27 Junho 2012
Um passo importante para a proteção das áreas sem estradas no mundo foi um dos frutos da Cúpula Rio +20. Pela primeira vez, as áreas sem estrada foram mapeadas globalmente e apresentadas ao público. O Relator do Parlamento Europeu para as Florestas, Sr. Kriton Arsenis, a UNEP – United Nations Environment Programme (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), IUCN – International Union for Conservation of Nature (União Internacional para a Conservação da Natureza), a SCB – Society for Conservation Biology (Sociedade para a Conservação da Biologia), o Centro Internacional dos Povos Indígenas para Pesquisas Políticas e Educação, Tebtebba, e a Associação Preserve Amazônia se uniram para organizar um evento destinado a colocar a proteção de áreas sem estradas no centro do debate internacional sobre meio ambiente. Dois mapas interativos do mundo, com as áreas sem estradas remanescentes, foram apresentados pelo Google e pela Agência Europeia do Meio Ambiente. Estes mapas revelam áreas que permanecem isoladas da descontrolada pressão humana exercida pelas estradas sobre os recursos naturais, e pavimentam o caminho para uma ação global de proteção da biodiversidade com custos eficientes e de maneira eficaz.
A reportagem é do sítio Preserve a Amazônia e reproduzida por Amazonia.org.br, 26-06-2012.
Os mapas do Google Earth de áreas sem estradas podem ser encontrados em http://earthengine.google.org/#state=gallery, e os da Eyes on Earth podem ser acessados com login através do link http://bit.ly/L0VMno , na parte mapas da Terra.
Os palestrantes do evento “No Roads to a Green Economy; Mapping the Earth’s Roadless Areas and their Services” (“Sem Estradas para uma Economia Verde – Mapeamento de áreas Sem Estradas da Terra e os seus Serviços”) foram a Sra. Jacqueline McGlade (Diretora Executiva da Agência Europeia de Meio Ambiente), a Sra. Rebecca Moore (Gerente de Engenharia do Google Earth Outreach e do Google Earth Engine), o Sr. Chris Vander Bilcke (Chefe do Gabinete de Ligação do PNUMA para a União Européia), a Sra. Cyriaque Sendashonga (Chefe da Unidade de Política Global da IUCN), a Sra. Mariana Vale (Presidente da filial Latino-Americana da SCB), e o Sr. Marcos Mariani (Presidente da Associação Preserve Amazônia).
Após o lançamento de dois mapas interativos das áreas sem estrada no mundo, o Membro do Parlamento Europeu, Sr. Kriton Arsenis, fez a seguinte declaração: “Agora todos sabemos onde estão as áreas sem estradas remanescentes no mundo. A partir de hoje não temos nenhuma desculpa para não agir. Estes mapas interativos são instrumentos tangíveis nas mãos dos líderes políticos internacionais para o custo eficiente da proteção efetiva da biodiversidade e da prestação de serviços ligados aos ecossistemas, para a proteção dos direitos dos Povos Indígenas e para preparar o caminho para a economia verde”.
A Sra. McGlade, em nome de Agencia Europeia de Meio Ambiente, comentou sobre as próximas etapas da iniciativa “Roadless Areas” (áreas sem estrada): disse que “precisamos fazer mais do que mostrar onde estão as estradas. Temos de ser capazes de criar um entendimento de que como as estradas servem às pessoas, mas também como fragmentam os habitats. Na Eye on Earth (Olho na Terra), o que fazemos é melhorar a compreensão sobre como acontecem estas interações ambientais”.
Rebecca Moore, em nome do Google, salientou que “com a produção deste mapa conceitual como uma prova (usando a tecnologia do Google Earth Engine), qualquer pessoa pode facilmente compreender como realmente sobraram poucas grandes áreas sem estradas na Terra. É impressionante e transmite a importância desta iniciativa política. Estamos ansiosos para continuar esta colaboração e aperfeiçoar o mapa para usos científicos e para formulação de políticas para evolução. Esperamos que possa ajudar a transformar o conceito das “áreas sem estradas” em algo concreto e útil para os políticos tomadores de decisões, cientistas e comunidades em todo o mundo”.
