15 Junho 2012
Os gastos a serem dispendidos pelo governo brasileiro na realização da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, a Rio+20, podem somar R$ 575 milhões, conforme levantamento feito pelo Valor.
A reportagem é de Francisco Góes, Vera Saavedra Durão e Guilherme Serodio e publicada pelo jornal Valor, 15-06-2012.
Desse total, R$ 430 milhões são oriundos de um crédito especial no Orçamento da União aprovado pelo Congresso e os restantes R$ 145 milhões vieram do caixa de empresas patrocinadoras, como Petrobras, Eletrobras e Vale.
Esse modelo de financiamento oficial tem gerado um certo desconforto da parte da ONU por envolver empresas, o que não é regra, mas exceção nesses eventos organizados pela instituição multilateral, em geral bancados totalmente pelos governos locais.
Alguns participantes da Rio+20 interpretam como decisão política a escolha de estatais e de empresas privadas com influência do governo, para ajudar a compor o orçamento da Rio+20. Entretanto, o Comitê Nacional de Organização (CNO) da conferência informou que foi feita "uma chamada pública" às empresas. As companhias interessadas se apresentaram.
A ideia de complementar recursos com patrocínio empresarial teve dois objetivos, segundo o CNO. O primeiro foi do complemento financeiro para realizar o evento e, o outro ponto, partiu de uma iniciativa do governo para comprometer as empresas com a proposta da conferência de mudar os padrões de produção e consumo com vistas a um desenvolvimento sustentável do país.
A conferência gasta principalmente com instalações, segurança, logística, hotéis e transporte, dentre outros itens. Do total do dinheiro oficial, pouco mais de R$ 200 milhões destinam-se à segurança, a cargo do Ministério da Defesa, e o restante vai para o CNO. Até o momento, o CNO empenhou 93% dos recursos que lhe cabem, algo como R$ 186 milhões.
A captação do lado das 13 patrocinadoras envolve contribuições em dinheiro e, em alguns casos, em produtos e serviços. Só as quatro patrocinadoras principais, chamadas de parceiras oficiais - Petrobras, Eletrobras, Vale e Sebrae - colocaram cada uma expressivos R$ 20 milhões no evento. Na categoria da parceria denominada Diamante, Banco do Brasil e Caixa desembolsaram R$ 10 milhões, cada.
Uma fonte das Nações Unidas ouvida pelo Valor disse que a ONU, apesar de não ter gostado da iniciativa de pedir dinheiro às empresas privadas, tomou a decisão de aceitar o que o governo brasileiro estava fazendo.
Mas escolha da Vale, uma mineradora, no rol dos grandes patrocinadores, foi mal recebida por ambientalistas. Eles consideram que a participação de uma mineradora para patrocinar um evento sobre desenvolvimento sustentável foi "um tiro no pé".
No Riocentro, onde se realizam as negociações da Rio+20, a presença de marcas dos patrocinadores nos pavilhões por onde circulam diplomatas, representantes de organizações não-governamentais, cientistas, estudantes e empresários é muito discreta, quase subliminar.
Um exemplo, é o kit de sacolas plásticas feitas com o plástico verde da petroquímica Braskem, da Odebrecht, que será distribuído pelos 5.000 participantes da conferência. Dentro da sacola estão produtos de outros patrocinadores, como Natura e Vale.
Só na praça de alimentação, instalada em um dos pavilhões do Riocentro, os fornecedores expõem as suas marcas. Elas aparecem com mais destaque especialmente em eventos paralelos, como os realizados no Parque dos Atletas.
A Vale, procurada pelo Valor, informou que participa da Rio+20 com o objetivo de contribuir para que o evento tenha uma visibilidade para a sociedade como um todo. E destaca um exemplo da atuação no sentido de preservar o meio ambiente e a preservação da Floresta Nacional de Carajás. "Preservamos 97% dos 400 mil hectares e atuamos na mineração em apenas 3%."
A Rio+20 surgiu de uma iniciativa do ex-presidente Lula.
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Patrocínio de empresas não agrada à ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU