Por: André | 17 Dezembro 2011
São dois os temas que estão dominando o debate no interior da Igreja belga. Por um lado, o escândalo dos abusos sexuais perpetrados pelo clero; por outro, a proposta de um grupo de católicos que esperam a abertura do sacerdócio para homens casados e para as mulheres.
A reportagem está publicada no sítio Vatican Insider, 13-12-2011. A tradução é do Cepat.
Uma comissão independente revelou que, em relação aos abusos, tão somente entre janeiro e junho deste ano houve 475 denúncias. Muito desestabilizador é o caso do bispo de Bruges, dom Roger Vangheluwe, que se viu obrigado a renunciar após ter admitido que havia abusado de dois de seus sobrinhos.
Por outro lado, a frente dos católicos rebeldes se estende pela Europa, com muitos pedidos para reformar a Igreja. Depois do "apelo à desobediência", promovido na Áustria por centenas de párocos, a agência Adista indica que alguns sacerdotes e alguns leigos flamencos estão promovendo, desde a semana anterior ao início do Advento, um manifesto intitulado: "Os fiéis se fazem ouvir"; este manifesto alcançou 6.000 adesões na Bélgica somente no dia 1º de dezembro. "Os leigos – diz o manifesto – devem poder converter-se em párocos, coordenar as liturgias e pregar, e os homens casados e as mulheres devem ter acesso ao sacerdócio". Muitos e eminentes expoentes da Igreja belga se somaram ao apelo: Ignace Dewitte, Staf Nimmegeers e John Dekimpe, Roger Dillemans e Marc Vervenne, ambos ex-reitores da Universidade Católica de Lovaina, Paul Breyne, governador da província de Flandres ocidental desde 1997, Trees Dehaene e Agnes Pas, ex-presidente do Conselho Interdiocesano de Pastoral.
No manifesto, escrito "em solidariedade com os crentes austríacos, irlandeses e de muitos outros países", pede-se que os líderes das paróquias sejam leigos competentes e qualificados, que as funções eucarísticas sejam celebradas inclusive na ausência de um sacerdote, que os leigos possam pregar, que os divorciados em segunda união possam comungar e que, "o mais rápido possível, homens casados e mulheres sejam admitidos ao sacerdócio".
Os promotores convidam os crentes que compartilham de suas preocupações para que subscrevam o manifesto, convencidos de que o que pedem pode ter "um amplo apoio em todas as nossas dioceses" e que "se como fiéis tomamos a palavra, os bispos escutaram e estão prontos para levar adiante o diálogo sobre estas reformas urgentes". Por outro lado, afirmou Dekimpe, os que assinam "não são "contestadores’. São pessoas de fé que estão levantando suas vozes. Esperam que os bispos os ouçam". Há certo medo na hora de encarar os dirigentes da Igreja, disse, "mas, quer dizer que somos dissidentes? Creio que não. A Igreja belga é um desastre e caso não fizermos nada, o êxodo [de fiéis] nunca terá fim. Quero que os bispos reflitam de verdade e profundamente sobre o aumento do descontentamento entre os crentes".
Por ora não houve reações oficiais da Igreja belga; não se pronunciaram nem dom André Joseph Léonard nem outros bispos. Segundo a indicação da revista semanal norte-americana National Catholic Reporter, um bispo, que prefere o anonimato, aplaudiu a iniciativa. Uma avaliação positiva a respeito foi expressa por Jürgen Mettepenningen, ex-porta-voz de Léonard e teólogo da Universidade de Lovaina. O jornal belga De Morgen publicou algumas de suas declarações, entre as quais se destaca a seguinte: "Se volto a pensar no que disse e escrevi no passado, só posso dizer que o espírito do manifesto é o mesmo com que tratei de trabalhar para que a Igreja fosse mais crível: fiel à fé".
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Os leigos desejam dirigir as comunidades na Bélgica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU