Por: André | 14 Abril 2012
Enquanto o presidente Hugo Chávez enviava uma mensagem ao povo agradecendo o apoio, “bendito sejas, Povo meu”, seu rival Capriles Radonski destacava que “não há nada para comemorar” e que não sentia rancor.
A reportagem está publicada no jornal argentino Página/12, 12-04-2012. A tradução é do Cepat.
A Venezuela recordou nesta quarta-feira a tentativa de golpe contra o presidente Hugo Chávez no dia 11 de abril de 2002, que contou com grande cumplicidade de alguns meios de comunicação, durou três dias e deixou 19 mortos. “11 de abril! Tremenda prova aquela a que foi submetido o Povo Venezuelano! Bendito sejas, Povo meu! Viveremos e Venceremos!”, foi uma das mensagens que o presidente escreveu no Twitter. Chávez retornou a Caracas para participar das comemorações em sua convalescença de um câncer detectado em 2011.
Henrique Capriles Radonski, o único rival do líder bolivariano nas eleições de outubro – que foi acusado de ter participado do assédio à Embaixada de Cuba naquele abril –, disse na quarta-feira que não havia nada para festejar, e que não tinha rancor após ter sido preso. “Eu vejo o governo comemorando. O que eles estão comemorando? O confronto entre venezuelanos? A divisão entre o povo? A divisão entre as famílias?”, perguntou Capriles em um ato público.
“Vivam os nossos mártires do 11 de abril! Abraços Elías e a todo o povo venezuelano! Eu estou colocando as botas. Me aguardem!”, escreveu Chávez confirmando sua chegada a Caracas para participar da homenagem às vítimas de Puento Llaguno, que morreram vítimas de franco-atiradores quando se manifestavam pedindo o retorno do presidente eleito, sequestrado e levado a Orchila por um contingente militar. Em relação a uma atividade de massa que se realizou no estado de Miranda, com a presença do vicepresidente da República, Elías Jaua, o chefe de Estado tuitou: “Que alegria há em Los Teques! Repitam-me os cantos e gritos! Gostei daquele dos ‘bacalaos’, Elías! Cantemos, cantemos! Que viva a Pátria!”. O presidente havia viajado sábado para Havana para se submeter ao terceiro dos cinco ciclos de radioterapia previstos.
Em 11 de abril de 2002, a Venezuela foi sacudida por um golpe de Estado contra o governo legítimo do presidente eleito em 1999. Chávez foi sequestrado e 47 horas depois retornou a Miraflores aclamado pelo povo que pedia sua volta. Nesse intervalo de tempo, o povo venezuelano saiu em massa às ruas para exigir o restabelecimento da democracia e de suas instituições, ao mesmo tempo em que repudiou o regime interino instaurado pela junta de governo golpista. Nesses quatro dias esteve no poder Pedro Carmona, presidente da Fedecámaras, que se autoproclamou presidente com poderes acima da Constituição.
Esta semana, a jornalista venezuelana Ana Teresa Pérez revelou alguns documentos inéditos que dão conta da intenção de prender Chávez por suposta cooperação política com a guerrilha colombiana. “Artigo 1: Constitui-se uma Junta de Governo de Três (3) membros que assumirá de forma imediata à promulgação desta Ata as funções do Executivo Nacional (...) depondo da Presidência da República por violação da Constituição da República, traição à pátria e outros atos de corrupção no exercício do poder ao senhor Hugo Rafael Chávez Frías”, rezava o documento golpista de 2002. “Artigo 2: Prende-se por 8 dias o senhor Hugo Rafael Chávez Frías e se o coloca à disposição do Fiscal Geral da República por ter cometido o crime de traição à Pátria, em vista das evidências públicas e notórias de cooperação política com a guerrilha colombiana, execução à margem da Constituição e das leis do Acordo de Cooperação entre a República de Cuba e Venezuela e outras denúncias apresentadas à Promotoria para que este órgão proceda, conforme o direito ao julgamento, sem maiores privilégios que aqueles que correspondem a um cidadão comum”.
A promotora geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, informou no meio da semana que o Ministério Público avançou em investigações sobre o golpe de 2002 e as circunstâncias que o cercaram. Até agora a Justiça conseguiu uma sentença condenatória para 10 funcionários envolvidos na tentativa de golpe. “Nesse momento desempenhavam a função como agentes da Política Metropolitana de Caracas. Também temos sete processos em fase preparatória, ou seja, em fase de investigação”, explicou a promotora venezuelana à cadeia Telesur, de Caracas.
“As 10 pessoas que foram condenadas são por crimes de violação de domicílio, homicídio qualificado, tortura, quebra de pactos e convênios internacionais, abuso de autoridade e privação ilegítima de liberdade”, explicou Ortega Díaz. Pelas mortes do golpe foram criminalizados três comissários da ex-Polícia Metropolitana – Lázaro Forero, Henry Vivas e Iván Simonovis – condenados a 30 anos de prisão por ordenar disparar contra manifestantes pró-Chávez durante a marcha.
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Duas maneiras de recordar o golpe venezuelano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU