Por: André | 10 Dezembro 2011
Os sindicatos e as organizações sociais que apoiaram a candidatura de Ollanta Humala apóiam os protestos dos camponeses.
A reportagem é de Carlos Noriega e está publicada no jornal argentino Página/12, 09-12-1011. A tradução é do Cepat.
O governo do ex-comandante Ollanta Humala, que venceu as eleições com o apoio da esquerda, enfrenta os protestos dos camponeses andinos que votaram em massa nele. Os protestos eclodiram com mais força na região norte de Cajamarca, devido à não aceitação de um milionário projeto mineiro que afetará o meio ambiente e as terras camponesas. Também houve manifestações, pela mesma razão, em outras zonas do país. O governo respondeu declarando estado de emergência – que elimina direitos como a liberdade de reunião, de trânsito e não ser preso sem ordem judicial e permite a intervenção das Forças Armadas para reprimir os protestos – em quatro províncias da região de Cajamarca. A direita e o stablishment econômico aplaudiu a medida. Os sindicatos e organizações sociais que apoiaram a candidatura de Humala questionaram duramente a medida e manifestaram seu apoio aos protestos dos camponeses.
A posição do governo em relação ao levantamento camponês foi mudando de um lado para o outro com o passar dos dias. Sua primeira reação foi apoiar a mineradora questionada, a empresa Yanacocha, que tem como principal acionista a transnacional norte-americana Newmont. Humala garantiu que o projeto da mina Conga, da Yanacocha – que foi o estopim do levantamento dos camponeses –, seguiria em frente apesar da greve que paralisou Cajamarca, o que incendiou ainda mais os protestos. Dias depois, deu uma guinada e ordenou a suspensão temporária do criticado projeto mineiro para revistar suas consequências ambientais. Mas poucos dias depois mudou novamente de ideia: decretou o estado de emergência, ordenou a prisão dos dirigentes dos protestos e embora a suspensão temporária do projeto Conga se mantenha, por enquanto, membros do governo saíram para defendê-lo publicamente.
A suspensão temporária do projeto Conga permitiu abrir um diálogo entre o governo e os camponeses, que não se conformam com o anúncio verbal desta suspensão e exigem uma norma legal que anule definitivamente o projeto de mineração. No último domingo, quando a greve dos camponeses estava em seu 11º dia, reuniram-se representantes do governo e dos camponeses. Não houve acordo e nessa mesma noite o governo decretou o estado de emergência na zona do conflito. Na segunda-feira, o governo reforçou a aposta repressiva. Nesse dia foi preso Wilfredo Saavedra, presidente da Frente de Defesa Ambiental de Cajamarca. Foi preso em Lima, sem que existisse ordem judicial, junto com outros cinco dirigentes dos protestos quando saíam do Congresso, depois de se reunir com um grupo de parlamentares da Comissão de Povos Indígenas em busca de uma solução para as suas reivindicações. Todos foram levado à política antiterrorista. Não havia acusações contra eles e dez horas depois foram libertados. O governo regional de Cajamarca apoiou os protestos dos camponeses e, na quarta-feira, o governo central cortou as contas do governo regional.
Desde segunda-feira, sob a ameaça do estado de emergência, as estradas de Cajamarca que estavam bloqueadas começaram a ser abertas de maneira pacífica pelos grevistas e a atividade comercial começou a se normalizar nessa região. Mas, na quinta-feira, as nove províncias de Cajamarca que não declararam estado de emergência iniciaram uma greve de 48 horas em rechaço ao estado de emergência no resto da região e contra o projeto da mina Conga.
A transnacional Yanacocha anunciou que irá investir 4,8 bilhões de dólares para operacionalizar a mina Conga, da qual espera extrair mais de 15 bilhões de dólares em ouro. Trata-se de uma mina a céu aberto para exploração de ouro que está situada em uma zona ecologicamente sensível: uma cabeceira de uma bacia onde nascem as águas que regam as comunidades terra abaixo. A mineradora pretende secar quatro lagoas para explorar o outro. "Água sim, ouro não", é uma das consignas mais lidas nas faixas que acompanham as marchas dos camponeses. Em outras se pode ler lemas como "Humala, traidor".
O Ministério do Meio Ambiente questionou severamente o projeto da mina Conga por suas consequências ambientais. Mas outros setores do governo, como o Ministério das Minas e Energia, insistiram em defender a continuidade da mina. O enfrentamento no interior do governo produziu a renúncia do vice-ministro do Meio Ambiente, José de Echave. Em declarações ao Página/12, o renunciante Echave assinalou que o projeto da mina Conga, assim como está colocado, "é inviável" e disse que o governo carece de uma estratégia para enfrentar os protestos sociais e tomou decisões, no meio da crise de Cajamarca, que fragilizam o Ministério do Meio Ambiente, o que motivou a sua renúncia.
As últimas decisões do governo frente ao conflito social em Cajamarca apontam no sentido de reforçar a aposta na mina, cercado pelo empresariado e pela direita e que o afastam de suas bases sociais. Embora, depois de uma série de marchas e contra-marchas, não se possa descartar uma nova guinada de Humala.
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Humala enfrenta oposição de camponeses contrários aos projetos de mineração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU