16 Dezembro 2011
As emissões de dióxido de carbono continuam crescendo, mas as perspectivas de uma política mundial para o clima diminuíram ainda mais em Durban, África do Sul, nesta semana. Em uma entrevista, o especialista em política ambiental Klaus Töpfer explica quais passos precisam ser tomados e por que a Alemanha enfrentará maiores desafios do que a maior parte de outros países na batalha contra o CO2.
A entrevista é da revista Der Spiegel e reproduzida pelo portal Uol, 16-12-2011.
Eis a entrevista.
Logo após a reunião de cúpula do clima em Durban, o Canadá retirou-se do Protocolo de Kyoto –aparentemente porque o país quis evitar o pagamento de multas por emissões que podem chegar a bilhões. O que o senhor acha disso?
Não me surpreendeu. O Canadá é um dos três países que disseram, antes da reunião de cúpula, que queriam se retirar do protocolo. Os outros dois foram o Japão e a Rússia. Mesmo antes disso, o Canadá não cumpria suas obrigações sob o Protocolo de Kyoto. A decisão de agora mostra que, na reunião de Durban, tudo que era possível se alcançar naquelas circunstâncias foi alcançado. Mas de forma alguma foi um avanço na política climática.
Mas não é uma falha em um tratado internacional, quando um país pode simplesmente se retirar para escapar das penalidades?
Sempre vemos melhor quando olhamos para trás. O direito de anunciar a retirada é uma falha no projeto. Contudo, o principal problema do Protocolo de Kyoto é que quase não há um meio de forçar a implementação dos acordos. Em outras palavras, há apenas as cenouras, mas não os bastões.
O senhor descreveu o resultado em Durban como sendo o melhor possível. Com isso, o senhor não está ignorando o fato que um acordo foi fechado que não prevê datas concretas para as metas de CO2 e no qual não está claro se de fato é legalmente obrigatório?
Posso parecer excessivamente otimista nesse respeito. Mas a reunião tinha quase fracassado! O fato de um acordo ter sido firmado já foi o primeiro sucesso. Em segundo lugar, a política climática pode não ter progredido em termos de conteúdo, mas progrediu estruturalmente. Agora, uma revisão fundamental dos procedimentos e implementação terá que ser feita.
O que o senhor quer dizer com isso?
Que é um sucesso com muitos condicionantes – e teremos que esperar e ver se um novo tratado toma forma em Qatar (em 2012). Mas uma coisa está clara: a União Europeia conseguiu seguir seu curso com uma estratégia clara, consistente e dura. Nós também trouxemos mais parceiros para o tratado, ou seja, as nações em desenvolvimento. Isso é importante porque esses países sofrem mais com a mudança climática. Até agora eles sempre estiveram ao lado dos chineses, votando contra o tratado. Isso representa uma mudança revolucionária.
A China, a maior emissora de dióxido de carbono, ainda está insistindo que nenhum limite de CO2 seja estipulado. Os europeus serão capazes de usar a decisão da reunião para aplicar pressão sobre a China? Ou sobre os EUA?
Não. Pressão de fora não dá muito resultado. Mas a pressão de dentro, especialmente na China, aumentou significativamente. A mudança climática vai causar sérios danos ao país, e os chineses reconhecem isso. Além disso, eles têm a necessidade de uma política de energia diferente –especialmente por razões econômicas. E a prioridade das nações em desenvolvimento é clara: continua sendo a superação da pobreza. Nós no Ocidente não podemos simplesmente assumir ares de nobreza e dizer aos países mais pobres que não queimem nenhum combustível fóssil porque são prejudiciais ao clima. Eles consideram isso arrogância, porque eles veem, é claro, o que viemos fazendo há anos.
Mas qual é a alternativa?
Temos que salientar as vantagens. Você pode se tornar independente das flutuações de preço e dos problemas de oferta de fontes de energia fóssil; você pode tirar vantagem de seus próprios recursos. Por exemplo, a energia geotérmica no Quênia ou a solar no Norte da África. Ao fazer isso, esses países vão se tornar independentes, as inovações vão ajudá-los em seu processo de desenvolvimento e ao mesmo tempo terão um efeito positivo no clima.
A Alemanha é considerada o motor mundial no que concerne a política ambiental. Ainda assim, o senhor disse recentemente que nem isso é suficiente. Por quê?
Na época e hoje, a Alemanha é uma força motora na política climática. E eu não sou a única pessoa que vê dessa forma: até a indústria está ficando ansiosa. Precisamos implementar a revolução energética (o ambicioso plano da chanceler Angela Merkel de eliminar toda a energia nuclear e aumentar enormemente a dependência em energias sustentáveis nos próximos anos) com muito mais força e insistência. Isso não pode ser às custas da mudança climática.
O que quer dizer em termos concretos?
Para a implementação da revolução energética dentro de 10 anos, precisaremos de uma administração da questão da transformação da energia, porque é um dos maiores projetos que temos na Alemanha. Vai exigir gerenciamento profissional que possa controlar os desenvolvimentos na sociedade civil de transformação e corporativa, é claro. É preciso afirmar que a forma pela qual a Alemanha respondeu à catástrofe em Fukushima foi única no mundo. Não há outro país industrializado que queira se retirar da energia nuclear e ao mesmo tempo emitir quantidades cada vez menores de CO2.
As coisas provavelmente poderiam ter sido mais fáceis para o governo da chanceler Angela Merkel se não tivesse estendido o tempo de vida das usinas nucleares da Alemanha por uma média de 14 anos em 2010. Ao fazê-lo, seu governo reverteu a redução nuclear que já tinha sido aprovada pelo governo de coalizão do ex-chanceler Gerhard Schröder, dos sociais democratas de centro-esquerda e do Partido Verde, em 2001.
Isso de fato aumentou a pressão política. Mas mesmo na época, a extensão do tempo de vida não questionava a decisão final de abandonar a energia atômica. Agora, teremos que provar essa política. Isso porque outros países estarão dizendo: vocês estão deixando nosso povo nervoso. Eles estarão perguntando por que a Alemanha pode prescindir da energia atômica? Por que precisamos dessa tecnologia?
Atualmente, os protestos contra a energia atômica estão acontecendo até mesmo na França, um país que há muito promove a energia nuclear.
Precisamente. A responsabilidade que a Alemanha assumiu ao implementar a revolução de energia é enorme. Mas também é preciso deixar claro que, na Alemanha, a energia nuclear é 25% do total, mas na França é 80%. Isso torna difícil fazer comparações diretas. Depois do desastre de Chernobyl, saímos em busca de energias renováveis e tentamos garantir que prevalecessem no mercado. A Alemanha hoje tem a tarefa de provar se a quarta maior potência econômica do mundo, que é tão fortemente dependente das exportações e de indústrias intensivas em uso de energia, pode continuar competitiva com tal política energética. Este será o maior desafio nos próximos anos.
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Política climática progride estruturalmente com Kyoto, diz especialista alemão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU