19 Julho 2012
Destroem trincheiras, antenas de comunicação e, nessa terça-feira, expulsaram uma centena de militares da base de Berlín. "O principal objetivo é consolidar um território autônomo", assinalou o dirigente aborígine James Yatafué.
A reportagem é de Katalina Vásquez Guzmán, publicada no jornal Página/12, 18-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ao Sul da Colômbia está o Cauca: montanha, coca, guerra, guerrilha, exército, explosivos, "paras" e pessoas, índios e mestiços que sobrevivem a um dos momentos mais duros do conflito armado nessa região, uma das mais abandonadas da país. Depois de algumas semanas de sangue e de cruéis enfrentamentos entre forças públicas e insurgentes, os aborígines tentam, com paus e fúria, expulsar os soldados do seu território. Também os rebeldes, mas não os encontram, explicam suas autoridades.
Destroem trincheiras, antenas de comunicação e nessa terça-feira expulsaram uma centena de militares da base de Berlín. Estão com os guerrilheiros, acusou uma líder indígena local no início do dia. Essa é dos paramilitares, disseram os membros do conselho indígena ao cair da tarde. À noite, quando o sol se escondia por trás dessa cordilheira ocidental, a montanha continuava ardendo.
"Tudo tem um limite. As forças públicas têm a ordem peremptória de não ceder um só centímetro nem no Cauca nem no território nacional", disse, incomodado, nessa terça-feira à noite o chefe de Estado, Juan Manuel Santos, para quem Cauca é assunto prioritário nestes dias. Ele chegou fortemente escoltado a essa província na semana passada, em meio a ataques guerrilheiros a povoados urbanos, a explosão de uma moto-bomba, o sequestro de um helicóptero e vários civis, bombardeios diários, o desaparecimento de um avião da Força Aérea, dezenas de reféns ilegais e o homicídio de uma criança.
A reação da organização indígena, exigindo a retirada dos grupos ilegais e legais pela força é, segundo Santos, "inaceitável (...) acarretam condutas penais que serão investigadas", comentou ele à imprensa, mostrando a sua ira, esclarecendo que as forças militares têm a ordem de permanecer em Cauca. Segundo os índios, o prazo para desocupar as suas terras expirou nessa segunda-feira.
James Yatafué, conselheiro da Associação dos Conselhos Indígenas do Norte de Cauca (ACIN), explica que "o principal objetivo desse processo de resistência indígena é consolidar um território autônomo, com governo próprio e implementar uma proposta de paz". Por sua posição geográfica estratégica – saída para o mar Pacífico, fronteira com o Equador, saída para as planícies orientais e via central para o Andes colombianos – esse foi um território disputado por grupos armados e narcotraficantes. Inclusive se diz que o conflito atual tem a ver com um carregamento de cocaína que não consegue sair da região.
Lá, nos últimos 18 meses, ocorreram 600 incidentes violentos que deixaram cerca de 2.500 vítimas da população civil, e cerca de cem assassinadas, segundo o Conselho Regional Indígena de Cauca (CRIC), o principal promotor das ações para desmilitarizar que ainda não deixam saldos mortais. Esse conselho foi acusado de estar infiltrado pela guerrilha, como afirmou Ana Silvia Secué, dirigente da OPIC. "A OPIC é uma organização paralela (ao CRIC), criada pelo presidente Uribe com paramilitares de Ortega, Cauca, e é ultradireitista. Eles recebem, sim, ajuda das Forças Armadas", afirmou Yatafué à jornalista local Sonia Godoy.
O testemunho de Secué foi divulgado no jornal El Colombiano que, durante a presidência de Uribe, foi um meio abertamente propagandístico desse governo, cuja diretoria recebeu subsídios milionários do Estado nesses anos de forma ilegal. Por isso, as acusações de Secué não tiveram credibilidade. Apesar de tudo, os habitantes de Cauca, os que não são puramente indígenas e habitam cidades como Popayán, manifestaram a sua rejeição aos atos do CRIC. Centenas realizaram uma marcha de protesto em frente à sede do CRIC na capital do Cauca para exigir o fim dos ataques na montanha, pois, além disso, muitos de seus familiares são membros do Exército.
Alguns moradores se manifestaram em desacordo com a saída forçada das forças públicas, porque, explicam, ficariam à mercê da guerrilha, principal grupo ilegal em Cauca. Teme-se que na província vizinha de Putumayo ocorra o mesmo, pois as autoridades do CRIC anunciaram que seu protesto irá continuar pelos povos do Cauca e também de Putumayo. Os governantes pediram a presença do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, da ONU e de agências de cooperação internacional para prevenir eventos fatais, caso o Exército responde com a força aos ataques indígenas.
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Colômbia: índios expulsam soldados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU