Por: Cesar Sanson | 11 Junho 2012
Capital espanhola expõe retrato desolador da situação do país, com um em cada quatro trabalhadores desempregado.
A reportagem é de Giles Tremlett publicada pelo Guardian e reproduzida pelo jornal Folha de S. Paulo, 10-06-2012.
A mulher por trás da caixa registradora e a freguesa da padaria Valpán, em Madri, conversavam sobre a vida difícil em um país que, na iminência do resgate aos seus bancos, tinha se tornado a bola da vez na interminável crise da dívida europeia. "Este é o único dia da semana em que eu tenho folga", disse a freguesa, uma garçonete. "Uma amiga conseguiu o mesmo tipo de emprego, mas só no verão, seis dias por semana e em turnos de oito horas que viram nove, sem direito a hora extra".
"Mas ela não reclama. Afinal, conseguiu um trabalho", acrescentou a garçonete. "É igual aqui. Eles cortaram salários", respondeu um funcionário da padaria. "Passou da hora de reagirem a isso." Mas, enquanto os ministros de Finanças da eurozona debatiam as condições a impor para que a Espanha receba € 100 bilhões para salvar seus bancos, o futuro dos espanhóis no curto prazo parecia ainda mais desolador.
A austeridade já atinge duramente um país antes conhecido por estar entre os maiores entusiastas da união do continente. O desemprego, que hoje afeta um a cada quatro trabalhadores espanhóis, deve se manter nesse patamar até o próximo ano.
Na capital da Espanha, predominantemente conservadora, o clima é mais de resignação que de revolta. Perto da padaria, um adolescente que trabalha no mercado de frutas dá seu veredicto: "Não entendo bem o que aconteceu, mas acho que algumas pessoas estavam vivendo como reis - e todos os outros, nós, como idiotas".
Não deve haver tão cedo em Madri protestos à moda de Atenas; fotógrafos à procura de imagens dramáticas estão indo para Barcelona, onde esquerdistas radicais acusam a polícia de perseguição e os policiais dizem que prendem apenas os responsáveis por atos de violência. O resgate expõe completamente as raízes do problema do setor bancário espanhol: uma década de boom imobiliário, fomentado por dinheiro barato (com juro baixo, graças à Alemanha), inundou os bancos de créditos podres.
Os espanhóis continuam pagando hipotecas e recorrendo à família quando não conseguem quitar contas. Quem cavou o buraco foram imobiliárias e especuladores de terras, junto com os altos funcionários dos bancos que concederam os empréstimos.
Há quem acredite, porém, que a população às vezes gastou irresponsavelmente na era do crédito fácil. "Todo o país extrapolou - sindicatos, executivos, banqueiros e políticos. O que precisamos agora é voltar ao trabalho", diz Juan Roig, dono da rede de supermercados Mercadona.
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Em Madri, revolta dá lugar à resignação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU