27 Março 2012
Bento XVI está chegando enquanto rumores difíceis de desmentir afirmam que o cardeal Ortega, protagonista da reaproximação entre Igreja e Raúl Castro, está de partida para Roma. No Vaticano, espera-o a cadeira de prefeito da comissão pontifícia para "reforçar o apoio às organizações católicas cubanas". Esperança criticada duramente por Marco Rubio, senador da Flórida que cresceu na corte de Jeb Bush, ex-governador e irmão do ex-presidente. Rubio está preocupado com a atitude política do cardeal.
A reportagem é de Maurizio Chierici, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 24-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Ele negociou a colaboração do governo na organização da visita de Ratzinger. Como ele pode pedir que a polícia bote para fora da Igreja os fiéis que a ocupam em oração para suplicar um breve encontro com o papa?". Aos 41 anos, Rubio é "o futuro dos republicanos". Bush pediu que Romney faça dele o seu vice na corrida à Casa Branca.
Enquanto isso, às vésperas da visita, Raúl muda dois ministros e substitui o vice-presidente José Ramón Fernández, de 88 anos, uma lenda por ter rechaçado a invasão da Baía dos Porcos. Os mais velhos vão embora, dando espaço aos intelectual do diálogo.
Duas mulheres esperam Bento XVI com um empenho diferente: em silêncio ou falando. Mariela Castro (foto), filha de Raúl e diretora do Centro de Educação Sexual, se cala. No mês passado, ela liderou a Parada Gay nas ruas de Havana, na primeira linha entre os protagonistas que invocam o casamento homossexual. Na verdade, a lei proposta por Mariela não fala de casamento: prevê o reconhecimento civil das uniões com a possibilidade de adoção.
Por respeito ao hóspede de ideias diferentes, ela avisa que o silêncio começou 15 dias antes e acabará 15 dias depois da partida do papa, quando a Assembleia irá discutir e aprovar. Mariela diz ter evitado a imagem de filha e de neta. Ela repetiu isso na Itália, na Feira do Livro de Bolonha, onde apresentou um manual de conselhos para adolescentes, livro traduzido por Bianca Pitzorno, escritora de livros infantis.
Ela gosta da Itália: frequentou a Universidade de Parma, seu segundo marido é siciliano, um fotógrafo encontrado em Havana. Se a política não é a sua vocação, a formação científica cresceu cresceu sob uma cúpula de privilégio. E ela não tolera quem não está de acordo. Demitiu a colaboradora preferida (Wendy Iriepa, belíssima transexual) quando soube da sua ligação com um dissidente "incômodo".
A sua história e a história social da revolução coincidem. Convidada para uma conferência em Amsterdã (luta contra a homofobia e dignidade das mulheres), depois de visitar o bairro da luz vermelha das meninas nas vitrines, ela explicou no Twitter a diferença entre as escravas sindicalizadas holandesas e as jineteras do Malecon. As primeiras, vítimas de uma sociedade desumana; as segundas fazem esse trabalho para reparar o banheiro que quebrou, mas, assim que o banheiro volta a funcionar, voltam à normalidade.
E, no Twitter, Yoani Sánchez lhe responde: agora ela fala e escreve como nunca. Blogueira traduzida até na Itália, premiada em todos os países, ela critica Mariela por ter proposto apenas "um debate parcial" sobre a homofobia e os direitos dos homossexuais "e não discute os direitos negados a quem não pode sair do país". Ela conta sobre o seu filho que, para se matricular na escola superior, teve que se pronunciar sobre suas escolhas ideológicas. Velhas polêmicas dos críticos de costume, responde Mariela: "Você tem que estudar para entender". Ela Yoani rebate duramente. "Duas princesas que se confrontam comodamente no Twitter", comenta Zoe Valdes, escritora dissidente.
Em Havana, escritores e intelectuais que não concordam com Castro, mas acham "que as notícias não pasteurizadas dela jamais tocam a estrutura de origem da infelicidade do país, olham para Yoani com desconfiança. Crônicas menores, superficiais: miséria, greves de fome aumentando, nenhuma crítica que vá ao coração do sistema. A Rádio Marty repete há 30 anos as mesmas coisas. Informações anônimas já sem emoção. A ideia vencedora foi ter dado um rosto e um nome a cada notícia arranha mas não fere",
Eu lhe telefono: está saindo para coletar as vozes de quem começa a greve de fome. "Conversamos às 20h". Às 20h, responde Reinaldo Escobar, companheiro de Yoani, 60 anos, mulato. "Sou o organizador dos eventos. Normalmente, pedimos três dias de antecedência". Ele fixa o encontro na cafeteria Habana Libre no canto da vitrine com vista para o cruzamento de duas ruas: mais visíveis do que isso, impossível. Mas, na manhã seguinte, Yoani está perseguindo uma outra emergência. Quem lhe critica o seu protagonismo e superficialidade em parte tem razão, mas resta a suspeita de pequenos ciúmes de dissidentes que suspiram na sombra.
Eles contam sobre o show da peruca loira. Com gesto teatral, ela a tira quando lhe passam o microfone em uma conferência: "Sou Yoani, tenho que me disfarçar para que a minha voz seja ouvida", e enquanto isso filma os rostos de quem a ouve enquanto denuncia agressões e o perigo de uma vida perseguida. Uma pesquisadora universitária a encontra no jantar na residência do encarregado dos assuntos dos EUA, nos anos Bush. Michael Pamly é um embaixador sutil, pupilo de Condoleezza Rice. A pesquisadora tem a impressão de que Yoani é de casa. Não só isso: mas que os 007 do regime a deixam ir e vir para entender com quem ela se encontra.
À parte de prêmios e celebrações, é útil a informação de que Yoani anda livremente pelo mundo? É útil. A grande notícia é também um mosaico de pequenas coisas. A quem servem e por que é outra história.
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Mariela Castro e Yoani Sánchez. Duas mulheres cubanas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU