Por: André | 12 Janeiro 2012
Suárez, município de 20.000 habitantes do departamento do Cauca, ao sul da Colômbia, é um dos territórios mais afetados pela exploração do ouro na América Latina. Sofre as consequência sociais e ambientais provocadas pelas transnacionais. Sua população, majoritariamente comunidades de afrodescendentes, viveu da extração tradicional de ouro durante 400 anos.
Desde há várias décadas, seus habitantes resistem à presença das multinacionais em seu território. Entre 2002 e 2010, o governo de Álvaro Uribe entregou mais de 7.500 títulos de exploração a empresas mineradoras do país e, sobretudo, a multinacionais. Essa política continuou com Juan Manuel Santos. Foi entre os anos 1994 e 1998, com o Governo do empresário da mineração Ernesto Samper, quando se foi esboçando o que hoje é o Código Mineral. Então, a Corte Constitucional rechaçou o código, mas finalmente foi aprovado sob o mandato de Andrés Pastrana (1998-2002), também com interesses na mineração.
Gearóid Ó Loingsigh, pesquisador e autor de Una mirada desde el sur, que realizou vários estudos sobre os efeitos da mineração na Colômbia, explica os efeitos que tem em Suárez a extração de ouro a céu aberto.
A entrevista é de Lola Matamala e está publicada no jornal quinzenal espanhol Diagonal, 05-01-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Qual é a situação em Suárez por causa da mineração?
Suárez é um lugar mineiro tradicional, povoado em sua maioria por comunidades afrodescendentes que se dedicam à exploração mineral artesanal. Neste município se comprovou a grande concentração de ouro em suas minas. Suárez e Buenos Aires [município vizinho ao primeiro] são os maiores produtores de ouro do departamento do Cauca, quinto maior produtor de ouro na Colômbia. As companhias destacadas ali são a sul-africana AngloGold Ashanti e a canadense Cosigor.
Que trâmites seguem as transnacionais para explorar o ouro?
O primeiro passo é a concessão de títulos de exploração. Para isso, enviam os geólogos para que recolham amostras do tipo de outro que há, assim como a concentração deste metal na mina. Depois as empresas apresentam um projeto de impacto ambiental para conseguir a concessão de exploração. É um trabalho longo. Embora a Organização Internacional do Trabalho em seu artigo 169 obrigue a consultar as comunidades indígenas para explorar suas terras, na Colômbia a consulta não é vinculante.
Que impacto ambiental têm as minas de ouro a céu aberto em Suárez?
Após a chegada das multinacionais o impacto é grande. Necessitam ocupar grande parte do território para fazer as instalações, para albergar a equipe, o cianureto que contamina as águas, etc. Além disso, levantam grandes acampamentos para o maquinário e o alojamento dos trabalhadores. As dimensões de uma mina de ouro podem chegar a medir um quilômetro de diâmetro por outro de profundidade. O aumento da poeira em suspensão no ar é mais que notável. Provoca doenças respiratórias agudas que podem ser mortais para as crianças. O derramamamento de cianureto na zona, que contamina as águas subterrâneas, e os vazamentos de gases tóxicos em consequência da extração é um dos efeitos mais nocivos. Além disso, necessita-se de grande quantidade de água para a extração: segundo informa a AngloGold Ashanti em seus relatórios a média é de cerca de 12 metros cúbicos por cada onça troy [medida utilizada para metais preciosos] de ouro produzida (31.101 gramas). Assim, uma mina pode estar consumindo entre sete milhões e dez milhões de metros cúbicos de água por ano.
Apesar disso, as empresas que operam em Suárez podem conseguir as licenças de exploração?
Sim. Em Suárez há parques naturais, sítios que a legislação protege contra a extração, mas em toda a região do Cauca há cerca de mil concessões de exploração.
Que efeitos econômicos tem na população?
A mineração do ouro, a artesanal, é a primeira fonte de renda dos habitantes de Suárez. As comunidades, neste caso as afrodescendentes, são as que mais trabalham na mineração. Essa pequena mineração, artesanal, gera riqueza. Agora estes trabalhadores e trabalhadoras vão perder seu meio de vida e o deslocamento da população será ainda maior, terão que mudar-se para outros lugares, em grandes cidades como Cali e Popayán, a capital do Cauca. Alguns estudos, inclusive os do próprio Banco Mundial, reconhecem que estas empresas mineradoras não deixam a riqueza do ouro ali. O ouro é explorado e exportado para os Estados Unidos, Europa e Índia onde adquire valor na indústria de jóias. Os países produtores são pobres e a extração do ouro aumenta sua miséria. Multidões de comunidades são contra a exploração do ouro, consideram que é uma riqueza falsa porque têm que pensar em uma alternativa para a sua economia quando este metal acabar.
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“A extração de ouro aumenta a miséria dos países pobres” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU