03 Janeiro 2012
Preso na Grécia o abade do mosteiro mais importante da sagrada montanha. O patriarca de Moscou exige a libertação. O patriarca de Constantinopla se cala. A rivalidade entre os dois reacendeu a partir da viagem à Rússia de uma relíquia da Virgem.
A reportagem é de Sandro Magister, publicada em seu sítio, Chiesa, 02-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Natal amargo no Monte Athos. Na sagrada montanha, na Grande Lavra, está conservada a relíquia do cinto da Virgem. Em Vatopedi, o mais importante dos 20 mosteiros, há um higúmeno, um abade, chamado Efrém, que é há anos a personalidade mais forte e de autoridade de todo o Athos.
O higúmeno Efrém foi à Rússia, em dezembro passado, levando consigo justamente a relíquia do cinto da Virgem. E os fiéis acorreram para venerá-la não aos milhares, mas aos milhões, sendo que alguns dizem que foram três milhões, outros cinco, presentes nas diversas cidades por onde a relíquia passou.
Mas, retornando ao Athos, no dia 24 de dezembro – vigília de Natal no calendário latino, que precede em 13 dias o calendário da montanha sagrada –, a polícia grega bateu na porta do mosteiro de Vatopedi, pediu pelo higúmeno Efrém e o prendeu.
Desde a terca-feira 27 de dezembro, o higúmeno Efrém está em uma prisão da Grécia, apesar de sua idade avançada e de sua precária saúde. A magistratura o acusa de ter se envolvido em uma venda ilegal de terras, por parte do seu mosteiro, em detrimento do Estado helênico.
A investigação estava em curso desde 2008 e parecia rotineira. Mas, nos últimos dias, de repente, ela se concretizou com essa prisão sem precedentes, em um Estado em que a religião cristã ortodoxa tem um status privilegiado, com uma autonomia ainda mais marcada para o Monte Athos.
De Moscou, o metropolita Hilarion, de Volokolamsk, número dois do Patriarcado da Igreja Ortodoxa Russa e seu ministro de Relações Exteriores, reagiu com uma dura entrevista à agência Interfax.
A personalidade do higúmeno Efrém – disse Hilarion – é tão alta e respeitada em todo o mundo, o seu zelo em dar vida ao monaquismo do Athos é tão impressionante e reconhecido por todos, que a sua prisão não pode ser senão "um ataque hostil aos monges do Athos e de toda a Igreja Ortodoxa.
Ainda de Moscou, o patriarca Kirill enviou uma mensagem ao presidente da República grega, Karolos Papoulias, para expressar a dor de "milhões de fiéis da Rússia, da Bielorússia, da Ucrânia, da Moldávia e de outros países" diante da notícia da prisão de um monge tão proeminente, "justamente nos dias em que a Igreja Ortodoxa Grega celebra a Natividade de Cristo", e para pedir a sua libertação.
O Monte Athos e seus mosteiros estão sob a jurisdição eclesiástica do patriarcado ecumênico de Constantinopla. No entanto, diante dos imediatos e ferozes protestos da Igreja russa, chama a atenção o silêncio de Bartolomeu I, que, de Istambul, não emitiu nenhum comentário sobre a prisão do higúmeno Efrém.
O jornal de Atenas Ekathimerini deu uma ênfase especial a esse contraste. E o atribuiu à rivalidade entre os patriarcados de Moscou e de Constantinopla, o primeiro dos quais está há muito tempo ativo em atrair o Athos para a sua própria órbita. A peregrinação do higúmeno Efrém à Rússia com a relíquia do cinto da Virgem seria parte desse projeto, naturalmente mal visto por Bartolomeu I.
O fato é que o silêncio do patriarca de Constantinopla sobre a prisão do número um dos monges do Monte Athos é ainda mais barulhento por causa dos protestos do patriarcado de Moscou.
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Um monge grego na cadeia, em pleno Natal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU