20 Abril 2012
Manteiga com ignífugo, suco de maçã com nonilfenol, cerveja com dibutiltina, espaguete chinês com poliestireno. E depois, apenas para agradar, pipoca estourando de Teflon... Sabe o quê? Hoje à noite vou fazer um belo prato de plástico. É o mesmo que se render a ler o menu que a indústria alimentar nos serve. Começando, como sempre, pela norte-americana.
A reportagem é de Angelo Aquaro, publicada no jornal La Repubblica, 18-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O último alerta vem de uma pesquisa realizada em San Francisco: a cidade mais preocupados com a saúde dos Estados Unidos. Os pesquisadores da Enviromental Health Perspective realizaram uma experiência que não deve ser sugerida aos inteligentes idealizadores dos reality shows. Eles tomaram cinco famílias e as colocaram por três dias em dieta. Não de determinados alimentos, mas sim de alimentos que não foram contaminados com plástico. O resultado? A comparação das análises deixou os próprios cientistas estupefatos. Os níveis de bisfenol-A – em código, BPA –, o composto orgânico usado para endurecer o plástico, caíram em dois terços.
E não só isso. Os níveis de di-(2-etilhexil) ftalato – em código, mais comumente, DEHP –, a substância que torna o plástico flexível e transparente, caíram pela metade.
Os resultados foram imediatamente divulgados pela maior especialista no assunto, Susan Freinkel, autora do felicíssimo Plastic: A Toxic Lovestory, que, no Washington Post, sentenciou: tudo culpa da embalagem. Isto é, tudo culpa do plástico usado para embalar os produtos. Os envelopes que envolvem os alimentos congelados. As garrafas de água e dos sucos de fruta. A embalagem que envolve a manteiga e a margarina. O plástico que envolve os frios e conserva a salada já cortada e lavada.
Os perigos para a alimentação certamente não são novos. Foi a partir dos anos 1930 que os primeiros estudos começaram a apontar o dedo contra o BPA, sim, o composto que, nas famílias submetidas à dieta antiplástico de San Francisco se "liquefez" em apenas três dias. E todos os países já estão correndo para se proteger. Mas o simples fato de que se trata de uma corrida em ordem aleatória diz muito sobre a eficácia e a confiabilidade das diversas proibições.
Justamente o fatídico BPA, por exemplo, foi declarado tóxico no Canadá há dois anos: e por que o BPA que devasta os estômagos em Montreal deveria ser muito digestível, ao contrário, em Nova York? Desde 1958, a Food and Drug Administration, isto é, o instituto que supervisiona os alimentos e os medicamentos, analisou e deu o aval para 3.000 compostos químicos que podem ser utilizados em contato com os alimentos. São os chamados "aditivos indiretos": portanto, não estamos falando das substâncias usadas na preparação dos alimentos, mas sim daquelas usadas na preparação dos invólucros. Mas que – muito voláteis – o agridem.
O nível de segurança seria inversamente proporcional à quantidade que pode acabar no prato. É uma pena, porém, que alguns cientistas estejam se preocupando agora em fazer um outro cálculo: que considera a ação "cumulativa" desses elementos. Não só no espaço, de substâncias provenientes das embalagem de diversos alimentos. Mas também ao longo do tempo: substâncias acumuladas no organismo continuamente exposto a esses alimentos embalados.
Aqui, como muitas vezes, os especialistas se dividem. Mas é o próprio Instituto Nacional de Saúde [italiano] que reconhece que um número diferente de substâncias químicas – ingeridas separadamente e em pequenas doses – tem o mesmo efeito sobre o corpo do que uma dose única e mais poderosa.
Com que riscos? Tomemos aquele outro composto que caiu pela metade a partir da dieta antiplástico de San Francisco: o DEHP não só pode interferir na testosterona durante o desenvolvimento, mas também na reprodução masculina – além de provocar disfunções tireoidianas e pequenas mudanças de humor.
Será suficiente correr para se proteger? Nos EUA, teve início um movimento de pressão para forçar a Food and Drug Administration a rever os parâmetros.
Mas até agora os lobbies da indústria conseguiram fazer frente: indestrutível como o plástico?
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O plástico está na mesa: como o alimento embalado muda o nosso corpo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU