27 Agosto 2012
O padre que cuida do Cristo Redentor no Rio de Janeiro é amigo das celebridades e se prepara para receber o papa na cidade em 2013.
A reportagem é da coluna de Mônica Bergamo e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 26-08-2012.
A lista de contatos célebres no celular do padre Omar Raposo, no Rio, é extensa. E a todos que ligam, de autoridades a atores globais querendo marcar batizado de filho, ele pergunta: "E aí, beleza?".
Outro dia, Taís Araújo telefonou para combinar o batizado de seu filho com Lázaro Ramos. Com Elba Ramalho, ele fala direto. O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, foi o primeiro a ligar quando Omar fez missa "pela paz" em 2010, ano em que o Exército invadiu o Complexo do Alemão.
Omar diz que está com "a idade boa, 33 anos, idade de Cristo". Mas peso ruim: desde que virou padre, há oito anos, engordou um bocado. Agora, seu médico recomenda que perca 10 kg. A vida paroquial, apesar de ser "show de bola", não dá descanso.
É dele a tarefa de zelar pelo "chefão": a estátua do Cristo Redentor, encravada há 81 anos no morro do Corcovado. Padre Omar é o responsável pela capela Nossa Senhora Aparecida, construída sob os pés do Cristo. Foi ali que ele rezou "um Pai Nosso com Lula e [Carlos Arthur] Nuzman [presidente do COB] para abençoar a candidatura do Rio à Olimpíada", em 2009.
Para começo de conversa, o padre diz que o monumento é "carioquíssimo".
"Isso é o maior caô", afirma, sobre a autoria da estátua ter sido creditada por muito tempo ao francês Paul Landowski, que desenhou as mãos e o rosto da imagem. No ano passado a prefeitura decidiu, por decreto, que a obra é do engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa, responsável pela construção.
Também acena negativamente quando seu motorista para no semáforo, a caminho de mais um dia de labuta no Corcovado, num domingo de sol. Vê a aglomeração de policiais na orla de Copacabana. A estampa na camiseta dos PMs traz o Cristo de braços abertos. "Deviam pedir autorização...", murmura do banco da frente, olhando a repórter Anna Virginia Balloussier pelo retrovisor, adornado por um terço.
Veste terno e camisa cinza com colarinho aberto. O carro está com a sirene ligada, abrindo caminho no morro. Lá em cima, o capelão é parado a todo momento por turistas. "Aqui tem tanto chinês que, se você joga moeda no bueiro, sai pastel..."
Em 2011, para promover a igreja, o arcebispo do Rio, Orani Tempesta, sugeriu a Omar que gravasse um disco. E assim ele entrou no rol de padres-cantores, como Marcelo Rossi e Fábio de Melo. E lançou em julho o álbum "Peço a Deus", de samba. Omar canta com Diogo Nogueira a faixa-título. Ele agora tem assessoria de imprensa, grande gravadora (EMI) e Facebook. Sua página foi "curtida" 35 mil vezes. "Fui apadrinhado pelos sambistas do Rio", afirma. "Mas não bebo cerveja [que nem eles]. Não tem essa, não. A parada é água benta." Omar continua: "São preconceitos que rolam em torno do samba: que todo mundo é malandro, bebe. Mas a Igreja [Católica] criou um canal de diálogo. Zeca Pagodinho estava comigo esses dias, ficou feliz da vida. Pode até dizer isso na reportagem".
Ele agora está fazendo um giro por programas de TV - marcou há dias entrevistas com Ana Maria Braga e Renato Aragão. E assessora a Globo em algumas atrações. "O Projac tem uma igreja 'fake'. E tinha muita falha em minisséries, padre entrando com roupa errada... Hoje, figurino de freira e bispo é top."
Sua maior missão agora é coordenar a Jornada Mundial da Juventude, megaevento católico que terá participação do papa Bento 16 e de cerca de dois milhões de fiéis de todo o mundo em 2013.
Omar viu um papa pela primeira vez em 1997, quando João Paulo II visitou o Brasil. Sentiu um "toque no coração ao olhar o santo no papamóvel".
"Foi a primeira vez que tive vontade de ser padre", diz. "João Paulo era um papa para ser visto. Bento XVI é para ser lido, mais intelectual."
Em julho, um evento no Maracanãzinho marcou a contagem regressiva para a Jornada. A deputada estadual Myrian Rios (PSD-RJ) fez o "esquenta" com o público. "Você acredita na importância da evangelização?", perguntava. Em seguida, informava o número de uma conta do Bradesco para doações.
Omar cantava. E suava. A mãe, dona Marlene, esperava com roupas limpas no camarim. Mas ele preferiu ficar com a camisa cinza que já vestia. "A blusa branca [que ela guardava] deixa ele mais gordinho", palpitava a mãe.
"Rodízio de massas, cortei pra sempre", diz Omar. "Não é vaidade, é controle de qualidade", diz, rindo. "Padre não pode entrar com batina suja, descabelado, né?"
Num prédio paroquial em Ipanema, onde mora com seis padres e um bispo, Omar abre o envelope que chegou pelo correio com a fatura de seu cartão de crédito. Diz que só gasta dinheiro em sua folga semanal, no teatro ou em jogos do Fluminense.
Ele entrou no seminário com 18 anos e saiu de lá em 2004. "[A clausura de] 'Big Brother' é mole perto disso."
Lembra de um cartaz que ligava igreja à pedofilia. "Isso é loucura. Nossa figura tá pesada. Padre perdoa todo mundo. Quando erra..."
Antes da batina, teve três relacionamentos. E diz que hoje se sente confortável sem namorar. "Quem é homossexual quer ser respeitado, quem não tem religião... Por que ninguém respeita o celibato? Não dá para entender. Pensa bem: todo mundo quer afirmar suas paradas. Você não vê marcha dos padres contra o celibato. Jesus era celibatário. É só ver isso."
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