Esquerda chilena aposta em volta da ex-presidente Michelle Bachelet

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

28 Agosto 2012

Enquanto os estudantes chilenos retomam sua mobilização pela gratuidade do ensino, a coalizão de centro-esquerda, que garantiu a transição democrática no Chile e governou durante vinte anos, vem encontrando dificuldades para se recuperar de sua derrota na eleição presidencial de 2010. Apesar dos sinais de que o governo do presidente Sebastián Piñera (direita) vem perdendo fôlego, reprovado pela maioria de chilenos, a oposição se apresentará dividida nas eleições municipais de 28 de outubro.

A reportagem é de Paulo A. Paranagua, jornalista, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 25-08-2012.

Essa votação será a primeira desde a instituição da inscrição automática nas listas eleitorais e do voto facultativo. Antes, o voto obrigatório afastava os jovens das listas e da vida política. Mas a irrupção do movimento estudantil é a principal novidade dos últimos anos. Como votarão os 4,5 milhões de chilenos que não constavam antes nas listas? A radicalização dos estudantes de colégios e universidades se refletirá nas urnas? Será que ela mudará a configuração das coisas ou as relações de força?

A eleição de outubro envolve 345 prefeituras e 2.130 vagas no conselho municipal. A Concertação Democrática, coalizão de centro-esquerda, apresenta candidatos únicos para o posto de prefeito de 336 municipalidades. Mas a coalizão se dividiu na corrida pelos conselhos municipais.

De um lado, o Partido Socialista (PS) e a Democracia-Cristã (PDC, centro), que mantêm o rótulo Concertação Democrática. Do outro, o Partido pela Democracia (PPD, esquerda) e o Partido Radical Socialdemocrata (PRSD), apoiados pelo Partido Comunista.

Já a direita apresenta candidaturas únicas da aliança entre a Renovação Nacional (RN) e a União Democrata Independente (UDI), os partidos no poder.

A divisão da centro-esquerda é um mau presságio, uma vez que ela lembra um desagradável precedente. Em 2008, a unidade já havia se rompido pelos pequenos cálculos municipais. A Concertação Democrática (PS, PDC) foi desafiada pela Concertação Progressista (PPD, PRSD). Longe de evitar o desgaste do governo, esse eleitoralismo de pouca visão precedeu a derrota nas presidenciais de 2010.

Todo mundo em Santiago do Chile já está pensando na eleição presidencial de 2013. Boa parte da esquerda pretende voltar ao poder com a ex-presidente Michelle Bachelet. Segundo uma pesquisa divulgada na última quarta-feira (22), ela teria 46% das intenções de voto, sem rival na centro-esquerda e 32 pontos à frente do ministro Laurence Golborne, melhor candidato da direita.

A volta de Bachelet ao cenário chileno – atualmente ela comanda a ONU Mulheres – evitaria o questionamento do projeto da centro-esquerda, que não contava com a crise da educação nem com a contestação do modelo energético.

A aposta de “MEO”

A eleição municipal é fundamental para o jovem socialista dissidente Marco Enríquez-Ominami (o “MEO”), cuja candidatura à presidência havia conquistado 20% dos votos no primeiro turno da votação, em dezembro de 2009, para surpresa geral.

Conseguirá ele transformar esse avanço em uma presença duradoura? O Partido Progressista (PRO) de “MEO” apresenta mais de 100 candidatos ao posto de prefeito e mil candidaturas aos conselhos municipais de 206 comunas. O PRO se aliou ao Partido Ecologista Verde, aos socialistas “allendistas” (em referência ao ex-presidente Salvador Allende, derrubado pelo exército em 1973) e aos índios Mapuche do movimento Wallmapuwen. Esse novo partido tenta reunir representantes das mobilizações contra as barragens na Patagônia e os Mapuche, que contestaram, cada um de seu lado, a política do governo Piñera.

Pela primeira vez no Chile, homens e mulheres depositarão suas cédulas nas mesmas urnas, em vez de fazer fila separadamente. A modernidade na América Latina muitas vezes é marcada por arcaísmos.