04 Agosto 2012
A revelação segundo o Vaticano II não é definida a partir de um conteúdo (das verdades a acreditar, dos mandamentos a cumprir, dos ritos a praticar), mas sim como experiência, como evento de encontro, de comunicação.
Publicamos aqui um trecho do Epílogo do teólogo francês Christoph Theobald à última edição italiana dos documentos do Concílio Vaticano II (Ed. EDB). O texto foi publicado no blog Sperare per Tutti, 01-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A revelação [nos documentos do Concílio Vaticano II] não é definida, acima de tudo, como no Concílio Vaticano I, a partir de um conteúdo (das verdades a acreditar, dos mandamentos a cumprir, dos ritos a praticar), mas sim como experiência, como evento de encontro ou de comunicação.
Com efeito, Deus não nos revela coisas, verdades, dons; ele não tem a não ser uma única coisa a nos comunicar: ele mesmo como mistério absoluto e como nosso fim último. A única resposta adequada – a fé – é então o dom de si mesmo do crente, oferta livre, cuja raiz última é a consciência humana (cf. Dei Verbum, nn. 2 e 5). Onde procurar a "fonte" de tal experiência de Deus? No Evangelho, tesouro escondido que pode ser encontrado nas Escrituras e na tradição. Escritura e tradição são, de fato, " espelho no qual a Igreja peregrina na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face a face tal qual Ele é" (Dei Verbum, n. 7,. EV 1/881).
Esse modo de conceber a relação com Deus deve repercutir no modo de se relacionar com os outros; disso depende a credibilidade da Igreja. O Vaticano II é o primeiro concílio a ter posto sistematicamente esse problema, distinguindo – no eixo dialogal – entre relações ecumênicas (decreto Unitatis redintegratio), relacionamento com as religiões não cristãs (declaração Nostra Aetate), relacionamento com o ateísmo e presença na sociedade moderna (constituição pastoral Gaudium et Spes).
Compreende-se que, no cruzamento desses dois eixos, a Igreja concebe a sua própria identidade e a sua missão nos termos de "sinal", "porque a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano" (Lumen gentium, n. 1; EV 1/284). A Lumen gentium liga a Igreja, portanto, em primeiro lugar, à aventura da humanidade inteira sobre este globo: onde está a questão de um "modo de vida mais humano na própria sociedade terrena" (Lumen gentium, n. 40; EV 1/389), onde a "vocação humana" (Gaudium et Spes, partes I e II) está envolvida, o sinal eclesial, misteriosamente presente desde o início da humanidade, deve se manifestar novamente, remetendo ao Evangelho e a Cristo Jesus que o anunciou por primeiro, pondo-se a serviço de um mundo a humanizar.
Nota da IHU On-Line: Christoph Theobald estará na Unisinos, no dia 04-10-2012, participando do XIII Simpósio Internacional Igreja, Cultura e Sociedade. A semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização técnicocientífica, promovido pelo Instittuto Humanitas Unisinos - IHU. Ele proferirá a conferência As grandes intuições do Concílio Vaticano II: desafios e possibilidades de aproximações às gramáticas atuais.
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Christoph Theobald e a novidade do Concílio Vaticano II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU