18 Dezembro 2011
Vinte mil vítimas, com o silêncio cúmplice da hierarquia católica. Depois da Irlanda e dos Estados Unidos, a Holanda se soma à lista negra dos países em que, durante décadas, a Igreja tolerou a vergonha dos abusos sexuais contra menores em escolas, seminários e orfanatos. A comissão de inquérito liderada pelo ex-ministro da Cultura democrata-cristão, Wim Deetman, em um relatório muito detalhado de 1.200 páginas, denuncia a responsabilidade de 800 religiosos pela violência e pelos abusos cometidos a partir de 1945 e pelo menos até 1981.
A reportagem é de Alexander Oppes, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 17-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sob acusação estão a Conferência Episcopal e as congregações religiosas, pelo seu "silêncio e abandono das vítimas". O documento revela que a Igreja sempre esteve a par da existência do problema da pedofilia em seu interior, mas preferiu "lavar as roupas sujas em família". Deetman diz: "Foram buscadas soluções, incluindo uma suposta cura para a pedofilia, dentro das ordens religiosas. Mas a hierarquia estava a par do problema dos abusos de menores desde 1945. Eles sabiam disso".
Tanto os bispos quanto os superiores das congregações religiosas deveriam ter informado a Santa Sé dos casos que ficavam sabendo. "E nem sempre faziam isso", denuncia a comissão. "Eles aplicaram soluções internas pensando mais no agressor do que nas vítimas".
A comissão recebeu quase 2.000 denúncias e conseguiu identificar os nomes de 800 autores de abusos, entre padres e leigos, 150 dos quais ainda estão vivos, embora não existam informações detalhadas sobre quantos deles ainda estão em atividade e quantos foram removidos ou transferidos pelas autoridades eclesiásticas.
Embora a Igreja sempre tenha estado a par do que acontecia em seu interior, agora, a Conferência Episcopal reage com indignação às notícias que surgem a partir do relatório. "Estamos chocados com os abusos e com práticas detalhadas pelo documento", dizem, em nota. "Esses episódios nos enchem de vergonha e de dor". Mas as associações das vítimas respondeu com uma dura acusação às "sinceras desculpas" da hierarquia: "O rosto da Igreja Católica do passado não nos dá garantias para esperar em um futuro melhor".
Ainda nas semanas anteriores, antes ainda de que fosse concluída a investigação da comissão, a Igreja holandesa havia anunciado que se comprometeria para indenizar as vítimas dos abusos cometidos entre 1960 e 1970. Por enquanto, prevê-se pagamento de pelo menos 5 milhões de euros em indenizações: de 5.000 euros para os casos de "insinuações ou gestos sexuais que atentem contra a integridade física ou a saúde mental do menor" até 100 mil euros para aqueles que sofreram "abusos prolongados com consequências psíquicas permanentes".
Esse é um primeiro passo para uma completa admissão de responsabilidade, depois de fevereiro de 2010, quando um jornalista da Rádio Nederland começou a revelar o escândalo, e o cardeal Simonis (foto acima), a figura católica mais relevante do país, surpreendeu a todos dizendo: "Não sabíamos de nada".
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Holanda faz as contas com as 20 mil vítimas de padres pedófilos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU