30 Junho 2012
José Maria Vigil, teólogo espanhol naturalizado nicaraguense e que vive atualmente no Panamá, proferirá a última conferência do XIII Simpósio Internacional IHU. Igreja, Cultura e Sociedade: a semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização tecnocientífica, que ocorrerá de 2 a 5 de outubro de 2012, na Unisinos (São Leopoldo).
A temática dessa conferência será O Concílio Vaticano II 50 anos depois: indicações para uma semântica do mistério da Igreja hoje. Esse evento fará a ponte entre o Simpósio e o Congresso Continental de Teologia, a ser realizado de 7 a 12 de outubro, também na Unisinos, e que terá como um dos temas centrais os 50 anos da inauguração do Concílio Vaticano II, celebrada pelo Papa João XXIII.
A reportagem é de Luís Carlos Dalla Rosa, doutor em teologia.
Vigil, que é padre claretiano, tem formação em Teologia pela Universidad Pontificia de Salamanca. Na Universidade de Santo Tomás de Roma, licenciou-se em Teologia Sistemática. Em Salamanca, Madri e Manágua estudou Psicologia. É doutor em educação pela Universidade La Salle de San José, Costa Rica. Dentre seus livros, destaca-se Teologia do pluralismo religioso. Para uma releitura pluralista do cristianismo (Paulus, 2006). Vigil é o responsável pela Comissão Teológica na América Latina da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT). Também colabora com o sítio Servicios Koinonía.
Em entrevista concedida à revista IHU On-Line, falando sobre sua própria experiência de acompanhamento do Concílio e suas novidades na Igreja, Vigil expressa: “posso dizer que o Concílio Vaticano II faz parte de minha vida pessoal, como um dos acontecimentos que mais profundamente a marcaram. Sou daquela geração que chegou à maioridade da fé com o próprio Concílio. Tivemos a fortuna de ser formados na experiência religiosa anterior, no tempo de Pio XII, quando éramos meninos e adolescentes… Ou seja, pudemos conhecer o cristianismo pré-conciliar, que é quase o mesmo cristianismo medieval... No Concílio, a Igreja mudou em sete anos mais que nos sete últimos séculos. Por isso, para nós, os convencidos da mudança epocal que o Concílio supunha, a sua implementação constituiu-se na nossa tarefa para toda a vida, a nossa vocação. Foi maravilhoso! O acompanhamento do pós-concílio tem sido diferente, doloroso com certeza, mas cheio de esperança. Porque, como disse Neruda, ‘poderão cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera’. Nem o inverno mais longo...”
No artigo O Concílio Vaticano II e sua recepção na América Latina, publicado na Revista Eclesiástica Brasileira (n. 262), Vigil compreende que a recepção do Concílio teve dois momentos: um primeiro pós-concílio que compreende o período de 1965 a 1980, no qual as decisões conciliares foram recepcionadas de forma fiel e criativa, sobretudo na Igreja latino-americana; e um segundo pós-concilio, que se inicia em 1980 e prossegue até hoje, em que há uma ‘involução vaticana e mundial’ e que tem repercussão também na América Latina.
O teólogo entende que as dificuldades que impediram o avanço das decisões conciliares têm origem nos próprios setores conservadores da Cúria vaticana que estiveram presentes no tempo de Paulo VI e que, a partir do papado de João Paulo II, fortaleceram-se. Vigil afirma à IHU On-Line que “os historiadores deverão dizê-lo, mas eu acho que, ao menos em relação dos grandes concílios da Igreja, não houve na história um outro caso de concílio que fosse desfeito pela própria Igreja. Foi o Concílio que suscitou maior e mais entusiasta aceitação da parte do Povo de Deus, e também a maior resistência do próprio povo ao movimento de ‘restauração’, implementado pela hierarquia contra ele. Isso tudo já é história, religiosa e civil, pública e conhecida até pela sociedade civil”.
Tendo presente o atual momento da história da Igreja, Vigil defende que é necessário retomar o Concílio, pois ele “está na fé e no coração de toda uma geração que não pode voltar atrás. O Concílio não foi um livro, nem uma teologia, nem algumas ideias… Foi uma mudança epocal, foi um novo paradigma, uma nova forma de crer, não impulsionada por alguns teólogos ou bispos, mas por um novo Pentecostes… Isso não é reversível. O Concílio, então, está aí: reprimido, esquecido, marginalizado por muitas autoridades, mas está aí nos corações e na fé do povo e de infinidade de agentes de pastoral. Muita hierarquia não quer ver, nem escutar; olha para outro lugar. É uma situação de esquizofrenia na Igreja, que só será superada quando se voltar a reconhecer e acolher o que o Espírito fez pela Igreja no Concílio”.
Defendendo a retomada do Vaticano II, Vigil entende que não há necessidade imediata de um novo concílio. Isso não seria possível, nem conveniente, pois “essa situação de esquizofrenia [na Igreja] continua, e não é um ambiente sadio para fazer um concílio. Sobretudo porque, durante o último quarto de século, os bispos católicos foram eleitos confessadamente conservadores, reservando a representação e o governo da Igreja a só uma mentalidade, excluindo precisamente os cristãos mais representativos do espírito conciliar”.
Desse modo, a partir de um olhar crítico e, ao mesmo tempo, esperançoso, Vigil analisa as possibilidades da Igreja na perspectiva do Concílio Vaticano II, evento eclesial que celebra, em 2012, 50 anos de abertura.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
50 anos depois do Vaticano II. Indicações para uma semântica do mistério da Igreja, segundo José Maria Vigil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU