Por: Cesar Sanson | 23 Junho 2012
O Senado paraguaio concluiu nesta sexta-feira o enredo do golpe iniciado no dia anterior e aprovou, por 39 votos a favor e quatro contra, o impeachment do presidente da República, Fernando Lugo.
A reportagem é da Agência Carta Maior, 22-06-2012.
De olho nas eleições de abril de 2013, a oligarquia, a Igreja e a mídia queriam a destituição do Presidente, cuja base de apoio é maior no interior, porém pouco organizada e pobre. A pressa evidenciada no rito sumário do impeachment, questionável até do ponto de vsta jurídico, tinha como objetivo justamente impedir a chegada de caravanas de camponeses a Assunção, onde o Parlamento estava cercado por pouco mais de dois mil manifestantes contrários ao golpe, mas protegido por número equivalente de policiais.
Lugo recebeu a notícia no Palácio de governo. Golpistas ignoraram a pressão internacional: dirigentes da Unasul advertiram pouco antes da votação que o organismo poderá não reconhecer um governo resultante da ruptura democrática agora consumada.
Lugo, um ex-bispo da linha progressista do catolicismo latinoamericano, foi eleito em 2008 pelos extratos mais pobres que formam cerca de 80% da população paraguaia. Ademais de um aparelho de Estado fraco, com receita fiscal inferior a 12% do PIB (35% no Brasil, cerca de 40% na Europa), insuficiente para reverter o estoque de iniquidades de sua base de apoio, Lugo bateu de frente com uma oligarquia poderosa, sedimentada nos 60 anos da ditadura militar que o antecedeu.
Sem orçamento, sua presidência foi marcada por conflitos sociais insolúveis, que o ex-bispo adepto da Teologia da Libertação não reprimia buscando associar as demandas a uma maior organização dos excluídos. Com a proximidade das eleições do próximo ano, a oliarquia paraguaia decidiu implodir esse arranjo e antecipar sua volta ao poder através de um atalho: o impeachment golpista.
O torniquete enfrentado por Lugo, infelizmente, não representa uma exceção no cenário da América Latina. Estado fraco, baixa receita fiscal, urgências sociais explosivas, insuficiente organização popular, elites intransigentes e mídia golpista formam um padrão histórico disseminado. Em versões com pequenos ajustes locais,repete-se na Bolívia, Guatemala, Honduras, Peru, El Salvador, Equador etc. Não por acaso, ao ser informado do andamento do golpe em marcha contra Lugo, Rafael Correa, Presidente do Equador reagiu: " Se for bem sucedido abre um precedente perigoso".
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Consumado o golpe: Senado destitui Lugo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU