Por: Cesar Sanson | 18 Janeiro 2012
Economia global crescerá em 2012 e 2013 menos do que o previsto antes, segundo relatório da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) divulgado nesta terça (17). Agência avalia que condução política contra 'crise do emprego' nos países ricos ameaça agravar situação e apela: 'Não embarquem em políticas de austeridade fiscal'.
A reportagem é de André Barrocal e publicada por Carta Maior, 17-01-2012.
A agência das Nações Unidas voltada para estudos sobre comércio e desenvolvimento, a Unctad, divulgou nesta terça-feira (17) relatório sobre a economia global em 2012 com um cenário mais pessimista e previsões de crescimento menores. E para que a situação não se agrave ainda mais, a Unctad fez um apelo ao núcleo da crise, os países ricos: evitem arrocho fiscal.
“As Nações Unidas apelam aos governos dos países desenvolvidos que não embarquem prematuramente em políticas de austeridade fiscal, dados o estado ainda frágil da recuperação [econômica] e a persistência de altos níveis de desemprego”, diz a agência, no comunicado em que divulgou o relatório.
A declaração não cita países individualmente, mas é um referência ao núcleo “europeu” da crise. Mergulhados em problemas para pagar dívidas estatais ao “mercado”, Grécia, Itália, Portugal, Espanha e Irlanda têm negociado soluções que implicam corte de gastos públicos e de salários e redução de conquistas trabalhistas, como forma de os governos economizarem dinheiro e pagar o “mercado”.
A poupança pretendida pelos devedores teria como consequência estagnação ou baixo crescimento – sem injeção de recursos via investimentos públicos e consumo dos trabalhadores, a economia real não giraria.
Sem crescimento, no entanto, a arrecadação de impostos seria menor, impedindo os países de controlar mais rapidamente a dívida, deixarem de ser reféns do “mercado” e retomarem os investimentos. Uma espiral de estagnação sem dia para acabar.
Para a Unctad, estas nações deveriam resistir à tentação de se entregar à ortodoxia, pois teriam como escapar de um caminho que só beneficiaria o “mercado” – apesar de tudo, diz a agência, os países ainda teriam algum dinheiro em caixa para botar na economia e assim ativá-la; e ainda “desfrutariam” de juro baixo na hora de tomar empréstimos para investir também.
“A ONU recomenda ainda uma mais vigorosa coordenação internacional de medidas adicionais de estímulo em todos os países e a redefinição das políticas para estimular a criação de empregos diretos e mais investimento em infra-estrutura, eficiência energética e de fornecimento de energia sustentável e segurança alimentar, abrindo o caminho para se descontrair endividamento”, diz o documento.
Segundo a Unctad, a crise global hoje caracteriza-se por uma combinação de quatro fatores presentes simultaneamente: queda da demanda, fragilidade do sistema financeiro, problemas no pagamento de dívidas estatais e paralisia política.
É neste último elemento que a agência acredita que reside a maior ameaça de que a situação piore ainda mais. Para a Unctad, Europa e Estados Unidos (o outro núcleo da crise) precisam buscar soluções que ao mesmo tempo enfrentem o que a agência chama de “crise de empregos” e de “fragilidade da dívida soberana”. “As economias desenvolvidas estão à beira de uma espiral descendente”, afirma.
O relatório prevê que o mundo vai crescer 2,6% (a estimativa anterior, de junho, era de 3,6%); os EUA, 1,5% (eram 2,8%); e a União Européia, 0,7% (1,6% antes).
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Unctad apela para ricos não 'embarcarem' em arrocho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU