18 Abril 2012
Nesta terça-feira, 17 de abril, completaram-se 82 anos da morte do escritor, jornalista e sociólogo José Carlos Mariátegui, o Amauta, tido por muitos intelectuais como um dos principais pensadores da América Latina. A data mais uma vez serviu de pretexto para intelectuais peruanos discutirem seu legado.
A informação é do sítio Opera Mundi, 17-04-2012.
Para o cientista social peruano Antonio Zambrano, apesar de não ter frequentado nenhuma universidade – Amauta era autodidata –, seu pensamento fez dele “um dos mais importantes pensadores e dirigentes vinculados à tradição marxista revolucionária”, sendo traduzido em diversos idiomas.
Sua principal obra, os “7 Ensaios...”, “não é apenas um livro, é uma maneira de analisar a sociedade peruana desde seu povo, priorizando o problema da terra e indígena desde a sua própria cultura”, defende Zambrano.
Porém, nos dias atuais, um novo debate sobre a forma de utilizar a herança deixada por Mariátegui volta à tona. Para o professor da Universidade São Marcos, o sociólogo Héctor Béjar, “as ideias do pensador peruano hoje no Peru, são referências que carecem de significado real”. “A esquerda peruana não toma sua obra de maneira séria, o vêem como um santo, usa sua imagem sem o entender e o povo tampouco leu sua obra”, polemiza Béjar.
Segundo o sociólogo, a academia peruana e latinoamericana não tem valoizado o pensamento de Amauta. “A sociologia utilizada na universidade é estruturalista, estadunidense e não usa os marcos teóricos de Marx que Mariátegui se apropriou para seus estudos”.
O pedagogo Carlos Rojas enxerga de maneira diferente e acredita que se há uma forma equivocada de pensar ou utilizar as reflexões sobre as obras de Mariátegui é porque na história de conflitos peruanos mais contemporâneos, Mariátegui viria a sofrer novamente uma obscuridade na universidade.
“Devido aos 22 anos de uma ofensiva neoliberal em nosso país nos últimos tempos, junto ao golpe de Fujimori em 1992, as obras de Mariátegui sofreram uma tentativa de censura nas universidades públicas peruanas”, afirma Rojas, que acredita que hoje uma sociedade mais aberta e um movimento estudantil forte estão resgatando a importância de Amauta.
“Passamos por um período de fragmentação e criminalização do movimento social no Peru”, acrescenta Zambrano. “Por isso ainda estamos longe da práxis e do sentido de organização social pensada por Mariátegui”, reflete.
O pensador
De origem pobre, Amauta nasceu em Moquega, em 14 de junho de 1894, num estado ao sul do país. De funcionário administrativo do periódico La Prensa passa à redação como jornalista, em 1912. Começa a ganhar espaço na imprensa peruana com suas criticas ao governo e atuação em outros periódicos.
Logo o governo peruano concede a Amauta uma viagem em 1919 para passar um tempo na Itália. “Mariátegui foi forçado a sair do país pela oposição política e começa a observar atentamente o movimento fascista, pesquisar suas bases sociais, ao mesmo tempo em que se debruça com grande interesse e apego intelectual e ideológico na formação da esquerda comunista na Itália”, recorda Rojas.
Em exatos dois anos e sete meses na Europa, onde passou por França, Alemanha e Áustria, tem contato com a teoria marxista. Retorna ao Peru em 1923 e cinco anos mais tarde funda o partido socialista do Peru e publica o livro 7 Ensaios da Interpretação da Realidade Peruana, considerado a primeira observação concreta de uma realidade econômico–social do continente latino americano baseada no marxismo.
Mesmo tendo uma vida breve, - morreu aos 35 anos, sendo que os últimos seis passou sobre uma cadeira de rodas por ter amputado uma perna, circunstância de um câncer –, Amauta teve uma militância política ativa. “Temos que pensar que a vida de Mariátegui foi de teoria e praticas, não apenas nos escritos e analises, mas organizando a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru - CGTP, que ainda hoje é o maior sindicato do país –, fundou e dirigiu a revista Amauta e muitas outras organizações que seguiriam de seu legado”, diz Zambrano.
Desconhecimento
No entanto, se no Peru Mariátegui é uma referência, no foi bem assim na América Latina, tendo sua obra fincada no ostracismo em muitos paises do continente, como no Brasil, onde a cultura socialista mantém-se em silêncio no que diz respeito à Mariátegui, como assinalou Leila Escorsim, em seu livro “Mariátegui - Vida e Obra”, editado pela Expressão Popular em 2006.
A autora escreve que Mariátegui, após sua morte, por não ter passado pela universidade, sequer teve homenagens oficiais no Peru. E embora fosse conhecido no Chile, Argentina, Bolívia, América Central e Itália por pequenos círculos de intelectuais que os apreciava por seu trabalho na revista Amauta, não passava de uma simples referência.
Antonio Zambrano reconhece, “logos após sua morte, as obras de Mariátegui passaram por um período obscuro, sendo retomada lentamente na América Latina”.
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No Peru, intelectuais debatem legado de Mariátegui 82 anos após sua morte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU