08 Setembro 2012
A Organização das Nações Unidas reconheceu ontem seu fracasso em lidar com a crise na Síria e afirmou que o número de pessoas afetadas pela guerra civil dobrou desde julho. Hoje, 2,5 milhões de habitantes do país vivem uma situação de crise humana, segundo a entidade.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 08-09-2012.
"Um número incalculável de casas, clínicas, hospitais e (equipamentos urbanos de) infraestrutura foi destruído e o governo ainda não permitiu acesso a todos os locais onde precisamos atender a população", afirmou John Ging, diretor de operações do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. "Não há mais nenhum lugar onde os civis possam estar em segurança."
A violência, presente em quase todo o país, e a falta de recursos prejudicam o atendimento a essa população. Segundo a ONU, bloqueios em estradas controladas pelo governo e pela oposição impedem a distribuição de água, alimentos e remédios. Nove das 14 províncias da Síria são palcos de intensos confrontos e 3 milhões de pessoas têm problemas para se alimentar, de acordo com a organização. Na prática, mais de 10% da população síria é diretamente afetada pela guerra civil e 248 mil pessoas já deixaram o país. "Julho e agosto marcaram uma mudança da escala e da dimensão do conflito, diante da proliferação da violência para Alepo e Damasco", disse Ging.
"Além dos refugiados, 1,2 milhão de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas e ainda estão dentro do país", disse. Segundo ele, 1 milhão de sírios vivem em prédios públicos abandonados.
Segundo a ONU apenas a metade dos hospitais do país está funcionando e pelo menos 2 mil escolas foram destruídas, o que dificultará o reinício do ano letivo, previsto para a próxima semana. Outras 600 escolas estão ocupadas por refugiados.
Além da violência, outro obstáculo para a ONU é obter dinheiro para atender as vítimas. Ontem, a entidade lançou um novo apelo para que a comunidade internacional aumente suas doações para US$ 347 milhões, o dobro do que estimava que necessitaria inicialmente.
'Pessoas estão morrendo por falta de acesso a remédios'
O novo presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Peter Maurer, voltou ontem de sua primeira visita à Síria, onde negocia um maior acesso de entidades humanitárias ao país.
Eis a entrevista.
Qual foi a impressão do sr. sobre a situação na Síria?
Fiquei chocado com a destruição. Há sinais de uma guerra urbana justamente em locais densamente povoados. O impacto na população civil, portanto, é grande. Também vi ampla violação de instituições sagradas, como igrejas e mesquitas.
Como está o acesso ao atendimento médico?
Há uma violação da imunidade dos médicos. Há o risco de vermos a politização das instituições médicas e de hospitais. Temos uma longa lista de violações de instalações civis. Pessoas estão morrendo por falta de acesso a remédios.
O que o sr. pediu a Assad?
Que o acesso de grupos humanitários a algumas partes do país seja acelerado.
E o que ele disse?
O governo não nega mais a existência de uma crise, como fazia há alguns meses. Acho que entenderam que o país precisa de ajuda.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Crise humana atinge 2,5 milhões na Síria, diz ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU