12 Junho 2012
"Nas últimas décadas não apenas o mercado financeiro vem se modificando, de forma a se tornar determinante para a manutenção dos poderes constituídos, mas também todos que se envolvem sofreram ou estão sofrendo mudanças", escreve o Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Globalização Transnacional e da Cultura do Capitalismo (NIEG).
Eis o artigo.
Nas últimas décadas não apenas o mercado financeiro vem se modificando, de forma a se tornar determinante para a manutenção dos poderes constituídos, mas também todos que se envolvem sofreram ou estão sofrendo mudanças. É como uma bomba lançada a algum lugar, nunca se atinge apenas o alvo, estilhaços voam e espalham-se, alcançando a todos. Mudanças ocorrem o tempo todo, contudo, a mudança que abordaremos aqui será a de transformação do perfil do profissional que atua nessa área especialmente a partir da década de 1980 e que responde por parte do que ocorreu com a economia mundial de lá até aqui.
Até os anos 1970 – num forte reflexo das oligarquias, que existem antes mesmo do capitalismo – famílias ricas e influentes que dominavam a economia de determinando lugar, arranjam entre si casamentos, de forma a fortalecerem seu poder e dar continuidade à manutenção do poder dentre poucas famílias. Era, e ainda é, comum também fazerem casamentos entre primos, sempre visando o futuro econômico e estabilidade da família e dos negócios.
Assim, os homens dessas famílias dominam a economia onde vivem, passando de pai para filho essa herança tanto física quanto abstrata, que carregam consigo desde que nascem, também de casamentos forjados pelo fogo capitalista, até o momento em que dão continuidade a essa linhagem.
O jogo que estabeleciam realmente era muito bom. Famílias que se aproveitavam dos casamentos para reforçar os laços entre grandes potências econômicas, por anos dominaram e constituíram a mais alta elite em diversos países, como é o caso de Portugal e da Grécia, onde poucos grupos/famílias controlam a economia a e a política.
Vamos tratar então da “força de trabalho” que faz movimentar o capital financeiro. Situemo-nos no tempo e no espaço. Anos 80, estamos em Wall Street, o coração do distrito financeiro nova-iorquino, onde o dinheiro nunca dorme e as pessoas vivem para alimentar essa “insônia” monetária. Surge então uma nova “raça” de aprendizes das finanças, que vem para desmoralizar e derrubar toda a história das influentes famílias da economia, o grupo de mentores e seletos escolhidos para atuar nos agentes financeiros.
O perfil é modificado justamente no período em que os mercados ganham mais liberdade para atuar, principalmente após as eleições de Reagan (Estados Unidos) e Thatcher (Reino Unido). Já não importa mais se o jovem é o primogênito de uma longa linhagem de grandes nomes da economia, ou graduou-se nas melhores universidades dos Estados Unidos, o que vai estabelecer quem fica são as capacidades instintivas e destemidas de visualizar uma boa oportunidade, e arriscar, investir, não deixar passar uma excelente oportunidade para acumular dinheiro.
Outro fator que se tornando determinante para quem irá se aventurar neste jogo de milhões, é se o jovem fez um MBA (título de Masters of Business Administration) outorgado por escolas de administração. Isso os coloca à frente de outros possíveis interessados em atuar nesse ramo.
Para os grandes nomes que lidavam e dominavam a economia nessa época, foi algo aterrorizante. Jovens recrutados pelo sonho de vencer e sem medo de arriscar colocavam em risco toda uma estrutura construída ao longo de muito tempo, estabelecida através de ligações familiares, sempre visando à fortificação de seus negócios. Isso desencadeou uma corrida desenfreada de maneira a continuar no domínio do poder financeiro, o que trouxe à tona diversos delitos realizados por estes “trabalhadores” principalmente por serem especialistas em como “jogar”, mas não entenderam nada sobre as regulações e limites impostos ao mercado, o que ocasionou já neste período a falência de alguns bancos e algumas acusações de fraude e corrupção – com direito a suicídio de certos envolvidos.
Essa nova ordem de profissionais que desde então passou a atuar no mercado financeiro é formada por jovens graduados nas mais diferentes áreas do conhecimento. A maioria gosta da sua formação “original”, mas ao ter contato com o mundo dos negócios reconhecem o quão gratificante (no sentido literal da palavra) pode ser essa investida. Muitos buscam o mercado financeiro como uma oportunidade de conseguir juntar dinheiro e constituir realizações pessoais futuramente, mas acaba se tornando algo tão grande, fazendo com que esse simples jovem graduado passe a ter visibilidade e poder financeiro, que fica difícil de sair. Desta forma, há cada vez mais a inserção de aprendizes nessa área, que cativa capitalistamente seus envolvidos e torna-os mantenedores dessa rede monetária de intrigas, derrotas e vitórias.
Nota: Como participar: as pessoas interessadas em participar do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Globalização Transnacional e da Cultura do Capitalismo (NIEG) podem nos encontrar todas as 5as, a partir das 18 horas, na sala do Grupo de Pesquisa Cepos (ao qual o Núcleo pertence), 3ª 318, 3º andar do centro 3 (prédio A), ciências da comunicação, Unisinos. O telefone de contato é o geral da Unisinos (51 3591 1122) no ramal 1320, pedindo para falar com Bruno, Anderson, Ivan ou Dijair, sempre a partir das 14 horas (2ª a 6ª). Ressaltamos que todos os textos desta coluna são de autoria coletiva, sendo responsabilidade do conjunto dos membros do NIEG-CEPOS. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. – www.grupocepos.net
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Mutação econômica e da “força de trabalho” do capital financeiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU