30 Mai 2012
A taxa de desmatamento da Mata Atlântica voltou a apresentar uma leve queda entre 2010 e 2011, em relação à perda de cobertura florestal que havia ocorrido no biênio anterior (2008 a 2010), mas os dados levantam a bandeira vermelha de que o bioma mais devastado do Brasil continua sendo ameaçado.
A reportagem é de Giovana Girardi e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 30-05-2012.
Essa é a interpretação feita pela SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que divulgaram ontem o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica.
Olhando apenas a estatística, a devastação praticamente ficou estável. No biênio 2008- 2010, o desmate tinha sido de 31.195 hectares - cerca de 15.500 por ano. Entre 2010-2011 (período de um ano) foi de 13.312 ha ou 133 km². Mas houve aumento significativo na Bahia e em Minas, líderes no ranking do desmate (mais informações nesta página). E justamente esses Estados estiveram muito cobertos por nuvens durante a observação pelo satélite (cerca de 60% de visualização).
"Não posso afirmar que parou ou diminuiu o desmatamento porque grande parte de Bahia e de Minas não foi avaliada. Certamente se eu tivesse imagens - como esses são os Estados mais críticos - teríamos observado mais desmatamento ali", explica Marcia Hirota, coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica.
Além disso, no levantamento anterior haviam sido mapeados 16 dos 17 Estados originalmente cobertos pela Mata Atlântica e neste foram somente 10. Em Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Norte, a análise foi impossibilitada pela ocorrência de nuvens. Piauí não foi avaliado em nenhuma ocasião. "Vimos queda em termos absolutos, mas se tivesse todas as informações, provavelmente esse total seria maior."
Segunda Márcia, a ameaça na Bahia e em Minas, onde o problema já tinha sido identificado no levantamento anterior, são os fornos de carvão. O alvo são sobretudo as regiões com as chamadas "matas secas", um tipo de vegetação que lembra a do Cerrado e por isso às vezes é confundida com ele. Mas pela lei da Mata Atlântica, de 2006, não é.
Entre os municípios campeões de desmate, três estão em Minas (Águas Vermelhas, Jequitinhonha e Ponto dos Volantes, 1.º, 3.º e 5.º, respectivamente), formando o que especialistas chamaram de "triângulo do desmatamento". Lá, a pressão é dos fornos.
Para a equipe, apesar de o total de desmate parecer pequeno, os dados são significativos porque restam 7,9% de Mata Atlântica no País, quando analisados os fragmentos com mais de 100 hectares - tamanho considerado representativo para a conservação da biodiversidade.
Código Florestal
Mario Mantovani, diretor de Políticas da Mata Atlântica, alerta que o dado também é significativo diante da mudança do Código Florestal. Apesar de a lei da Mata Atlântica prevalecer sobre o Código, garantindo a proteção ao bioma, ele reduz a necessidade de recomposição de mata ciliar que tenha sido desmatada. Na avaliação dos especialistas, para a Mata Atlântica, a recuperação é até mais importante, visto que a maior parte já está destruída. Isso põe em risco, segundo eles, o fornecimento de água das grandes cidades, como São Paulo.
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Mata Atlântica permanece sob a ameaça de fornos de carvão em Minas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU