19 Julho 2012
O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Leonardo Steiner, afirmou ser a favor de debater o aborto nas eleições municipais deste ano, assim como corrupção, casamento entre gays e outros temas que dizem respeito "ao direito da pessoa humana".
A entrevista é de Fernando Rodrigues e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 19-07-2012.
Mas a recomendação geral da Igreja Católica aos seus fieis nas eleições municipais será "votem em ficha limpa".
Dom Leonardo, 61, é da quarta geração de uma família alemã de Santa Catarina. Bispo há oito anos, assumiu o cargo na CNBB em 2011.
Em entrevista ontem à Folha e ao UOL, ele reclamou do governo da presidente Dilma Rousseff. Afirmou que tem enfrentado dificuldades para atuar em algumas comissões das quais sempre participou - ele não quis individualizar as críticas e também preservou a presidente.
Disse que o governo federal ainda não liberou os recursos para as obras e preparações necessárias na organização e infraestrutura para receber o papa Bento XVI, no Rio, no ano que vem.
A cidade hospedará a Jornada Mundial da Juventude, que deve reunir milhões de pessoas de 23 a 28 de julho.
Sobre a queda do número de católicos no Brasil, o secretário-geral da CNBB disse ter dúvidas sobre a metodologia do IBGE no Censo que apontou uma perda de 1,7 milhão de fieis no período de 2000 a 2010. Disse que o número de sacerdotes católicos subiu de 18 mil para 22 mil.
Eis a entrevista.
Qual é a diretriz da CNBB para as eleições municipais deste ano?
Votem em ficha limpa. Foi uma longa batalha, na qual a CNBB se engajou. Não podemos voltar atrás. Eleições municipais são mais disputadas, mais intensas. Da nossa parte, existe o desejo de darmos uma orientação da boa escolha daqueles que hão de cuidar do município.
Temas nacionais também devem estar presentes, como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Deve fazer parte do debate das eleições municipais sempre aquilo que diz respeito ao direito da pessoa humana. A questão da corrupção, da ficha limpa.
Mas é legítimo um candidato a prefeito apresentar como tema de discussão a liberalização do aborto?
O debate ele tem que ser livre. As pessoas podem e devem ter o direito de expressar suas concepções. Ajuda muito ao eleitor quando ele [candidato] coloca a questão do aborto, a questão da corrupção. Mas não só para angariar voto, mas como uma questão realmente política.
Qual é a posição da Igreja Católica hoje sobre o uso de contraceptivos?
Não se pode sempre usar contraceptivos sem mais e sem menos porque as relações precisam sempre estar abertas à vida. Muitas vezes se quer facilitar o prazer simplesmente pelo prazer. Em relação aos grupos de risco, tem uma declaração do Santo Padre [flexibilizando o uso], colocando a questão da vida humana, da saúde humana.
Como está a relação da Igreja Católica com o atual governo e como foi com os anteriores?
Eu tenho a impressão que os governos têm procurado ouvir. Mas nós sentimos também, não no primeiro escalão, alguma dificuldade de relação.
Que tipo de dificuldade?
Às vezes, a participação nossa nos conselhos [consultivos dos ministérios]. A CNBB participa em diversos conselhos.
Há algum impedimento?
Existe uma espécie de resistência, sim. De que não é muito tarefa religiosa ou uma tarefa da Igreja [opinar] em um ou outro conselho.
O sr. poderia especificar?
Não é muito conveniente.
É governo como um todo?
Não. A interlocução que temos com os ministros tem sido positiva. Nenhum ministro de Estado se recusou a me receber.
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Aborto e casamento gay são temas de eleição, diz CNBB - Instituto Humanitas Unisinos - IHU