Em nome da IUCN a Sra. Cyrie Sendashonga relacionou as áreas sem estradas às metas Aichi para a diversidade biológica, acordadas em Nagoya (http://www.cbd.int/sp/targets/). Ela afirmou que as “áreas sem estradas” prestam uma importante contribuição para que se alcance o objetivo Aichi n.11, de manter 17% dos ecossistemas terrestres no âmbito de um sistema de áreas protegidas. A UICN está promovendo todos os esforços para atingir este objetivo e estamos desenvolvendo uma série de ferramentas para ajudar neste trabalho, incluindo o conceito de “áreas estratégicas de biodiversidade” para permitir que políticos, tomadores de decisões e gestores de recursos escolham os locais para a criação de zonas de conservação, visando garantir uma ampla proteção de todos os componentes importantes da biodiversidade”.
A Sra. Victoria Tauli-Corpuz, da Tebtebba, expressou a opinião dos povos indígenas através de sua afirmação: “nós, os povos indígenas, também somos diretamente afetadas pelos projetos de estradas, em ambos os sentidos, negativo e positivo. Eu gostaria de reiterar, portanto, que qualquer projeto de infra-estrutura que seja implementado em nossos territórios precisa respeitar nossos direitos sobre as nossas terras, territórios e recursos naturais (Artigo 26 º da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas). Deve-se observar que existem aqueles entre nós que ainda preferem estar voluntáriamente em isolamento, e que o investimento em projetos rodoviários irá violar o direito destes de permanecerem isolados. Neste contexto, é importante lembrar aos estados, empresas privadas e bancos que oferecem empréstimos para tais projetos, que eles não podem simplesmente decidir por um projeto rodoviário nos territórios dos povos indígenas, a menos que sua livre, prévia e cosciente permissão seja obtida. Estudos de impactos sociais, ambientais e humanos devem ser feitos em conjunto conosco, antes da elaboração e da implantação de qualquer projeto de estrada em nossos terrritórios”.
Mariana Vale, da SCB, trouxe exemplos interessantes da Europa a respeito dos impactos das estradas sobre a fauna remanescente, e salientou que “com a rede viária que se estende por quase todos os cantos do planeta, a fragmentação de habitats por causa da infraestruturas de transporte, e o consequente desenvolvimento secundário, é uma das mais sérias ameaças globais à biodiversidade. Grandes blocos de áreas sem estradas são raros no planeta. Eles prestam à sociedade serviços vitais aos ecossistemas, como água limpa, ar puro, proteção contra espécies invasoras, pragas e doenças, e representam um amortecedor contra as alterações climáticas. Vamos proteger essas áreas remanescentes sem estradas “.
Finalizando, Marcos Mariani, da Preserve Amazônia, afirmou que as áreas sem estradas representam um enorme potencial para a economia verde, desde que a biodiversidade e o estoque de carbono nelas existente podem e deverão ser convertidos em recursos valiosos para as populações dos países em desenvolvimento que as possuem, contribuindo para o desenvolvimento sustentável dos mesmos. “A possibilidade e a oportunidade da implementação de mecanismos de desenvolvimento limpo – MDL – e da redução de emissões de gases do efeito estufa utilizando-se projetos de REDD (Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação) deixa clara como é importante preservar intactas as áreas sem estrada, onde o acesso aos recursos naturais e à biodiversidade deve ser visto com todo cuidado. Evitar e restringir nestas áreas a construção de novas rodovias, que representam um enorme e perigoso risco à integridade das mesmas, especialmente na floresta amazônica, é hoje com certeza uma das mais importantes e eficientes ações ambientais a serem realizadas no planeta, tornando menos drásticas as mudanças climáticas e suas terríveis consequências para a humanidade e para todos os demais seres vivos que nele habitam e dele dependem”.
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Rio+20 traz um novo cenário para a proteção global de áreas sem estradas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU