07 Dezembro 2011
Cidade reduziu em 53% o número de miseráveis. Porém, as pessoas abaixo da linha da pobreza são mais pobres do que a média nacional.
A reportagem é de Mariana Scoz e publicada pela Gazeta do Povo, 07-12-2011.
Curitiba reduziu a miséria pela metade entre 2004 e 2009, mas os curitibanos abaixo da linha de pobreza continuam mais pobres do que a média nacional. A quantidade de pessoas na classe E (considerada miserável) caiu 53,4% nesse período, segundo o Diagnós¬tico da Evolução dos Indicadores Sociais em Curitiba, feito pelo Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Porém, faltam R$ 81,32 para a pessoa tida como miserável, em Curitiba, ter uma renda que satisfaça suas necessidades básicas, R$ 20,43 a mais do que o necessário para a média nacional.
O economista-chefe do CPS, Marcelo Neri, apresentou ontem em Curitiba os resultados, obtidos a partir da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Segundo ele, para tirar da linha da miséria os 67,3 mil curitibanos que se encontram nessas condições, o equivalente a 3,64% da população, seriam necessários R$ 119 milhões por ano. "O que a pesquisa mostra é que o custo da erradicação da miséria, enquanto insuficiência de renda, é de R$ 3 por curitibano por mês", diz Neri.
Metade do caminho
Em 2003, ano de aumento na desigualdade e na pobreza por causa da recessão econômica, esse valor era de R$ 6 por curitibano por mês. "Isso mostra que a cidade está na metade do caminho e que o custo é relativamente barato", afirma Neri. O estudo apresentou outro dado esperançoso: em 2009, a renda dos curitibanos aumentou e chegou a R$ 1.203,62. Crescimento de 46% em relação a 2003. As desigualdades de renda entre pessoas de diferentes segmentos trazem dados interessantes. Por exemplo, a renda das mulheres subiu 59%, enquanto a dos homens subiu apenas 42%.
Nas famílias chefiadas por analfabetos, o aumento chegou a 40%, o dobro do valor das que são chefiadas por pessoas com 12 ou mais anos de estudo. Essas famílias tiveram um aumento de 21%. No caso das favelas, o aumento foi ainda maior. A renda de quem vive nesses lugares subiu 159% no período pesquisado.
Conclusões
Por meio da pesquisa, Neri concluiu que a cidade também apresenta uma nova classe média crescente, com desafios diferentes da classe mais pobre. "Aprendi em Curitiba a importância de não olhar só para os pobres e também para um grupo um pouco mais acima. É muito forte a ação da Fundação de Ação Social (FAS) nesse grupo mais vulnerável. Talvez seja importante olhar um pouco mais acima da pobreza", explica.
Para ele, as ações sociais curitibanas funcionam muito bem e podem melhorar. "Vocês (curitibanos) têm uma máquina azeitada, pois em termos de gestão ela está estruturada. Mas é preciso que ela seja usada e que tenha metas mais ambiciosas", afirma Neri. "Dada a qualidade da assistência social, é preciso integrar as ações do município com as do estado e até do governo federal, mesmo existindo diferença política entre eles. É possível importar os mapas dos pobres, que são muito bem feitos aqui, para outros níveis de governo", avalia.
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Curitiba, ''cidade modelo'', tem os mais pobres do Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU