Brasil estuda dar visto de 2 anos a haitianos

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

12 Janeiro 2012

O governo brasileiro estuda a possibilidade de conceder vistos de dois anos para proporcionar capacitação profissional para os haitianos no Brasil em setores como o da construção civil e do turismo. A ideia partiu do Conselho Nacional de Imigração, mas ainda está em estudos. Foi o que informou ontem o embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman.

A reportagem é de Lourival Santanna e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 12-01-2012.

"Em vez de dependerem de coiotes no Peru e na Bolívia, eles iriam com visto para o Brasil, num sistema de imigração circular", disse o embaixador ao Estado. "Eles obteriam uma profissão e poderiam voltar para ajudar na reconstrução do país." Como parte da regularização da imigração, o governo estuda também conceder vistos de trabalho aos que já estão no Brasil.

A proposta noticiada ontem, de criar um limite de cem vistos por mês para os haitianos, seria inócua. A embaixada do Brasil em Porto Príncipe emite apenas de 15 a 20 vistos mensais - incluindo os de turismo, trabalho, estudos, participação em conferências, etc. Os cerca de 4 mil imigrantes haitianos no Acre e no Amazonas entraram no País clandestinamente, atravessando o Caribe em barcos precários. Passam por Panamá, Equador e Peru, para de lá seguir para o Brasil, às vezes passando pela Bolívia, com a ajuda dos coiotes.

A fuga de haitianos é impulsionada pela frustração com o ritmo lento da reconstrução do país após o terremoto de 12 de janeiro de 2010, que destruiu cerca de 300 mil casas. Na véspera do segundo aniversário do terremoto, aproximadamente 2 mil pessoas participaram ontem de uma manifestação exigindo casa e emprego. Eles atravessaram a cidade caminhando e foram até o Parlamento, onde entregaram um documento exigindo mais transparência na destinação dos recursos da ajuda humanitária internacional - até agora, US$ 4 bilhões (US$ 1,6 bilhão na assistência emergencial e US$ 2,4 bilhões em projetos de longo prazo).

"Achamos inaceitável que, dois anos depois do terremoto, entre 500 mil e 600 mil pessoas ainda estejam vivendo em acampamentos só em Porto Príncipe", disse o cientista político Jean-Claude Fignolé, diretor da Action Aid, uma das dez organizações não governamentais que organizaram o protesto. "Sem contar os migrantes que estão morando em áreas rurais hospedados com famílias e exercendo tremenda pressão sobre os recursos locais, sem planejamento e medidas adequadas para acompanhar esse fluxo de pessoas."

"Acho que na fase humanitária da emergência pós-terremoto a comunidade internacional, o governo haitiano e as organizações não governamentais fizeram um bom trabalho em proporcionar assistência", ponderou Fignolé . "O problema é que ficamos presos numa fase de transição. Não fomos capazes de avançar da assistência para o trabalho de reconstrução. Daí o número de pessoas nas ruas, a falta de empregos."

Parte do problema foi a desconfiança da comunidade internacional em relação ao governo do ex-presidente René Préval e o receio de que os recursos fossem desviados. "A percepção pública é a de que pode haver uma nova energia, uma nova dinâmica", reconheceu Fignolé, referindo-se ao governo do presidente Michel Martelly, eleito em março, que só em outubro conseguiu aprovar no Parlamento a nomeação de um primeiro-ministro, o médico Garry Conille, que trabalhou em projetos de desenvolvimento da ONU, foi assistente do ex-presidente americano Bill Clinton, enviado especial das Nações Unidas ao Haiti, e é respeitado pela comunidade internacional.

"Apesar disso, falta participação haitiana", analisa o cientista político. "É por isso que estamos realizando essa marcha. Para exigir transparência. Quais são as cifras, como e em que foi gasto o dinheiro, por que não fomos parte desse processo?" Além disso, ele considera necessário criar uma nova legislação sobre a propriedade de casas e de terras, e um órgão do governo que possa executar as políticas previstas nessa nova lei. A desorganização dos registros de propriedade tem dificultado os projetos de reconstrução.