08 Janeiro 2012
Pedro Franceschi, 15, não criou apenas o Siri (assistente de voz do iPhone) em português. Bem antes disso, ele já desbloqueava o iPhone dos colegas na escola onde estuda, no Rio, e cobrava por isso. O jovem diz que aprendeu tudo no Google e que qualquer um poderia fazer o mesmo.
A reportagem é de Maria Paula Autran e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 08-01-2012.
Desde muito pequeno eu tive contato com tecnologia, principalmente com coisas da Apple, porque meu pai trabalhava com fotografia e ele tinha os computadores mais potentes da Apple. Acho que foi meio que o gosto pela simplicidade. Não é fácil você ter uma coisa simples e fácil.
Com uns oito, nove anos eu comecei a procurar sobre como programar e fui aprendendo no Google, mas não sei muito de onde veio esse interesse inicial. Acho que teve um pouco de curiosidade, falta de ideia do que é programar. Aí fui procurar.
No colégio, eu desbloqueava [os iPods e iPhones] e cobrava das pessoas.
A Apple nunca veio me procurar diretamente, ela lançou uma carta aberta a hackers, falando para parar de desbloquear, senão eles iriam tomar as medidas legais.
Provavelmente eu aceitaria [trabalhar na Apple], mas é um lugar muito difícil de trabalhar, eles são perfeccionistas em todos os detalhes.
A ideia do Siri em português eu tive conversando com amigos sobre a possibilidade de fazer. A maioria achava impossível. Comecei a tentar. Demorou uns três dias inteiros e umas duas madrugadas.
Em 2011 eu entrei na M4U, que é uma empresa que faz todo tipo de coisa para celular. Eu vou lá três vezes por semana, fico quatro horas em média. Sou contratado como jovem aprendiz.
Minha mãe nem bota a mão [no dinheiro]. Eu vou guardando, compro os iPhones novos, acabei de trocar de iMac. O meu dinheiro basicamente é para isso. E eu guardo e quando quero comprar alguma coisa compro.
No início, minha mãe ficou preocupada de eu começar a trabalhar com 11 anos, mas depois foi ficando bem tranquila, foi vendo que as pessoas gostam do que eu faço e entendeu que eu trabalhava não porque as pessoas queriam me usar, mas era uma coisa que eu gostava também.
FUTURO
Eu gosto muito de exatas e esse é um dos motivos que vão me levar a fazer engenharia da computação. Eu sei assim um pouco de cálculo, mas eu queria ter a base teórica que a faculdade dá, porque ajuda muito em alguns trabalhos, tipo o Siri.
Provavelmente PUC-RJ ou UFRJ, mas, se pudesse escolher qualquer uma, provavelmente seria Stanford ou o MIT [Massachusetts Institute of Technology], mas são muito difíceis de entrar.
O mercado de programação hoje no Brasil está bem iniciado, só que é um mercado pequeno comparado com o de fora e as pessoas não têm muita ideia do que é desenvolvimento. Acham que é meio pastelaria, tipo "sai dois queijo" e de repente sai o aplicativo! Mas é um mercado que está crescendo muito.
Se eu disser que não [tenho vontade de ir pra fora] vou estar mentindo, mas porque lá é outra história: aqui todo mundo quer ganhar dinheiro, o projeto não importa e isso me dá uma aflição tremenda. Isso não dá certo, a prova viva é o Google.
Todas as coisas que dão certo são o contrário: primeiro você pensa num produto, depois no dinheiro. Eu nunca pensei que daria para tirar dinheiro com esse tipo de coisa. Tudo bem que dá, mas não faço nada pelo dinheiro, mas porque me divirto fazendo.
Acho que qualquer pessoa consegue fazer o que eu faço, sem dificuldade, mas acho que uma característica, não necessariamente minha, mas que é importante, é a persistência: é você querer fazer, pensar "eu sei que é impossível, mas eu vou conseguir", e continuar tentando.
Mas qualquer pessoa que tenha um pouquinho disso consegue fazer o que eu faço tranquilamente porque eu aprendi tudo no Google, até agora não fiz curso, então é possível você aprender o que quiser só pela internet.
Eu também saio com meus amigos. Faço coisas que gente da minha idade também faz. Mas o meu tempo é bem mais destinado a esse tipo de coisa mesmo. Todo mundo fala "você não tem férias de trabalho", e eu digo "férias de trabalho não é igual férias de escola e é isso aí".
Eu estou fazendo uma coisa que gosto e ainda me pagam pra isso, então não posso reclamar, né?
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Menino Prodígio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU