15 Agosto 2012
Assim como com Elias, Deus nos desafia a abandonar a nossa posição como o centro de todas as coisas e a nos tornarmos completamente centrados em Deus.
A reflexão é de Patricia Datchuck Sánchez, mestre em literatura e religião da Bíblia no programa conjunto da Columbia University e do Union Theological Seminary, em Nova York. O artigo foi publicado no sítio do jornal National Catholic Reporter, 12-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Em seu livro Waiting for God [Esperando por Deus], a filósofa, mística e ativista social francesa Simone Weil (1909-1943) sugeriu que a autêntica transformação espiritual só pode começar quando as pessoas se dispõem a abdicar de sua posição como o centro das coisas (Penguin Putnam Press, 1951). Weil era da opinião de que o "eu" sempre será a idolatria permanente da humanidade – "divindade falsa", ela o chamava. Por essa razão, a negação do "eu" como centro é parte integrante do verdadeiro discipulado.
Em uma reflexão sobre o ponto de vista de Weil, Thomas R. Steagald descreveu que o egoísmo humano é tão insidioso a ponto de impedir a sua fácil detecção, e a sua malignidade é tão invisível que ele impede a sua fácil erradicação (The Abingdon Preaching Annual, Abingdon Press, 1999). Quantas vezes imaginamos, nunca nos achando vãos, que os nossos desejos são o mandamento de Deus, e que as nossas expectativas constituem a esperança.
Com todo o respeito a Elias como profeta de Deus, nos damos conta de que nem mesmo ele estava imune a essa idolatria demasiadamente comum. Quando ele se sentou debaixo da árvore naquele dia no deserto, seus pensamentos se centraram em si mesmo e, no seu desespero, ele rezou pela sua própria morte. Todos os seus planos haviam ido por água abaixo. Sua tentativa de purgar o culto israelita das influências pagãs havia sido frustrada. Uma rainha furiosa pediu a sua morte, e ele havia fugido para escapar da sua ira.
O seu humor, como indicou William Bausch, não é estranho para nós (Once Upon a Gospel, Twenty-Third Publications, 2008). A maioria de nós pode recitar uma série de problemas, individuais e comunitários, locais e mundiais, que nos fariam querer solidarizar com Elias debaixo de sua árvore do desespero. Entretanto, assim como com Elias, Deus nos desafia a abandonar a nossa posição como o centro de todas as coisas e a nos tornarmos completamente centrados em Deus.
Ao mudar o nosso foco, nós nos rendemos a Deus, que nos conhece e cuida de nós. No bom cuidado de Deus, encontraremos a força e a graça para enfrentar todas as nossas lutas e o alimento espiritual para servir às necessidades dos outros.
Como refletimos no Evangelho de domingo, o Jesus joanino também encontrou uma certa autoabsorção naqueles aos quais ele viera para servir e salvar. Eles comem alegremente o pão que Jesus lhes deu, mas eles foram incapazes ou não quiseram apreciar Jesus como alguém que não fosse o filho de José e Maria, e não permitiram que as seus expectativas messiânicas paroquiais fossem ampliadas ou que as suas fomes mais profundas fossem alimentadas pelo pão vivo que ele oferecia. Ao invés de serem verdadeiros discípulos (literalmente "tirados para fora" de si mesmos por Jesus), eles permaneceram centrados dentro de si mesmos.
Em cada reunião eucarística, todos os presentes são atualizados e lembrados do que esse grande dom significa. Nós somos alimentados com o pão da palavra e com o pão eucarístico. Somos desafiados a mudar o nosso centro e o nosso foco para pertencer mais de perto a Deus e para acreditar mais autenticamente no pão da vida.
Alimentados por esse pão vivo, tornamo-nos mais capazes de enfrentar os desafios descritos pelo autor da Carta aos Efésios da segunda leitura de domingo. O rancor amargo deve ser evitado; a compaixão e o perdão devem se tornar os santos hábitos daqueles que professam pertencer a Cristo. Como imitadores de Deus e como filhos amados de Deus, não podemos deixar de seguir o exemplo de Deus no amor os pobres, vendo as suas necessidades e acolhendo-os às nossas próprias mesas para serem alimentados.
Para viver verdadeiramente em sintonia com o mistério eucarístico, aqueles que conheceram Jesus ao partir do pão – aqueles cujos corações, centrados em Jesus, começaram a arder dentro deles – são os mesmos que devem deixar para trás as árvores do nosso desespero e viver na esperança.
Espere em Deus, espere no pão da vida, espere n'Aquele que prepara uma festa diária/semanal e que se revela novamente no pão e vinho.
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