Por: Cesar Sanson | 08 Março 2012
“Adultos, crianças, idosos e jovens, todos reunidos pela Bicicletada Nacional. Defensores da locomoção inteligente, que não polui o ar, não congestiona as ruas e humaniza a cidade”. O comentário é de Laís Dlugosz, que integrou a #BicicletadaNacional em Curitiba e publicada em sua página do Facebook, 07-03-2012. Foto de Lorena Lenara.
Eis o relato.
Um grito de liberdade foi ouvido do início da multidão e como uma nota afinada a suplica ecoou. As mais de quinhentas pessoas ali, em sua maioria, não se conheciam, mas sorriam umas aos outras como velhas amigas; era a música dos corações, do mesmo objetivo, da idêntica luta: mais segurança para os ciclistas! Os berros eram intercalados; da ponta esquerda alguém puxava: “Mais bicicletas!”, e um grupo espalhado respondia: “Menos carros!”. “Mais amor!”, outra voz grave evocava; e o coro respondia: “Menos motor!”.
Da calçada, o senhor de poucos cabelos grisalhos, vestindo camiseta do Movimento Sem Terra, parado esperando a multidão passar, erguia o braço esquerdo em gesto de cúmplice luta aos passantes: “Abaixo a cultura do motor!”. Eram adultos, crianças, idosos e jovens, todos reunidos pela Bicicletada Nacional. Defensores da locomoção inteligente, que não polui o ar, não congestiona as ruas e humaniza a cidade.
Protestantes pelo respeito aos ciclistas, comovidos pela morte de mais cinco deles vítimas da brutalidade do trânsito brasileiro na última sexta-feira, 02, em São Paulo, Brasília, Pará, Pernambuco e Santa Catarina. A súplica também se movia por onde vivem, Curitiba e suas recentes vítimas: Edimar Nascimento, 24 anos, atropelado por um biarticulado em 20 de janeiro no bairro Pinheirinho, e Demétrius Kirach, 41 anos, atropelado por um caminhão na BR-277, em São José dos Pinhais, no dia 9 de fevereiro.
De fora, alguns sorriam das janelas e se uniam as vozes. Dos carros poucos interagiam, se sentiam parte do todo; outros apressados buzinavam, se irritavam. O grupo percorreu ruas da capital, passou pelo centro e sua multidão trabalhadora que retornava ás suas casas, transitou por bairro nobre e se instalou na Boca Maldita, palco de grandes manifestações políticas na cidade. Dos berros, veio o silêncio, todos se deitaram no chão como mortos em respeito as vítimas do trânsito, porque ali a morte de um é a morte de todos.
Alguns olhares perdidos chegavam a questionar ou até desmerecer a movimentação, afinal, do que servia sair andando de bicicleta em grupo, gritando, gesticulando, implorando, sorrindo com nariz de palhaços, deitando em pleno calçadão? Mas para quem estava ali, era/é grito, luta, respeito, cordialidade, futuro, união. É o processo de materialização de não ser mais intenção, não ser somente mais uma consciência e sim ação!
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“Mais bicicletas! Menos carros!” - "Mais amor! Menos motor!" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU