Por: André | 27 Fevereiro 2012
“Cristãos como muçulmanos”. Não é apenas Obama que tem problemas com os católicos devido à inclusão de anticoncepcionais nos seguros de saúde. No Reino Unido, Trevor Phillips, diretor da Comissão para a Paridade dos Direitos Humanos, criticou abertamente as confissões cristãs que não aceitam as “leis de igualdade”, como aquela que permite que os homossexuais adotem crianças. Trevor Phillips defende que mudar as leis segundo os desejos de cristãos seria como aceitar a introdução da sharia na Grã-Bretanha, o que vem sendo solicitado por alguns grupos muçulmanos. A dirigente do Christian Legal Centre do Reino Unido, Andrea Minichiello Williams, vê nas declarações de Phillips uma perseguição dos cristãos na vida pública. “É o começo de uma tirania – denunciou à Catholic News Agency. Phillips é ingênuo, não parece viver na mesma Inglaterra em que eu vivo. Em uma recente entrevista ao jornal The Telegraph, de fato, defendeu que os imigrantes muçulmanos estavam se integrando na sociedade inglesa melhor que qualquer população cristã e que as práticas de adoção católicas eram mais discriminadoras que os tribunais que se baseiam na sharia”.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi e está publicada no sítio Vatican Insider, 23-02-2012. A tradução é do Cepat.
Phillips havia especificado que os crentes não devem esperar exceções em relação ao Equality Act de 2010, com sua linguagem sobre a orientação sexual. Williams, cuja entidade se ocupa da defesa dos direitos dos cristãos britânicos na esfera pública, declarou que as raízes cristãs de seu país tornaram possível que a Inglaterra fosse uma “terra de grande liberdade onde se respeita a ‘liberdade de consciência’”. Além disso, “vimos tudo isto começar com o Programa de Paridade de Oportunidades, que é a política seguida por Trevor Phillips”, indicou Williams. “O secularismo, segundo este programa, não é neutro. Castiga os dissidentes”. Também indicou que o Programa de Paridade de Oportunidades, que começou com o mandato de Tony Blair, “parece uma utopia, mas, de fato, conduz ao começo de uma tirania”. E especificou: “O que o sr. Phillips teria que fazer é vir passar alguns dias no Christian Legal Centre, ver os casos e a discriminação que há em geral”.
Como o caso de Shirley Chaplin, a enfermeira a quem se pediu que tirasse a cruz que levava ao pescoço, depois de tê-la usado por 38 anos de serviço em urgências. Ao contrário, “houve exceções para os muçulmanos, com suas longas hiyabs”. No South London Council deixam os muçulmanos rezar cinco vezes por dia, mas não permitem que os cristãos tenham calendários cristãos em seus escritórios. Como o caso de Eunice e Owen Johns, um casal de anciãos pentecostais: não foram aceitos como pais adotivos, apesar de sua experiência, porque não aprovavam a homossexualidade. “A Comissão de Paridade de Oportunidades interveio nesse caso. E interveio contra os cristãos”, fez notar Williams: “Intervieram em muitos outros casos importantes. Mas nunca intervieram contra os muçulmanos. Intervieram apenas nos casos em que havia cristãos envolvidos para posicionar-se contra”.
“Isto não é igualdade. Isto é desigualdade. Há um servilismo generalizado para com o islã, e, ao contrário, se suprime o cristianismo”, observou Williams. Por isso, “está devastando nossa sociedade a ideia de abrir espaço à sharia, de aceitá-la para depois dizer que as agências de adoção católicas, que acreditam que uma criança necessita de uma mãe e de um pai casados, devem fechar”. Williams disse que a perseguição agressiva do secularismo na Inglaterra está criando um “vazio” que os muçulmanos radicais poderiam aproveitar. “O islã radical tem um programa preciso neste país, e está trabalhando duro”, pontualizou.
O presidente da Comissão para a Igualdade Racial, Trevor Phillips, por sua vez, considera que “devemos alcançar o objetivo de uma sociedade integrada, na qual todos sejam iguais perante a lei e que haja determinados valores comuns”. Em relação aos jovens muçulmanos, destaca o jornal conservador inglês The Times, “a primeira coisa que devemos fazer é chamá-los britânicos: repetir-lhes que são muçulmanos e que o aceitem. Mas devemos explicar a eles que devem comportar-se segundo as regras do povo britânico, o que implica a exclusão do terrorismo”. Por isso, “faz-se necessário a afirmação de um núcleo forte de ‘britanicidade’”.
O Reino Unido, desde os anos 70, fez do multiculturalismo uma bandeira, justamente porque vive um forte fluxo migratório desde as ex-colônias. Phillips pontualiza: “Londres sabe que necessita dos imigrantes, quer sejam managers norte-americanos ou carpinteiros eslovacos. É preciso se assegurar de que os temas da imigração e do direito de asilo não sejam postos em discussão no mesmo nível dos raciais”. Phillips destaca que os crentes, enquanto indivíduos, podem esperar que sua Comissão defenda seu direito de celebrar o culto e de crer no que queiram crer. Assegura que faz parte “integral do pacto fundador de uma democracia liberal” o fato de que os indivíduos não sejam castigados ou tratados com discriminação por “serem anglicanos, muçulmanos ou metodistas ou judeus”. E os católicos?, pergunta a advogada Williams...
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