27 Fevereiro 2012
"O respeito pelos sentimentos religiosos é a chave para conquistar os corações dos afegãos. É um fator muito importante, que todas as forças ocidentais e os operadores internacionais devem ter muito presente". É o que afirmou em uma entrevista com a agência vaticana Fides o padre jesuíta Stanley Fernandes, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados do sul da Ásia, comentando os protestos em massa que se seguiram à notícia da queima do Alcorão por alguns militares do contingente norte-americano. No quinto dia de manifestações antiamericanas em várias cidades, também foram atingidas as Nações Unidas, e, desde o início das violências, foram mortas cerca de 30 pessoas.
A reportagem é do sítio Vatican Insider, 25-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os jesuítas estão presentes no Afeganistão há sete anos, levam adiante obras de caráter humanitário e são ativos no campo da educação e da formação profissional. O Pe. Fernandes, que passa longos períodos no país, depois de uma recente viagem a Cabul, explica à Fides: "A situação é crítica. Depois do incidente da queima do Alcorão, as pessoas estão indignadas, porque o episódio fere os sentimentos religiosos, um tema capaz de inflamar os ânimos. Não há justificação para a violência, mas é o que acontece quando se toca em questões religiosos. O pedido de desculpas oficial dos EUA chegou, mas eu acho que vai levar tempo até que a situação volte à calma".
O jesuíta continua: "Eu não acho que se corra o risco de uma guerra religiosa contra o Ocidente, mas incidentes como esse, em que os ocidentais ferem os sentimentos dos afegãos, certamente não ajudam a construir a confiança e um clima pacífico. Nesses casos, prevalece o instinto da multidão, que dá vazão à violência".
"Quando se atua no contexto afegão, onde o islamismo é majoritário – observa o Pe. Fernandes – é fundamental fazer isso respeitando profundamente a cultura e a religião da população local. Nesses casos, a relação entre as forças internacionais e a população local é muito delicada. Estabelece-se um frágil equilíbrio: por isso, é preciso prestar muita atenção à sensibilidade e ao contexto local para protegê-lo".
Sobre a experiência dos jesuítas, o religioso afirma: "Construímos boas relações com a população local, tentamos ajudá-la no desenvolvimento, respeitando seus sentimentos, desempenhando o trabalho humanitário e educacional. Estamos lá há sete anos, e as pessoas gostam muito de nós. Pela nossa experiência, a população afegã é aberta e tolerante, e aprecia a ajuda para melhorar a sua condição social e o seu bem-estar. Esperamos que, graças a muitas pessoas de boa vontade, entre os afegãos e as organizações internacionais presentes localmente, a violência cesse e que a situação possa voltar logo ao normal".