A agenda da austeridade

Mais Lidos

  • De uma Igreja-mestra patriarcal para uma Igreja-aprendiz feminista. Artigo de Gabriel Vilardi

    LER MAIS
  • A falácia da "Nova Guerra Fria" e o realismo de quem viu a Ásia por dentro: a geopolítica no chão de fábrica. Entrevista com Eden Pereira

    LER MAIS
  • "No rosto de cada mulher violentada, vemos o rosto Cristo Crucificado". Carta Dirigida aos Homens

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

02 Junho 2012

"A fase de expansão, e não a de contração, é o momento certo para o corte de gastos por parte do governo", escreve Paul Krugman, economista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02-06-2012.

Segundo ele, "a campanha pela austeridade no Reino Unido não se refere na verdade a dívida e deficit. Ela só usa o pânico com o deficit como desculpa para desmantelar programas sociais".

Eis o artigo.

"A expansão, não a contração, é o momento certo para a austeridade." Assim declarou John Maynard Keynes 75 anos atrás, e ele tinha razão. Mesmo que você tenha um problema de deficit em longo prazo - e quem não tem? -, cortar gastos em um período de depressão econômica profunda é uma estratégia derrotista, porque só serve para agravar ainda mais a depressão.

Por que, então, o Reino Unido está fazendo exatamente o que não deveria? Ao contrário dos governos da Espanha ou da Califórnia, por exemplo, o britânico pode captar recursos livremente. Assim, por que está reduzindo o investimento e eliminando centenas de milhares de empregos no setor público, em lugar de esperar para fazê-lo quando a economia recuperar as forças?

Ao longo dos últimos dias, fiz essa pergunta a diversos partidários do governo do primeiro-ministro David Cameron, tanto em conversas privadas quanto na TV. E todos esses diálogos seguiram a mesma trajetória: começavam com uma má metáfora e terminavam com a revelação de motivos ulteriores.

A má metáfora equipara o problema da dívida nacional de uma economia aos problemas de dívida de uma família individual. Uma família que tenha acumulado dívidas demais, assim a história diz, precisa apertar os cintos. Portanto, se o Reino Unido como um todo acumulou dívidas demais, não deveria fazer o mesmo? O que há de errado nessa comparação?

A resposta é que uma economia não é uma família endividada. Nossa dívida consiste principalmente de dinheiro que devemos uns aos outros; ainda mais importante, nossa renda provém principalmente de vender coisas uns aos outros. Seu gasto é minha renda, e meu gasto é sua renda.

Assim, o que acontece se todo mundo reduzir gastos simultaneamente a fim de reduzir suas dívidas? A resposta: a renda de todos cai.

Quando o setor privado está se esforçando freneticamente para pagar dívidas, o setor público deveria fazer o oposto, gastando quando o setor privado não pode ou não quer fazê-lo. É claro que devemos equilibrar nosso orçamento quando a economia tiver se recuperado. A expansão, e não a contração, é o momento certo para a austeridade.

Como eu disse, nada disso é novidade. Assim, por que tantos políticos insistem em adotar medidas de austeridade em meio à crise? E por que não mudam de rumo mesmo depois que a experiência confirma as lições teóricas e históricas?

Assim, a campanha pela austeridade no Reino Unido não se refere na verdade a dívida e deficit.

Ela só usa o pânico com o deficit como desculpa para desmantelar programas sociais.