06 Julho 2012
Em vista do cinquentenário da abertura do Concílio, multiplicam-se as publicações, muitas vezes bastante densas e de difícil leitura para as pessoas comuns. Mas, para quem quiser saber o essencial e ainda fruto de uma experiência vivida como "padre conciliar", vem a calhar o livro de Dom Luigi Bettazzi (nascido em 1923, bispo emérito de Ivrea, diocese que governou até 1999: desde então, muito comprometido, graças a uma saúde de ferro, com conferências e viagens de trabalho na Itália e no exterior, e como o autor de inúmeras obras).
A reportagem é de David Gabrielli, publicada na revista Confronti, de julho-agosto de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A primeira ideia do prelado era a de escrever, justamente para os jovens, um "manual" sobre o Vaticano II, mas, especifica ele no prefácio, dando-se conta de que corria o risco de uma rejeição a priori, ampliou o público previsto para o "povo de Deus", dando assim um tom menos "paternalista" ao seu trabalho.
Ele explica, então, o que é, para os católicos, um concílio ecumênico e lembra que, desde o primeiro, de Niceia, em 325, até o Vaticano I (1869-1870), essas assembleias foram 20. E, por fim, relata como e por que João XXIII, no dia 25 de janeiro de 1969, anunciou a sua intenção de convocar um novo concílio, que ele abriu depois no dia 11 de outubro de 1962. Esse concílio foi continuado por Paulo VI, que o concluiu no dia 8 de dezembro de 1965.
No conjunto, o Vaticano II aprovou 16 documentos. Não querendo escrever para especialistas, Bettazzi sobrevoa as sutis perquirições teológicas que acompanharam a aprovação dos textos individuais. No entanto, nas notas, ele oferece interessantes explicações históricas, teológicas e pastorais para entender bem as diferente consequências subjacentes a uma ou outra escolha conciliar.
Anota o autor: "Quando falo de um Concílio para as pessoas de hoje entendo, portanto, o Concílio Vaticano II, e o faço em dois sentidos: o primeira é que o Concílio deve ajudar as pessoas a identificar o significado da sua própria vida e lhe dar a carga para crescer na plenitude de humanidade, contra todas as insídias e as resistências que se sentem dentro e fora de si mesmas; o segundo é que as pessoas (o povo de Deus) são chamadas a identificar as grandes mensagens do Concílio para vivê-las e fazê-las viver, contra todas as resistências e os mal-entendidos que muitas vezes, mesmo dentro da Igreja, somos induzidos a propor para diminuir e frear os seus anúncios e estímulos" (p. 20).
A fim de entender o resultado final dos documentos aprovados, o autor salienta que eles foram o fruto de uma constante dialética entre "as duas almas do Concílio, constituídas por uma maioria dos bispos, sobretudo dos continentes onde o cristianismo é jovem ou se libertou há pouco tempo da velha Europa (penso, por exemplo, na América Latina) e, assim, projetado para o futuro, atento a uma humanidade que aspira à liberdade, e por uma minoria aguerrida (na qual emergia o arcebispo francês Marcel Lefebvre) que se voltava novamente ao passado, à Tradição, isto é, ao que nos foi transmitido do passado como garantias da fé. A Tradição era entendida como um bloco absoluto, que fixa como esculpidas em pedra as fórmulas da própria atitude".
E aqui, a propósito da continuidade/descontinuidade do Vaticano II com relação ao magistério passado – Bento XVI continua afirmando a "continuidade" –, em nota, o autor observa que, "se o Vaticano II conservou a continuidade dogmática porque não definiu novo dogmas, porém, ele suscitou uma inegável descontinuidade pastoral" (pp.21-23).
Adentrando-se, depois, nos vários temas, Bettazzi também percorre velozmente as décadas pós-conciliares, mostrando as suas luzes, mas não escondendo as suas sombras, e lamentando a persistência, em certos ambientes eclesiásticos, de uma interpretação "minimalista" de um evento que, ao contrário, reitera o autor, foi "uma primavera da Igreja".
Por isso, ele espera que todos – incluindo os jovens – "nos tornemos mensageiros e testemunhas das novidades do Concílio, desse extraordinário dom que o Espírito Santo deu à Igreja e à humanidade do nosso tempo, sentindo-nos responsáveis pela eficácia dessa grande mensagem".
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Depois de 50 anos, o Vaticano II ainda é sinal de esperança? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU