03 Agosto 2012
Advogados de defesa dos membros do grupo feminista punk criticam a conduta do tribunal com relação ao protesto realizado na catedral de Moscou.
A reportagem é do sítio do jornal The Guardian, 01-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Três membros do grupo feminista punk "Pussy Riot" ficaram privadas de sono e de comida pelas autoridades russas, de acordo com seus advogados, durante um julgamento que os críticos dizem fazer parte de uma campanha para desacreditar os críticos ferozes do presidente, Vladimir Putin.
Uma das jovens precisou de cuidados médicos no tribunal no terceiro dia de um julgamento sobre a "oração punk" do grupo Pussy Riot realizada contra Putin no altar da principal catedral de Moscou, em fevereiro.
Os oponentes dizem que o julgamento tem motivação política e faz parte de uma tentativa de Putin de silenciar a oposição, que, nos últimos oito meses, organizou os maiores protestos desde que ele subiu ao poder no ano 2000.
Um dia depois que o líder da oposição, Alexei Navalny, foi acusado de roubo, os investigadores federais também sugeriram que um colega organizar do protesto, Gennady Gudkov, que é membro da Duma estatal, a Câmara Baixa do Parlamento russo, tinha se envolvido em atividades de negócios ilegais.
O advogado de defesa Violetta Volkova intensificou as críticas ao julgamento do Pussy Riot dizendo que Maria Alyokhina, 24 anos, Nadezhda Tolokonnikova, 22, e Yekaterina Samutsevich, 29, haviam sido acordadas às 5h e mantidas em um pequeno quarto durante horas, sem café da manhã, antes de serem levadas ao tribunal.
"O julgamento está sendo conduzido de uma forma ultrajante", disse ela depois que um tribunal independente rejeitou um pedido de recesso de um mês para dar mais tempo à defesa para ler o caso da promotoria, de 3.000 páginas, contra os membros do Pussy Riot.
"As sessões do tribunal estão durando 11 horas por dia, e não se está permitindo que as nossas clientes comam ou durmam adequadamente".
Volkova disse que as audiências duraram até tarde da noite, e as jovens voltaram para suas celas muito tempo depois da meia-noite. Alyokhina se sentiu mal no tribunal na quarta-feira e recebeu tratamento.
"Tem sido muito difícil", disse Stanislav Samutsevich, pai de uma das rés.
"Ela [Samutsevich] parece ter estado em uma longa greve de fome. Eu acho que isso é porque eles têm trazido elas para cá durante dias sem parar, sem alimentá-las de manhã à noite. Eles as levaram à exaustão".
O trio é acusado de vandalismo motivado por ódio religioso e podem pegar até sete anos de prisão.
Caso político
Na abertura do julgamento, na segunda-feira, as jovens disseram que não pretendiam ofender ninguém e que foram motivadas pela raiva contra o apoio declarado a Putin por parte do líder da Igreja Ortodoxa Russa, o Patriarca Kirill, durante a campanha eleitoral presidencial.
"Este é um caso político, e esse é outro sinal de que elas serão condenadas à prisão", disse outro advogado de defesa, Mark Feigin.
Os advogados de defesa dizem que as autoridades querem encerrar rapidamente o julgamento de alto perfil, o que desencadeou um debate sobre os estreitos vínculos entre Igreja e Estado, enquanto a atenção pública está relativamente baixa devido a férias de verão.
Mas o julgamento é descrito pela oposição como parte de uma série de sinais de que Putin, que venceu a eleição em março, está determinado a suprimir a dissidência agora que ele assumiu o cargo.
O Comitê Federal de Investigação disse em um comunicado que, depois de analisar as alegações levantadas contra Gudkov, havia encontrado provas suficientes para continuar a sua investigação.
Ele irá enviar os resultados ao Ministério Público e à Duma, que tem o poder de revogar a imunidade de julgamento de Gudkov como membro do parlamento. Gudkov diz não ter feito nada ilegal.
Navalny foi acusado na terça-feira pela venda de madeira em 2009 na região russa de Kirov, onde ele assessorava o governador na época. Ele nega qualquer irregularidade e diz que as acusações são absurdas.
Os Estados Unidos disseram estar preocupados com as acusações contra Navalny e o Pussy Riot, assim como com as investigações que foram lançadas sobre os participantes de um protesto no dia 6 de maio, no qual a violência eclodiu.
"Todos esses desdobramentos levantam sérias preocupações sobre os processos judiciais de motivação política por parte da oposição russa e sobre a pressão sobre aqueles que expressam pontos de vista divergentes", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Patrick Ventrell, na terça-feira.
O protesto do dia 6 de maio foi realizado um dia antes que Putin começasse o seu novo mandato de seis anos como presidente. Desde então, o Parlamento aprovou uma lei aumentando as multas para manifestantes e apertou os controles sobre grupos de lobby e de campanhas financiados do exterior.
Putin, que repetidamente tem alertado contra o fato de provocar problemas desnecessários em discursos desde a sua eleição, assinou uma lei na segunda-feira endurecendo as punições por difamação e outra lei na terça-feira que os oponentes dizem que pode ser usada para censurar a internet.
Ele não comentou o julgamento do Pussy Riot ou as preocupações dos EUA durante os encontros com soldados paraquedistas na quarta-feira.
O julgamento do Pussy Riot é visto pela oposição como parte da repressão. Embora muitos russos não aprovam o protesto, a maioria não quer uma punição severa para as três jovens.
Em uma pesquisa nacional realizada entre os dias 20 e 23 de julho e publicada na terça-feira, o Centro Levada descobriu que 26% dos russos acreditam que as rés merecem penas de prisão de mais de seis meses.
Um líder local do partido de situação Rússia Unida, da cidade natal de Putin, São Petersburgo, também deu um passo incomum de pedir abertamente a imediata libertação das jovens, em uma carta aberta postada em seu blog.
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Membros do grupo ''Pussy Riot'' ficam ''privadas de sono e comida'' durante julgamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU