15 Agosto 2012
Há 51 anos o exército americano começou a pulverizar os verdejantes vales e planícies do centro e do sul do Vietnã com 75 milhões de litros de um herbicida pouco conhecido até então, com a intenção de arrasar os campos que poderiam oferecer refúgio à guerrilha vietcongue durante o conflito que se prolongou de 1964 até 1975. O chamado “agente laranja”, fabricado por indústrias químicas como Monsanto e Dow Chemical, continha uma dioxina extremamente prejudicial, que provocou cânceres, diabetes, linfomas e malformações nas pessoas. Só agora, milhões de doenças e mortes depois, os EUA começaram a limpeza de áreas que ainda são tóxicas.
A reportagem é de David Alandete, publicada no jornal El País e reproduzida pelo Portal Uol, 14-08-2012.
As operações de limpeza começaram na semana passada na cidade de Danang. Vão demorar quatro anos e custarão US$ 43 milhões, segundo o Departamento de Estado dos EUA. Nos dez anos em que foi empregado, o “agente laranja” do Pentágono arrasou 2 milhões de hectares e também afetou Camboja e Laos. Os americanos empregaram concentrações de dioxina até 55 vezes acima do normal, daí seus efeitos devastadores para a saúde.
Até os anos 1990, porém, o governo dos EUA não reconhecia formalmente os efeitos nocivos da substância. Naquela época os estragos entre os vietnamitas já eram evidentes: cânceres, doenças respiratórias, queimaduras, abortos, fetos disformes e malformações.
Mas foram os soldados americanos que prestaram serviço no Vietnã que obrigaram Washington a reagir. Primeiro,15 mil soldados processaram os fabricantes do produto e conseguiram em 1984 um acordo extrajudicial de US$ 180 milhões. Posteriormente, o Congresso autorizou o Departamento de Veteranos do governo a indenizar os 4,2 milhões de soldados que serviram em áreas onde se empregou a substância, se apresentassem sequelas.
Segundo disse em 1983 em uma investigação judicial Henry Kissinger, assessor de Segurança Nacional de Richard Nixon, foi esse presidente quem deu a ordem final de deixar de empregar o herbicida, em 1971, e desautorizou desse modo a cúpula militar que queria continuar com seu uso. O general William Westmoreland, comandante das tropas dos EUA no Vietnã até 1968, também indicou nessa investigação que o “agente laranja” fosse empregado com profusão "porque o inimigo acreditava no mito de que poderia ser nocivo para sua saúde e se mantinha afastado dele". Essa foi a posição oficial das autoridades americanas durante muitos anos: o “agente laranja” era para eles um herbicida inócuo até que se demonstrasse o contrário.
A Cruz Vermelha estima que um milhão de vietnamitas vivam com as sequelas dessa dioxina e que 100 mil deles são filhos com malformações. Na última década, essa organização tratou mais de 660 mil pessoas com sequelas causadas pelo “agente laranja”. Muitas áreas foram limpas pelo governo vietnamita de Hanói, mas ainda restam cerca de 20 bases e postos americanos hoje abandonados, que continuam altamente contaminados pelos tópicos.
Nos próximos quatro anos, os grupos de limpeza vão retirar sedimentos das áreas contaminadas para submetê-los a um tratamento de dessorção térmica, expondo-os a temperaturas extremas para provocar a evaporação das substâncias químicas, segundo a embaixada dos EUA em Hanói. Danang, com 800 mil habitantes, é uma das maiores cidades da costa do Vietnã. Calcula-se que existam nela 11 mil pessoas com deficiências, muitas relacionadas ao “agente laranja”.
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EUA fazem operação para limpar áreas contaminadas no Vietnã - Instituto Humanitas Unisinos - IHU