09 Agosto 2012
Uma missão de investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) no território palestino de Gaza concluiu que as crianças desse povo suportam abusos inaceitáveis das forças de ocupação israelenses.
O presidente do Comitê Especial para Investigar as Práticas Israelenses que Afetam os Direitos Humanos do Povo Palestino, o embaixador Palitha Kohona, representante permanente do Sri Lanka na ONU, criticou em especial as forças israelenses por seu tratamento inflexível com as crianças, na maioria dos casos acusadas de jogar pedras contra os militares armados.
A reportagem e a entrevista é de Thalif Deen, da IPS e publicada pelo jornal Brasil de Fato, 08-08-2012.
“Soldados israelenses cercam as casas das crianças em altas horas da noite, lhes jogam granadas e arrombam portas, também disparam projéteis letais e não apresentam nenhuma ordem judicial”, descreveu. Eles prendem os menores e vendam seus olhos, depois os levam em veículos militares, acrescentou.
Em entrevista à IPS, Kohona disse que a situação nos territórios ocupados não apresenta melhoras significativas desde as últimas três visitas à região. Segundo testemunhos, as crianças detidas são proibidas de receber visitas de seus familiares e de terem defesa legal, permanecem presas em celas com adultos, lhes é negado o direito à educação e, inclusive, com 12 anos de idade são julgadas em tribunais militares israelenses, contou Kohona.
O Comitê também recebeu denúncias que dão conta que 192 crianças e adolescentes detidos, dos quais 39 eram menores de 16 anos, disse Kohona. A prática israelense de demolir casas palestinas continua e também aumentou a violência dos colonos judeus, assinalou.
O Comitê Especial, criado pela Assembleia Geral em dezembro de 1968, é formado por mais outros dois diplomatas: Dato Hussein Haniff, da Malásia, e Fod Seck, do Senegal.
Eis a entrevista.
Como descreveria o tratamento que as autoridades israelenses dão às crianças palestinas?
O Comitê chegou à conclusão de que as autoridades ocupantes não estavam cumprindo com suas obrigações legais internacionais para com os habitantes dos territórios ocupados.
Por exemplo, o principal resultado do bloqueio de Israel à Faixa de Gaza foi converter 80% dos palestinos dependentes da assistência humanitária internacional.
É admirável a resiliência dos palestinos de Gaza, capazes de sobreviver com tão pouco, especialmente com a inadequada atenção à saúde, as severas limitações de suas atividades habituais, os frequentes cortes de eletricidade e os habituais incidentes de violência que marcam a vida cotidiana. O bloqueio de Israel a Gaza é ilegal.
As necessidades de segurança de Israel, sem dúvida, podem satisfazer-se sem recorrer a algumas destas duras políticas. O bloqueio, segundo muitos, equivale a castigar coletivamente a 1,6 milhão de palestinos. E já teve um impacto devastador em suas vidas. Muitas testemunhas perguntaram se várias destas duras políticas eram realmente necessárias para manter a segurança ou se, na realidade, estavam destinadas a exacerbar o sentimento de desesperança.
Considerando que estas violações aos direitos humanos são cometidas em territórios ocupados, equivalem a violar as convenções de Genebra sobre o tratamento a prisioneiros em situações de conflito?
Há importantes personalidades que pensam assim e o Comitê está de acordo com esta avaliação.
Israel permitiu alguma vez uma visita do Comitê Especial para registrar sua versão dos fatos? Em caso negativo, qual é a desculpa apresentada?
Ao Comitê Especial não permitiu visitar Israel nem os territórios ocupados da Cisjordânia e Jerusalém (ocidental) ou aos locais de Golán. Israel tem uma política de não cooperação com o Comitê.
Você visitou três vezes a região na qualidade de presidente do Comitê Especial. Qual é sua avaliação dos territórios ocupados?
A situação não tem melhorado de modo significativo. Em Gaza, as importações estão em menos de 50% dos volumes previstos pelo bloqueio. 85% das escolas de Gaza trabalham em turno duplo.
E como Israel proíbe quase todas as exportações de Gaza, o crescimento econômico é sufocado e os empregos são escassos. Entre 30 e 40% da população economicamente ativa da Faixa de Gaza está desempregada. Em torno de 1,2 milhão de palestinos de Gaza receberam assistência alimentar da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA).
Além disso, 90% da água não é potável. Os negócios estão em ponto morto, sem possibilidade de importar novos equipamentos ou de exportar produtos. A pobreza afeta a 39% da população, segundo o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
O que a ONU pode fazer para melhorar a situação dos palestinos nos territórios ocupados? Você acredita que é impotente ante a intransigência israelense?
As agências da ONU desempenham um papel importante para impedir que a situação humanitária se deteriore mais, mas também sofrem a pressão da escassez de fundos causada pela crise financeira mundial. Necessitam de mais financiamento por parte dos doadores.
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“O abuso israelense contra as crianças palestinas é inaceitável” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU