Por: Jonas | 13 Abril 2012
Os médicos endureceram a greve, por tempo indeterminado, com um jejum voluntário aderido pelo presidente, vice-presidente e secretário do Colégio de Médicos da Bolívia, enquanto se espera que se incorporem na mesma greve, a partir desta sexta-feira, os trabalhadores do serviço de saúde pública e os universitários das faculdades de medicina. A greve de fome é continuidade de uma mobilização, que já completa duas semanas, contra uma lei que obriga o setor de saúde a trabalhar oito horas diárias ao invés de seis, porém sem reconhecer-lhes os direitos consagrados na lei geral do Trabalho.
A reportagem é de Mabel Azcui, publicada no jornal El País, 12-04-2012. A tradução é do Cepat.
Os protestos do setor de saúde – os mais fortes que se recordam -, também alertam sobre a crítica situação dos hospitais públicos e a falta de políticas de planejamento, para melhorar a infraestrutura hospitalar, em função do crescimento da população e a escassez crônica de suprimentos e medicamentos.
O Governo do presidente Evo Morales não conseguiu o êxito esperado no seu plano para neutralizar a greve, que inclui a instalação de tendas para o atendimento de urgência, sob a responsabilidade de um grupo de 1.200 médicos – em sua maioria licenciados de universidades cubanas -, além de ameaças de demissão aos trabalhadores da saúde, e a entradas com ações no Ministério Público para encarcerar os que violarem o direito de acesso aos serviços de saúde, consagrados na Constituição.
Na última quarta-feira, o Colégio Médico da Bolívia definiu dar uma trégua de um mês, na greve iniciada no dia 28 de março, fornecendo tempo para que o Governo revogasse o Decreto Supremo 1126, que restituem as oito horas de trabalho para o pessoal da saúde pública. No dia seguinte, porém, a presidência boliviana sancionou a nova medida, enfurecendo a agremiação médica, que esperava conquistar resultados na negociação que tentava levar adiante, junto ao Ministério da Saúde. De imediato, a convocação da greve se confirmou, piorando o clima tenso entre as partes.
“Só nos pagam por seis horas e querem que trabalhemos duas horas a mais, mas sem remuneração. Com isso, buscam desvalorizar nossos salários em 25%”, argumentou o presidente do Colégio Médico da Bolívia, Alfonso Barrios, esclarecendo que, a partir de agora, só aceitarão dialogar, diretamente, com Morales. O ministro do Trabalho, Daniel Santalla, declarou “ilegal” o protesto dos médicos, ameaçando demitir todos aqueles que se ausentarem de seus postos de trabalho por mais de seis dias. “É uma greve criminosa”, denunciou.
A situação ameaça piorar se a greve geral de 24 horas, convocada para esta quarta-feira (11/04), pela Central Operária Boliviana (COB), na intenção de exigir do Governo de Morales um aumento salarial para todos os trabalhadores, obter o êxito esperado pelos líderes sindicais. O protesto acontece como rejeição ao aumento salarial, entre 7 e 15%, anunciado pelo Governo, valor que a COB considera “insuficiente”, porque não está de acordo com o valor da cesta básica e do que se paga por serviços básicos, que em conjunto somam 8.300 bolivianos (916 euros). O salário mínimo na Bolívia é de 90 euros e o salário médio está em 416 euros.
A COB suspendeu as negociações, com o Governo, depois que os líderes da Confederação de Empresários Privados da Bolívia (CEPB) entraram na conversa. “Não vamos discutir com aqueles que são inimigos dos trabalhadores do país, flexibilizando e violando os direitos dos trabalhadores”, advertiu o secretário executivo da COB, Juan Carlos Tujillo.
Morales tem convocado os sindicatos para que retomem o diálogo e desistam da ideia de chamarem “greves graduais”, caso suas demandas não alcançarem a resposta desejada. “Meu pedido é somente que sejamos realistas e pensemos na Bolívia, essa é a enorme responsabilidade que tem os movimentos sociais”, expressou.
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Médicos bolivianos declaram greve de fome contra o governo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU