09 Julho 2012
Os índios das terras baixas bolivianas decidiram permanecer em La Paz até que o presidente Evo Morales aceite dialogar com seus dirigentes, ao término de um conselho realizado depois que a polícia lançou jatos de água fria para dispersar uma manifestação de ativistas que tentavam fazer com que os índios chegassem à Praça de Armas da capital.
A reportagem é de Mabel Azcui, publicada no jornal El País, 07-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Grupos de ativistas que apoiam a vigília que os índios instalaram na frente das portas da vice-presidência tentaram ao longo dos últimos dois dias romper o cerco policial que, em 200 metros de raio, mantém inacessível a Praça de Armas, onde se encontra a Casa de Governo e a Assembleia Legislativa, e permitir a passagem da coluna indígena.
As tentativas acabaram mal nas duas ocasiões, pois a polícia disparou gás lacrimogêneo e jatos de água não somente contra os manifestantes, mas também contra os índios, mulheres e crianças que mantinham a vigília dentro de precárias barracas para se proteger do frio e que foram destroçadas pela força da água lançada pelos veículos policiais "Neptuno".
O comandante da polícia, coronel Victor Maldonado, informou a imprensa local que os manifestantes arremeteram contra os efetivos lançando material de construção de um edifício em construção perto do lugar do enfrentamento, causando ferimentos graves a vários policiais e contusões em muitos outros.
Durante o conselho, a Assembleia de La Paceñidad anunciou que planeja uma greve geral na cidade de La Paz na próxima semana, e os representantes dos professores e universitários pediram que a Central Operária Boliviana defina um plano de ação em defesa do Tipnis (Território Indígena da Parte Nacional Isiboro Sécure), sem excluir uma greve em todo o país.
Depois do conselho na Praça de San Francisco, o presidente da subcentral do Território Indígena do Parque Nacional Isiboro Sécure, Fernando Vargas, anunciou que "vamos ficar, sabendo que vamos sofrer muito com o frio ao qual não estamos acostumados". Foi uma decisão muito difícil tomada pelos índios, pois um grupo prefere voltar para o calor do seu território, nas cabeceiras da bacia amazônica, para a facilidade de encontrar peixes e frutas, quase inalcançáveis na cidade, e para a paz do seu ambiente.
Também influencia o desânimo por causa da dura campanha governamental contra os líderes da marcha, que não são reconhecidos pelas autoridades como interlocutores válidos, e sua negativa em dialogar para ganhá-los pelo cansaço.
Os ministros da Presidência e do Interior conseguiram firmar um acordo para que se realize a consulta "prévia" com um grupo de 45 índios. O governo assegurou que os 45 são corregedores de muitas outras comunidades, mas os próprios índios denunciaram que esse grupo foi transladado sob falsos pretextos para La Paz para alcançar esse acordo.
Do mesmo modo, o ministro do Interior, Carlos Romero, conseguiu assinar convênios com algumas das etnias presentes na nona marcha a fim de que retornem aos seus locais de origem. Todas elas pertencem a comunidades indígenas de La Paz que apoiam a causa dos índios do Tipnis.
A coluna de índios de terras chegou a La Paz há oito dias, depois de uma caminhada de 60 dias a partir de Trinidad, para exigir do governo o respeito ao seu território, a rejeição da consulta posterior, que as autoridades programaram efetuar a partir do dia 20 de julho e obter assim o aval a um polêmico e questionado projeto viário que dividirá o Parque Nacional e afetará uma região produtora de oxigênio e de água que alimenta a bacia hídrica do Amazonas. A Confederação Indígena do Oriente Boliviano (CDOB), que agrupa 32 em etnias das terras baixas, tem uma plataforma de nove pontos que espera discutir com o presidente Evo Morales.
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Policía boliviana reprime líderes indígenas em La Paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU