Por: Cesar Sanson | 09 Julho 2012
Apesar da grande incidência de luz solar em todo o território brasileiro, uso dessa fonte para eletricidade e aquecimento de água é irrisório. Especialistas dizem que incentivos do governo ainda são insuficientes
A reportagem é de Fernanda Fraga e publicada pela Gazeta do Povo, 08-07-2012.
Aquecedores solares de água em conjunto habitacional de Londrina: país aproveita pouco a luz solar. Foto: Roberto Custódio / Jornal de Londrina
Não falta sol no Brasil, mas o aproveitamento de sua energia é uma possibilidade que ainda desponta muito timidamente no horizonte do país. Na geração de eletricidade, por exemplo, há apenas oito “usinas” solares, nada perto das 985 centrais e usinas hidrelétricas do país. No mercado de aquecimento solar de água, apesar de ocupar a sexta posição do ranking mundial elaborado pela Agência Internacional de Energia, em números absolutos a capacidade brasileira se distancia – e muito – da chinesa, a primeira colocada. Enquanto a China tem capacidade de 117,6 mil megawatts térmicos (MWth, unidade utilizada para medir a potência térmica), o Brasil conta com apenas 4.278 MWth.
“O desenvolvimento de fontes de energia renováveis ocorre de forma mais rápida onde não há outras opções”, explica Lucio Teixeira, diretor de Finanças Corporativas da Ernst & Young Terco. “No Brasil, temos uma oferta muito grande de recursos hídricos, discrepante em relação a outros países. Assim, é natural que se foque nesse tipo de energia”, complementa.
Porém, tão abundante quanto os rios é a presença do sol no país tropical. De acordo com artigo publicado na revista Solar Energy, o local com o pior grau de irradiação no país ainda é 40% superior ao melhor da Alemanha – onde o uso de energia solar é muito mais desenvolvido.
Para desenvolver o mercado, informam os especialistas, ainda faltam incentivos. “Para sermos competitivos, devemos investir em inovação e criar facilidades para pesquisadores e investidores”, analisa Eloy Casagrande Jr., doutor em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente e coordenador do Escritório Verde da UTFPR.
Para Teixeira, três pontos têm de ser considerados para atrair investidores. “O primeiro deles é a tecnologia, que precisa ser disponível. E isso já temos. Depois, é preciso um ambiente de contratação favorável, isto é, o poder público precisa criar mecanismos para incentivar os investimentos – como os leilões do setor elétrico”, continua. Nos últimos meses, o governo aprovou algumas medidas para incentivar o uso de energias renováveis e sistemas de eficiência energética, mas, para o analista, elas ainda não são suficientes. Por fim, Teixeira destaca que a viabilidade econômico-financeira precisa ser encontrada. Para isso, diz, é necessário o desenvolvimento da indústria nacional, já que a compra de equipamentos brasileiros baratearia financiamentos e tornaria o negócio mais atraente aos olhos dos investidores.
Benefícios
Os benefícios do uso da energia solar envolvem aspectos ambientais e econômicos. “Cada metro quadrado de energia solar evita 56 metros quadrados de área inundada por hidrelétrica”, diz Marcelo Mesquita, gestor do Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Dasol), ligado à Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
Usar aquecimento solar em vez de energia elétrica para a água do banho pode levar a uma economia de cerca de 30% na conta de energia elétrica. Um estudo divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) na última terça-feira revela que a energia elétrica solar já é viável para 15% dos lares brasileiros.
Fábrica chinesa quer abrir 5 mil lojas no país
O número é alto: 5 mil lojas no Brasil nos próximos cinco anos. Equivale a quase uma loja por município – o país tem 5.565 cidades. Supera, as mais de 600 lojas que a rede de fast food McDonald’s tem no país e até o número de franquias do Boticário, o maior franqueador do país, com 3.337 unidades.
O plano foi anunciado durante a Rio+20 por Huang Ming, presidente da Himin Solar, gigante chinesa da área de aquecimento solar. A ação é parte da estratégia de popularizar as climate marts, lojas no estilo de franquia que oferecem produtos ligados à energia solar, com objetivo de tornar as tecnologias mais acessíveis. A previsão é de abrir 50 mil lojas em todo o mundo.
A justificativa é “verde”: “Se houver 50 mil climate marts, a energia renovável vai se espalhar mais amplamente, e haverá esperança para a melhora do clima”, disse Ming na conferência. No mercado brasileiro, a Himin já tem uma parceira, a curitibana Nadezhda, empresa recém-criada pelo empresário Fernando Buffa.
O mercado de aquecimento solar no Brasil cresceu a uma média de 15% nos últimos três anos, de acordo com o Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Dasol). Em 2011, movimentou cerca de US$ 500 milhões. “É importante que haja diversidade”, comenta Marcelo Mesquita, gestor do Dasol, sobre a possível vinda da Himin. “O consumidor tem que ter bons produtos e se uma empresa está se propondo a oferecer isso, é bem vinda.”
Mesquita destaca, porém, que é difícil fazer qualquer análise, uma vez que não se sabe se os planos da empresa serão mesmo concretizados. Se isso ocorrer, a franquia chinesa teria mais lojas que o total de empresas de aquecimento solar hoje existentes no Brasil – são cerca de 2 mil.
A Himin Solar foi criada em 1995 e sua fábrica tem mais de 4 mil funcionários. É Huang Ming o idealizador do Solar Valley, maior base de produção de energia solar do mundo, localizado na China. Ele funciona como uma cidade, com hotéis, fábricas, centros de pesquisa e convenções.
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O sol nasce para todos, mas o Brasil não aproveita - Instituto Humanitas Unisinos - IHU