03 Setembro 2012
Continuam as manifestações de pesar pela morte do cardeal. o rabino-chefe emérito de Roma, Elio Toaff: "A sua luminosa figura permanecerá sempre presente entre os justos". O jornal dos bispos italianos, Avvenire, volta sobre a polêmica da obstinação terapêutica: "Sobre o seu fim, deformações sem vergonha".
A reportagem é do jornal La Repubblica, 02-09-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Com a morte do cardeal Carlo Maria Martini, a filosofia do diálogo entre cristianismo e judaísmo perde um de seus mais sinceros e brilhante defensores e apoiadores". Assim, o rabino-chefe emérito de Roma, Elio Toaff, dois dias depois da morte, lembra Martini e o seu compromisso com o diálogo inter-religioso: "O seu caminho ao conhecimento de Deus – disse Toaff – não previa nem interditos nem exclusões, não evocava cruzadas anacrônicas, nem tinha na mira o afastamento das dúvidas".
Segundo Toaff, para Martini o estudo da Bíblia era "fundamental e propedêutico para o diálogo com quem não era cristão": "Aos olhos de crente e de estudioso – disse Toaff –, que sempre escolhera uma vida simples e sem ostentação, o espírito de verdadeira e autêntica fraternidade devia estar na base da relação entre cristianismo e judaísmo. Martini – continua Toaff – estava mais do que nunca convencido de que o diálogo requeria uma corajosa e contínua renovação, mas sem perigosos e indesejados passos atrás. A sua luminosa figura permanecerá sempre presente entre os justos que deixaram uma marca indelével e um alto testemunho da fé na nossa sociedade".
"Uma grande perda, porque eu não conheço outras pessoas desse tipo", é o lamento do presidente da comunidade judaica de Veneza, Amos Luzzatto. "Eu tive a oportunidade de encontrar mais de uma vez o cardeal Martini – disse Luzzatto – e a minha impressão é de ter encontrado pela primeira vez uma pessoa que não só sabia ficar ouvindo, mas que gostava de ouvir os outros: isto é, de ter encontrado pela primeira vez dentro no mundo católico oficial alguém que busca um novo caminho através do contato com as pessoas que não pertencem a esse mundo".
Para o filósofo Massimo Cacciari, o cardeal foi "o homem da Igreja mais impressionante". "A ausência de toda negligência na sua fé", ou seja, de qualquer fechamento ou cerca, é a característica de Martini que mais chamou a atenção de Cacciari, que colaborou com ele na Cátedra dos Não Crentes. "Martini – observou Cacciari – era totalmente estranho ao obstinado erro de quem não quer debater com os outros, um erro que está presente na Igreja, mas também nos laicos que consideram a religião como uma superstição".
As polêmicas sobre o tratamento
Na véspera do funeral de Martini, agendado para esta segunda-feira às 16h na catedral de Milão, resta um rastro de polêmicas ligado aos comentários sobre a escolha do cardeal de recusar finalmente os tratamentos agressivos. No jornal católico Avvenire, o diretor Marco Tarquinio voltou sobre o tema: "Nestes momentos de oração cristã e de respeitoso recolhimento – escreveu, respondendo a um leitor –, eu custo muito a conceber as polêmicas levantadas por certos comentaristas e por alguns politiqueiros e não consigo entender como podem ser realizadas, sem vergonha, tais distorções dos fatos e da verdade. Que miséria, e que injustas e tristes (estas sim) obstinações...".
"O arcebispo emérito de Milão testemunhou até o extremo, na fragilidade da sua própria condição, a Palavra de Vida integralmente oferecida", destaca o diretor do jornal dos bispos. Sobre o assunto, o Avvenire também publicou um editorial do padre Roberto Colombo, bioeticista da Universidade Católica de Milão, que falou de "esquálidas operações sobre a morte do cardeal Martini".
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Martini, o adeus do rabino Toaff - Instituto Humanitas Unisinos - IHU