05 Janeiro 2012
Expulso do Brasil pelo regime militar, o padre italiano Vito Miracapillo retornou ao País após 31 anos. O religioso desembarcou na noite de terça-feira no Recife, onde foi recebido por centenas de amigos, fiéis e militantes dos direitos humanos. O padre foi expulso por se recusar a celebrar uma missa em homenagem ao Dia da Independência, na paróquia de Ribeirão, litoral sul de Pernambuco, como forma de protesto contra a ditadura.
A reportagem é de Mônica Bernardes e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-01-2012.
Miracapillo pôde retornar ao País beneficiado por decisão do Ministério da Justiça. Em outubro, o governo deu ao padre o direito de renovação do visto permanente. O religioso havia sido denunciado aos militares pelo então deputado estadual Severino Cavalcanti e teve o decreto de expulsão assinado pelo último presidente da ditadura, João Baptista Figueiredo.
Ontem, depois de ser recebido pelo governador Eduardo Campos (PSB), Miracapillo se mostrou bastante emocionado por voltar ao País. Por onde passou, foi acompanhado por uma multidão, que cantava sem parar "Vito, Vito, vitória". "Sempre me senti em casa no Brasil, especialmente aqui em Pernambuco. Foram muitos anos de expectativa e fé. E hoje estou aqui, de volta aos amigos, aos irmãos queridos", disse o padre.
Miracapillo foi duro ao ser questionado sobre a criação da Comissão da Verdade e a eventual participação de ex-aliados dos militares, como o ex-vice-presidente Marco Maciel (DEM), governador de Pernambuco na época da expulsão. "Não sei quem foi chamado nem sei quem faz parte da Comissão da Verdade, mas eu lembro que na época, quando Marco Maciel era governador, a única coisa boa que fez foi não falar. Ficou em silêncio, sem tomar posição."
A expectativa é de que o padre reassuma a paróquia de Ribeirão, onde será recebido com festa no fim de semana. Mas a decisão depende de acordo entre o Vaticano e as Igrejas do Brasil e da Itália.
Emocionados pela volta de Miracapillo, o casal Edson e Maria Dulce Reis seguiu o religioso durante o dia. "Ele celebrou nosso casamento e dois anos depois o batizado de nosso primeiro filho. Sofremos muito quando ele teve que ir embora", contou Edson. "Na época, houve muita revolta na cidade. Ele agiu corretamente, como um homem de Deus. O Brasil não era um país livre com os militares, então, como celebrar a independência?"
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Expulso por militares, padre volta após 31 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU