Por: Jonas | 08 Junho 2012
Apresentaremos, primeiramente, o artigo com as acusações do jornalista Ricardo Puentes e, em seguida, a resposta do padre Francisco de Roux, provincial jesuíta.
O artigo com as acusações de Ricardo Puentes (foto) está publicado no sítio Periodismo sin Fronteras, 27-05-2012. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Francisco de Roux, um padre guerrilheiro?
Não é segredo para ninguém a luxuriosa ambição dos jesuítas, manifestada ao longo de sua história em todos os países que tiveram o azar de abrir-lhes as suas portas. São famosas as Reduções Guaranis, do Paraguai, em que escravizaram e atormentaram os indígenas, assim como hoje são célebres suas “repúblicas independentes”, onde fazem o mesmo com nativos e negros, permitindo – ao mesmo tempo – que estes “territórios livres” (é assim que os chamam) sirvam de espaço e refúgio para todo tipo de grupos narcoterroristas guerrilheiros, uma vez que aí, por lei, nem o exército, nem a polícia podem entrar.
Os jesuítas chegaram à atual Colômbia e seduziram as viúvas ricas para que lhes doassem suas riquezas sob o pretexto de ajudar na obra do Senhor e evitar o fogo abrasador do inferno. Pouco a pouco, infiltraram-se na vida dos governantes, tornando-se seus conselheiros e confessores, dando-lhes grande poder sobre os destinos deste país.
Eles não vão até os necessitados, mas onde estão os mais ricos, para enganá-los. Por isso, os jesuítas colombianos sempre estiveram por trás das desapropriações de terras do sul de Bolívar e Urabá. São seduzidos pela enorme riqueza mineral e pelo seu imenso potencial agrícola.
O interesse que sentem pelos camponeses é falso. Seu maior desejo é apoderar-se de suas terras. Por isso, estes padres sempre tentaram impor aos camponeses as guerrilhas do ELN (Exército de Libertação Nacional) e das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupos em que operam. E quando os camponeses se negam a se sujeitar aos narcoguerrilheiros, são acusados pelos sacerdotes de serem paramilitares, tornando-os, automaticamente, alvos de guerra da narcosubversão. Como no caso dos 11 camponeses, de San Pablo, que sofreram uma horrorosa e tortuosa morte nas mãos do ELN, depois que o Alto Comissário para a Paz, Camilo Gómez Alzate – contato de Francisco de Roux –, os qualificara como paramilitares.
É necessário relembrar, também, que Francisco de Roux, jesuíta da Teologia da Libertação, criou a ONG “Programa de Desenvolvimento e Paz para o Magdalena Medio”, para obrigar os camponeses do sul de Bolívar a entregarem suas terras ao ELN. Essa ONG foi proposta pelo sindicato da Ecopetrol (Empresa Colombiana de Petróleos), o USO, controlado pelo ELN. Ali, o padre recebeu 300 milhões de dólares do Plano Colômbia para administrá-los a seu capricho. Dinheiro que – dizem alguns investigadores – “foi distribuído entre seus amigos do ELN e das FARC”.
Da mesma forma, lembramos que associações de camponeses, como a “Associação Civil para a Paz da Colômbia”, em 2001, enviaram uma carta ao governo dizendo claramente que: “como moradores do sul de Bolívar e atingidos por este conflito, rejeitamos a intervenção dos senhores Francisco de Roux, Jaime Prieto e Francisco Campos, padres da Igreja católica da diocese de Barrancabermeja, que defendem outros interesses, menos os de nossas comunidades.” Estes “outros interesses” eram, certamente, os da guerrilha do ELN e os deles mesmos.
O perspicaz jornalista Manuel Vicente Peña (q.e.p.d.) dizia, com muito acerto, que estes padres jesuítas eram “capitalistas quando cobram as mensalidades na [Universidade] Javeriana e comunistas quando posam de revolucionários com seu Cinep”.
A propósito, é bom trazer à memória que o Cinep (Centro de Pesquisa para a Educação Popular) nasceu da mudança de nome dado ao CIAS (Centro de Investigação e Ação Social), uma entidade criada por um grupo de sacerdotes de esquerda ligados à Teologia da Libertação, cujo verdadeiro objetivo era documentar e legitimar a tese do grupo Golconda e do ELN. De Roux foi diretor do Cinep.
Nas páginas de “Cem dias vistos pelo Cinep”, esta obscura entidade que colocou as lápides em vários militares. Como fez no caso do coronel Luis Eduardo Bohórquez Montoya, assassinado em Bogotá, no dia 24 de junho de 1991, quando estava na companhia de seu filho, de 10 anos de idade. Há dois anos, o Cinep tinha dedicado vários parágrafos, em especial um artigo em que satanizou o coronel Bohórquez, porque disse: “sou um fanático do Não à Subversão”. Este artigo surgiu como um favor para o então promotor Alfonso Gómez Méndez e o seu vice-promotor Jaime Córdoba Triviño que, junto com o Cinep, compartilham o ódio às forças militares. O Cinep sempre se caracterizou pela perseguição aos militares mais efetivos na luta contra o narcotráfico e a guerrilha. Todo o ódio de De Roux pelas forças militares foi condensado no Cinep, organismo a que pertenceu.
Ele usou seu enorme poder para convencer seus amigos a lhe conceder o Prêmio Nacional da Paz, e para que um ex-presidente francês lhe desse a medalha da Legião de Honra. Algo muito estranho porque foi De Roux que protegeu os assassinos do ex-presidente Rafael Pardos Buelvas, assassinado no banheiro de sua casa, em 1978. Os guerrilheiros responsáveis pelo crime foram liderados por Alfredo Camelo, membro da JUCO (Juventude Comunista Colombiana), companheiro de Cano e de Lisandro Duque, e que era membro ativo do Cinep. Eles se esconderam na sede do Cinep, enquanto os jesuítas Jorge Arango e Luis Alberto Restrepo, sob as ordens de De Roux, os ajudaram a fugir para Medellín, burlando a justiça colombiana. Quem nos conta também isso é Manuel Vicente.
A ligação de De Roux com a subversão sempre foi evidente. Em 1990, presidiu a missa de Bernardo Jaramillo Ossa, acusado por membros da guerrilha de ser um líder na obscuridade, e de ter recebido dinheiro de vários sequestros. Ele também passou a noite toda no velório do guerrilheiro Carlos Pizarro Leongómez, de quem também foi professor na Universidade Javeriana. Depois, ficou exilado na Europa durante três meses. E nem há o que dizer do seu irmão, Carlos Vicente de Roux, vereador em Bogotá, pertencente ao M-19 (Movimento 19 de Abril) e membro do grupo de guerrilheiros anistiados e do atual prefeito de Bogotá, Gustavo Petro.
Recentemente ficamos sabendo que Francisco de Roux, o provincial jesuíta, estava envolvido na fraude, na tentativa de desapropriação de Las Pavas.
A fraude de Las Pavas se resume assim: Um grupo de salafrários, animados – segundo acreditamos – por um senhor de nome Rafael de Jesús Cárcamo García, e assessorado por De Roux, que colocou à disposição do empreendimento criminoso o Escritório Jurídico da Universidade Javeriana, e contatou as ONGs Christian Aids, Swiss Aids e outras, para se reunirem para conspirar sobre como desapropriar os donos da fazenda de Las Pavas, inventando a artimanha de uma suposta expulsão. Iván Cepeda participa do complô. Reúnem alguns camponeses, dentre os quais se encontra Misael Payares – que nem sequer camponês é, mas pedreiro – e montam a história de que foram expulsos pelos atuais donos de Las Pavas. A Javeriana acompanhou-os nesse caso, em todo o processo criminoso descoberto mais tarde, e que nós denunciamos a partir das páginas do Periodismo Sin Fronteras.
Por isso, para nós, foi de grande surpresa quando descobrimos que a pessoa que supostamente estava próxima do padre De Roux, nesta farsa, acaba de denunciá-lo à Promotoria pelos gravíssimos casos de desapropriação de terras, por ser membro das guerrilhas e por ser uma espécie de testa de ferro de Javier Montañez (cujo apelido é Macaco), o poderosíssimo comandante do Bloco Central Bolívar, a maior estrutura paramilitar da Colômbia.
Rafael Cárcamo nega ter participado desta tentativa de desapropriação, e acusa De Roux de estar explorando terras que foram tiradas por Macaco de humildes camponeses, sob ameaças; terras que o Programa de Justiça e Paz entregou ao padre De Roux para que ele as explorasse com um megaprojeto de Palma; terras em relação às quais o Incoder (Instituto Colombiano de Desenvolvimento Rural) fecha os olhos; terras que o padre jesuíta se nega a devolver para seus legítimos donos; terras que este governo também se nega a devolver para estes humildes camponeses, que hoje vivem praticamente na indigência.
Rafael Cárcamo disse o seguinte sobre o padre De Roux: “Solicito a este escritório investigar a conduta do padre Francisco de Roux, já que na minha permanência nessa região, há anos, conheci Francisco como mediador político e social da guerrilha dos Elenos e das FARC nessa região do sul de Bolívar, e me consta que todos os sequestros de pecuaristas ou empresários, cometidos por estes grupos nessa época, eram do seu conhecimento, que possuía acesso aos locais em que se encontravam os sequestrados. [...] Francisco era o mediador da guerrilha”.
Ele também acusa Bruno Moro, coordenador residente dos escritórios da ONU na Colômbia, de tentar suborná-lo para que não contasse a verdade sobre o ocorrido em Las Pavas, oferecendo-lhe a oportunidade de trabalhar em outros países com a ONU, ou com outras entidades internacionais, com um salário acima de 10.000 dólares ao mês.
Cárcamo segue dizendo que “o perigo que o padre Francisco de Roux representa na região de Magdalena Medio e no país como um todo, que utiliza o lado religioso para ser mediador político e social da guerrilha nessa região do país, e como é um personagem nacionalmente conhecido com influências nos setores religiosos e políticos do país, utiliza sua batina para obter certos meios ou fins como membro dessas guerrilhas, utilizando como fachada seu processo social através do Programa de Desenvolvimento e Paz de Magdalena Medio. Sua autoridade é tamanha que, diante dos dirigentes militares e políticos, os chefes guerrilheiros, para saírem da região ou do país, têm nele o seu salvo-conduto”.
E termina dizendo: “Sinto muito medo ao dizer a verdade sobre Francisco de Roux, porque ele é uma pessoa muito influente no país. Tanto é assim que a notícia da falsa expulsão saiu nos primeiros dias do mês de dezembro de 2011, e no domingo (08/12), dia da Imaculada Conceição, a promotora Viviane Morales, por solicitação do próprio Francisco, viajou com uma equipe até Las Pavas para investigar estes fatos”.
Nesse pé estão as coisas. Um padre jesuíta, nada menos que o provincial dessa Ordem, está sendo acusado de pertencer às guerrilhas, de assessorá-las, de ser testa de ferro de paramilitares, de querer roubar as terras dos camponeses e industriais do campo, e de ser a causa da expulsão, entre outras coisas.
Por outro lado, também é de suma gravidade a acusação que se faz contra Bruno Moro, o representante da ONU na Colômbia, que tentou subornar Cárcamo para que ficasse em silêncio, em claríssima cumplicidade com o provincial jesuíta. E temos também este governo, igualmente cúmplice desta desapropriação criminosa que ocorre diante dos olhos incrédulos da opinião pública.
Nós entendemos o medo de Rafael Cárcamo ao se atrever a fazer estas denúncias. Por trás de tudo isso estão os mesmos que praticam atentados com a tecnologia e a crueldade do ETA. Que Deus o proteja. E que também proteja o país destes escribas do demônio.
A carta do Provincial da Companhia de Jesus em resposta ao artigo de Ricardo Puentes Melo, apresentado acima, está publicada no sítio Amar y Servir, 01-06-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a carta.
Senhor Ricardo Puentes,
sou Francisco de Roux (foto). Nem você, nem o senhor Cárcamo devem me temer. Não tenho armas e não tenho amigos guerrilheiros, nem paramilitares, embora conheça vários deles. Considero que a guerra das FARC e a guerra do ELN são uma injustiça com o povo colombiano. Igualmente, considero que a guerra dos paramilitares é uma injustiça para com o povo colombiano. Respeito o Exército e a Polícia da Colômbia e não quero vê-los nessa guerra. Jamais convidei alguém para que pegasse em armas contra o Estado. Devido à minha vocação jesuíta, sempre uno a fé em Jesus com a causa da justiça. Por essa mesma razão, não aceito que se tenha que matar, ou sequestrar, ou intimidar, ou excluir ou desprezar alguém. A guerrilha e os paramilitares sabem o que penso. Eu lhes disse muitas vezes nos 13 anos que passei em Magdalena Medio que: “não reconheço a autoridade de vocês (guerrilheiros ou paramilitares), vocês são ilegais, eu sou um cidadão colombiano legal e só aceito a autoridade do nosso Estado, por isso exijo os direitos humanos dessas instituições legais que reconheço”. Trabalhei com esses princípios e com a convicção de que a minha fé me leva a lutar pela dignidade humana de todos e de todas.
Foram assassinadas por paramilitares e por guerrilheiros 31 pessoas dos projetos que fizemos; eram mulheres e homens que compartilhavam este espírito. Porém, continuamos convencidos de que é possível a paz e a convivência, construídas na verdade e no respeito às diferenças, na justiça, sem a violência contra o ser humano. Estive várias vezes nas montanhas de Magdalena Medio, com a autorização do presidente da República, para fazer Conversas Pastorais em busca da paz nas comunidades, para proteger a vida das pessoas, para fazer isso chegar à consciência dos homens que fizeram massacres ou sequestros. Nunca fiz a “negociação” de um sequestro; o que fiz foi exigir a libertação incondicional dos detidos por sequestro, o que considero um crime horroroso.
Carlos Pizarro era aluno da Universidade Javeriana, em 1969, quando eu ensinei Filosofia do Direito. Ele não participou das minhas aulas, mas participava de um grupo muito inteligente de jovens inquietos, no qual discutíamos problemas da Colômbia e do mundo. Era o tempo do movimento estudantil mundial. Lembro que na minha aula participava também o filho de Álvaro Gómez Hurtado e pessoas que depois foram muito importantes nos negócios, na justiça e na política. Sempre considerei um erro o fato de Carlos Pizarro pegar em armas.
Os jesuítas do Cinep provaram juridicamente que não tiveram nada a ver com o espantoso assassinato de Pardo Buelvas, com fatos muito dolorosos para o próprio Cinep, enganado por um garoto da extrema esquerda. Isto aconteceu em 1978, quando eu estava estudando na Europa. Depois de dez anos, fui diretor do Cinep, a partir de 1988. Estando neste cargo, quando Carlos Pizarro estava concluindo as conversas com o governo, em fins de 1989, eu subi à montanha de Cauca para dizer a ele e seus companheiros que parassem a guerra, que era difícil construir a paz e a justiça, mas que era o que lhes permitiria trabalhar democraticamente e tornar viáveis as mudanças de que o país necessitava. Eles confiaram nas instituições colombianas. Carlos confiou e tomou o caminho da paz. Doeu-me o assassinato de Carlos quando ele tinha confiado nas instituições e, por isso, o acompanhei na noite do seu velório.
É verdade que presidi a missa de Bernardo Jaramillo Ossa, que foi assassinado após declarar sua rejeição à luta armada e tomar a decisão de se separar da “combinação de todas as formas de luta”; assunto sobre o qual conversei longamente com ele.
Nunca tirei um metro de terra de alguém, nem tampouco meus companheiros jesuítas fazem isso. Não convidei os advogados da Javeriana para defender os camponeses de Las Pavas. Senti alegria em saber que eles estavam participando desse caso, de forma totalmente desinteressada, para ajudar os camponeses. Eu conheci o caso de Las Pavas no ano passado (2011), quando acompanhei três deles que vieram falar no Tribunal Constitucional. Interessa-me que aconteça a justiça neste caso, como em todos os casos em que vejo camponeses pobres reclamando por seus direitos. Não sou ingênuo juridicamente. Sei que neste país os direitos de propriedade sobre a terra são complexos. Não pretendo que os pobres, por serem pobres, tenham razão, mas, nestes casos, é meu dever de cristão apoiar juridicamente os pobres. Os empresários têm dinheiro para defender seus direitos, os pobres não. Atenho-me às decisões da justiça.
Meu irmão Carlos Vicente, a quem você se refere, adentrou-se na política porque nossos pais nos apaixonaram pela justiça e pela verdade. Essa tem sido sua luta e nisso é um homem íntegro, que jamais apoiou a violência nem a corrupção para buscar a equidade entre os colombianos. Você disse que sou acusado de ser guerrilheiro e, ao mesmo tempo, de testa de ferro dos paramilitares e do Macaco, e você sabe que entre o Macaco, dono do Bloco Central Bolívar, e as FARC e o ELN a guerra foi às raias da morte. Esse é o drama pelo qual tratamos de trabalhar pela paz, sem odiar ninguém.
Somos acusados de estar nos dois lados. Causa-me muita dor o fato de que nos deduremos uns aos outros e que pensemos que os outros são uma ameaça para nós. Quero entender o artigo em que publicamente me questiona como guerrilheiro e como alguém perigoso, como um convite para o diálogo, porque você é um jornalista. O seu é um convite duro com todos os termos que usa contra mim. Aceito esse convite. Diga-me onde posso encontrá-lo, para ir sozinho; e, por favor, lhe peço que não continue pensando que eu vou causar dano à sua integridade ou contra a integridade do senhor Cárcamo.
Francisco de Roux, SJ.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Colômbia. A resposta do Provincial Jesuíta às falsas acusações sobre a sua conduta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU