18 Mai 2012
Há um mês e meio, contra o parecer do pároco, ele havia deixado em seu posto no conselho pastoral de uma paróquia o jovem Florian Stangl, que convive com seu companheiro. Uma decisão que havia provocado reações polêmicas, mas também esperanças e que havia sido considerada por muitas pessoas como o início de uma mudança da posição da Igreja com relação aos gays.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 17-05-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Christoph Schönborn, dominicano, 67 anos, aluno de Ratzinger, arcebispo de Viena, está em Roma nestes dias, onde discutiu com as autoridades vaticanas a situação da Igreja austríaca. Nesta entrevista ao jornal La Stampa, depois de semanas de silêncio, ele volta a falar da sua escolha. Ele a defende, mas, ao mesmo tempo, explica que o ensino católico não muda. E se pronuncia também sobre a dissidência que atravessa a Igreja na Áustria, antecipando as iniciativas que irá tomar com relação aos padres signatários do Apelo à desobediência.
Eis a entrevista.
Cardeal Schönborn, pode explicar por que o senhor ratificou a eleição de Stangl ao conselho pastoral?
A minha decisão havia sido uma "não decisão", eu apenas decidi não interferir na eleição ocorrida. É a paróquia que deve escolher bem os candidatos para o conselho pastoral, em conformidade com os requisitos previstos. No caso sobre o qual falamos, isso infelizmente não aconteceu.
O senhor se encontrou com Stangl. O que lhe chamou a atenção?
Não pretendo entrar em detalhes, porque as pessoas têm direito à sua esfera privada.
O caso suscitou esperanças em quem espera uma mudança de posição da Igreja com relação aos gays...
Diante de casos de irregularidades, de pessoas que coabitam, de divorciados que se casam novamente ou de casais formados por pessoas do mesmo sexo, nós, pastores, devemos manter firmes os ensinamentos da Escritura e da Igreja, não por fideísmo, mas sim porque estamos convictos de que eles representam o caminho rumo à felicidade. E devemos tentar ajudar todos a levar uma vida conforme a esses ensinamentos.
Por que, então, o senhor decidiu não intervir?
Porque devemos reconhecer que não só aqueles que vivem em uma situação objetiva de desordem moral, mas também nós todos precisamos de perdão e de misericórdia. Estamos caminhando rumo a uma meta que nós reconhecemos com o coração e a mente, mas também estamos conscientes de que são necessários passos de conversão e de paciência. Não devemos justificar certas situações, mas sim pedir uma mudança. Como pastor, eu julguei que, nessa situação particular, no caso de que falamos, havia um caminho em andamento.
O senhor irá admitir que se trata de um precedente...
A posição da Igreja sobre esses temas não mudou, e não se trata de um precedente. É só um caso especial, assim como há outros...
A Igreja deveria demonstrar uma atitude mais misericordiosa com relação aos homossexuais?
A Igreja sempre demonstrou misericórdia para com os pecadores, e todos somos pecadores. Mesmo que nos fixemos apenas em certos pecados e em certas situações de desordem moral, todos nós, como cristãos, devemos nos confessar. Mas não há misericórdia sem verdade. É preciso um caminho de conversão: isso vale para os divorciado em segunda união, mas também para quem vive relações homossexuais. É preciso ajudá-los a reconhecer que o projeto de Deus não é esse, e, se eles se sentem incapazes de seguir o ensinamento da Igreja, que o admitam com humildade, pedindo a ajuda de Deus, confessando-se e tentando não pecar mais. Não podemos mudar o seu projeto, mas devemos lembrar que Deus é infinitamente misericordioso para com os nossos pecados.
As associações gays acusam a Igreja de ter uma atitude discriminatória. Como o senhor responde?
A Igreja deve seguir o que foi revelado nas Escrituras, mas condena o pecado, não o pecador. Depois, há lobbies, o "politicamente correto", as atitudes exibidas com as quais, no entanto, nem todos aqueles que têm inclinações homossexuais concordam. Um certo rumor, uma certa propaganda gay, o fato de querer estender nas escolas um tipo de educação sexual que acabe promovendo também a homossexualidade... Eu me pergunto: se essa é a normalidade, por que se precisa de tanto barulho? Se essa é a felicidade que Deus quis para o ser humano, por que se precisa de tanta propaganda?
Há quem diga que a Igreja hoje fala muito de moral sexual. O que o senhor acha?
O importante é a relação de amizade com Jesus, o encontro pessoal com ele. Bento XVI não se detém muito nas questões relacionadas à sexualidade, mas insiste na amizade com Jesus, ou seja, na fé. Chamou-me a atenção que, durante o primeiro encontro com os jovens em Colônia, em 2005, o papa nunca citou os temas relacionados à sexualidade. E lembro também que João Paulo II, em 2001, disse que todos os ensinamentos morais permanecem como leis exteriores e incompreensíveis sem a experiência da fé, da relação com Jesus.
Há muita dissidência na Igreja austríaca, centenas de padres assinaram um Apelo à desobediência. O que vai acontecer?
Eu gostaria de esclarecer que uma coisa é a Pfarrer-Initiative, de 2006, assinada por 350 sacerdotes. Outra é o Apelo à desobediência, lançado com grande evidência midiática há um ano: este último, promovido pelo Mons. Helmut Schüller, foi feito sem aviso prévio aos signatários, que não sabiam de nada. Eu logo declarei que não se pode brincar com as palavras e que o Apelo à desobediência é inadmissível. Como bispos, fomos pacientes – segundo alguns, até demais – e agora estamos preparando uma carta pastoral para será lançada durante o Ano da Fé, em que responderemos a todas as questões feitas pelos dissidentes.
O papa os citou na Missa da Quinta-Feira Santa...
Nessa homilia, Bento XVI nos deu um modelo de diálogo, tentando entrar nas suas motivações, responder às suas objeções e, por fim, convidá-los a seguir a Cristo na obediência, que é um caminho de redenção e de liberdade.
E se os defensores da Pfarrer-Initiative não cederem?
Nós lhes diremos: agora é o momento de esclarecer. Depois, tomaremos as nossas decisões, incluindo eventualmente também passos que preveem sanções disciplinares. Espero que não seja necessário.
No caso das sanções, a intervenção será sua ou da Santa Sé?
Nós, bispos, é que interviremos, e não Roma. É um dever que compete a nós, pastores.
Como o senhor julga a propagação dessa dissidência, que pede a abolição do celibato, o sacerdócio às mulheres, os leigos no lugar dos padres nas celebrações?
O movimento se espalhou. Há até uma espécie de "Guia Michelin" da dissidência, com os nomes das associações nos vários países. Trata-se, em grande parte, de sacerdotes da geração de 1968: eu digo isso sem nenhum desprezo, como dado documental. Muitos deles sofrem, devem ser respeitados e muitas vezes levantam problemas reais. Concordamos com o diagnóstico: há uma crise. Mas não compartilhamos a terapia. Parece-me que eles têm em mente a situação da Igreja nos anos 1950 e 1960, quando ela era muito mais forte, vigorosa e enraizada.
Qual é a terapia certa, segundo o senhor?
Uma nova descoberta da fé, que aceite ser a luz do mundo. O verdadeiro programa de contraste à Pfarrer-Initiative são as muitas realidades vivas da Igreja austríaca, das quais ninguém fala: o número crescente de famílias jovens que vivem a sua fé no mundo, com o conhecimento de serem uma minoria criativa; os jovens fascinados com a espiritualidade e com a liturgia dos mosteiros. Estamos acostumados a ser maioria e a dizer tudo sobre todos: agora é o momento de nos reconhecermos minoria e de testemunhar, cada um em seu próprio lugar, a nossa fé.
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''A Igreja não mudou a sua posição sobre os gays''. Entrevista com Christoph Schönborn - Instituto Humanitas Unisinos - IHU