Anátemas não, mas sim encorajamento às famílias: eis o verdadeiro Ratzinger

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04 Junho 2012

Um milhão de pessoas na manhã deste domingo se reuniram em torno de Bento XVI para a missa que concluiu o VII Encontro Mundial das Famílias, evento que se celebrou em um momento particularmente difícil para a Santa Sé e para a "família" pontifícia em particular, por causa do Vatileaks e da investigação que levou para trás das grades o ajudante de quarto do papa, Paolo Gabriele.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 03-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Disse-se e escreveu-se que o afeto dos fiéis provenientes de 153 países, muito comportados durante a grande liturgia no Parque de Bresso, mas também cheios de calor nos momentos de festa, consolou e apoiou o papa nesse momento difícil. A realidade que se viu nos três dias da visita a Milão é que Bento XVI encorajou e apoiou não "a família normal", mas sim as famílias concretas, de carne e osso, que de todas as partes do mundo aceitaram o seu convite. Ele encorajou e apoiou as experiências positivas já em curso.

Um primeiro dado, que surpreendeu mais do que qualquer outro, foi a capacidade de Ratzinger de resistir ao cansaço. Em particular, no sábado à noite, durante a Festa das Famílias, quando o papa – que dá o melhor de si com relação à eficácia e à capacidade comunicativas – respondeu de improviso às perguntas que lhe foram colocadas. Perguntas que se conhecia antecipadamente, é claro, mas às quais ele respondeu com concisão e precisão.

Paradoxalmente, justamente no evento público com menos políticos presentes na primeira fila, quando o sol já havia se posto no Parque de Bresso, o papa disse a frase mais bonita sobre os políticos: "Parece-me que deveria crescer o senso da responsabilidade em todos os partidos, que não prometam coisas que não possam realizar, que não busquem apenas votos para si mesmos, mas sejam responsáveis pelo bem de todos e que se entenda que a política também é sempre responsabilidade humana, moral diante de Deus e das pessoas".

Um segundo elementos diz respeito ao registro que o papa escolheu para as mensagens dadas nestes dias. Era possível esperar anátemas contra as "ameaças" que minam a família, porém, apesar de certos títulos repetidos sobre "aborto", "eutanásia" e "casais de fato", Bento XVI falou por três dias de família e de famílias sem nunca pronunciar essas palavras. Ele falou sempre de forma positiva, encorajando.

E mostrou também qual é e qual deve ser a contribuição dos cristãos na "sociedade líquida" e plural: uma minoria criativa de pessoas que não são "os profetas da desgraça" (como lembrou o cardeal Scola na primeira saudação ao pontífice, na Praça da Catedral), mas buscam testemunhar experiências de "vida boa".

Mesmo que não apresentem nenhuma mudança doutrinal com relação à participação na eucaristia, as palavras que o papa pronunciou no sábado e no domingo de manhã aos separados e divorciados, mostrando compreender e acolher as suas dificuldades e o seu sofrimento, e pedindo às comunidades que prestem mais atenção ao problema, foram significativas. E mostram, mais uma vez, como o verdadeiro Ratzinger, aquele que o milhão de peregrinos encontrou em Bresso, é diferente do Ratzinger "percebido" através das lentes da mídia.

Nenhum anátema, nenhuma condenação ou lamúria. Nem quadros com tintas foscas sobre a realidade – no entanto, objetivamente difícil – em que o mundo e as famílias estão vivendo. Bento XVI não "voou alto", ao contrário, falou do Outro, daquilo pelo qual ainda pode valer a pena viver e construir uma família.