando um mundo onde a cobiça deixa as maiorias à margem da história, na sarjeta da história, com algumas sociedades que vivem um processo tecnológico com possibilidades nunca vistas, mas que fabricam e reproduzem exclusão. Precisamos voltar a acreditar no ser humano como tal, e em sua capacidade de atuar com os valores mais nobres que carrega dentro de si, de forma altruísta, generosa e solidária.
Devemos enfrentar esta nova ordem mundial que possivelmente, nunca como agora, é uma nova desordem mundial. Em primeiro lugar, com o Direito Internacional, este direito dos povos que foi aparecendo, ao longo da história da humanidade, como uma das conquistas mais apreciadas. A Cáritas é a consciência para que a comunhão cristã de bens seja uma realidade e não uma utopia. Como dissemos no lema deste quadriênio: “Uma só família humana, zero pobreza”.
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“Deixamos de falar a linguagem do mundo atual”, afirma o presidente da Cáritas Internacional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU