Pio XII. O Yad Vashem muda a didascália controvertida

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Por: Jonas | 03 Julho 2012

A didascália controvertida a respeito da foto de Pio XII no Yad Vashem, no novo museu dedicado ao Holocausto, inaugurado em 2005, está mudando. Foi o que antecipou o jornal israelense Haaretz, confirmado pela direção de Yad Vashem.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 01-07-2012. A tradução é do Cepat.

A nova versão da didascália suaviza um pouco a ponderação contida na versão anterior, levando-se em conta as descobertas históricas mais recentes, pelas quais se deduz a complexidade da figura do Papa Pacelli e do apoio que ofereceu, para tantas ações humanitárias, em favor dos judeus perseguidos durante a Segunda Guerra Mundial. A primeira mudança aparece no título: se antes dizia “Pio XII e o Holocausto”, agora se lê: “O Vaticano e o Holocausto”. Entre as mudanças mais significativas está, sobretudo, a supressão de uma frase que dava para a concordata, entre a Santa Sé e a Alemanha de1933, o valor de reconhecimento do “regime nazista e racista”.

Além disso, já não afirma que Pio XII, ao ter se tornado papa, em março de 1939, tenha deixado no esquecimento uma “carta contra o racismo e o antissemitismo preparada por seu predecessor”. É certo que Pacelli não tornou seu, o rascunho de seu predecessor, como é correto que esse texto (ainda cheio do tradicional antijudaísmo católico) poderia obter o efeito contrário ao desejado, tornando compreensível a decisão de Pio XII.

Também a acusação de não ter protestado em público, que na primeira versão era muito mais clara, está mais ponderada. Acrescenta-se, com enorme sentido, a citação do fragmento da radiomensagem, de dezembro de 1942, pela qual o Papa falava do destino de “centenas de milhões de pessoas que, sem culpa alguma, às vezes por razões de nacionalidade ou de estirpe, foram destinadas à morte”. Tratava-se de uma clara referência aos campos de concentração, poucos meses depois de começar a terrível “solução final”, ordenada por Hitler; e a palavra “estirpe” era particularmente significativa e, obviamente, referia-se às perseguições raciais.

O novo texto define como uma “falta moral” a decisão do Pontífice de não denunciar publicamente a deportação dos judeus e seu extermínio, mas agora o texto parece muito mais equilibrado, porque considera as posturas dos críticos que sustentam que, justamente graças a esta conduta, pôde-se realizar “um número considerável de atividades sigilosas de resgate, em diferentes níveis da Igreja”.

O encontro dos “defensores” é uma “verdadeira novidade”, explica Matteo Luigi Napolitano, professor de História das Relações Internacionais na Universidade Marconi de Roma, e autor do livro “Os arquivos do Vaticano: a diplomacia da Igreja, documentos e segredos”, que está para ser publicado. O estudioso destaca, também, que o final da didascália é importante, porque afirma que “enquanto todo o material relevante não estiver à disposição dos estudiosos, este assunto continuará aberto para novas investigações”. É uma referência aos arquivos vaticanos, que ainda não podem ser consultados pelos pesquisadores, referentes ao período de 1939 a 1958 (os anos do pontificado de Pacelli). No Vaticano, estão trabalhando para que estejam disponíveis dentro de um par de anos. “Esta referência implícita, vale para o material vaticano que ainda está fechado – observa Napolitano -, mas também para o resto dos arquivos em todo o mundo, que nem sempre estão acessíveis, inclusive, algumas partes do próprio Yad Vasehm”.

Dan Michman, diretor da Escola Internacional de Estudos sobre o Holocausto de Yad Vashem, declarou ao jornal Haaretz que o texto foi modificado após as recentes pesquisas, depois que o Vaticano permitiu que os estudiosos examinassem os documentos até 1939, assim como as petições dos visitantes do museu. É necessário recordar que, em 2009, o Yad Vashem promoveu uma oficina internacional, a portas fechadas, sobre a pessoa de Pio XII, em que participaram diversos estudiosos de diferentes vertentes, tanto críticos como favoráveis à figura de Pacelli: a publicação das atas é iminente.

O judeu Gary Krupp, presidente da Pawe The Way Foundation, organização que constrói pontes entre as religiões do mundo, e que nos últimos anos tem trabalhado muito para apresentar documentos que demonstrem que o juízo negativo, que se formou a respeito do Pontífice, é errôneo, também expressou sua satisfação.