06 Dezembro 2011
Pela primeira vez o bloco se uniu e decidiu deixar de fora os Estados Unidos e o Canadá. "Que a Celac avance no processo de integração, fazendo um sábio equilíbrio entre a unidade e a diversidade de nossos povos", afirma a Declaração de Caracas.
A reportagem é de Nora Veiras e publicado pelo Página/12, 04-12-2011. A tradução é do Cepat.
"Sem exageros, foi uma jornada histórica". O tom ufanista tinha motivos: Hugo Chavez foi o anfitrião de trinta presidentes , um vice-presidente e dois chanceleres. Durante dois dias estiveram em Caracas debatendo e dando vida à Comunidade de Estados da América Latina e Caribe (Celac). Pela primeira vez todo o bloco se uniu e decidiu deixar de fora os Estados Unidos e o Canadá.
Chávez antes de dar a palavra a Sebastián Piñera, o novo presidente temporário do Celac, advertiu que "agora tudo isso não pode ficar no papel, temos o compromisso de agir, aproveitar o que temos em comum e agir em benefício proprio e não uns contra outros", disse. "Que a Celac avance no processo de integração política, econômica, social e cultural fazendo um sábio equilíbrio entre unidade e a diversidade do nosso povo", afirma a Declaração de Caracas.
O respaldo unânime à reivindicação argentina sobre as ilhas Malvinas, o repúdio ao bloqueio econômico e financeiro contra Cuba e a defesa da democracia como requisito para integrar a Celac foram apenas algumas das vinte declarações emitidas pelo grupo.
Chavez, investido de um pequeno martelo de madeira, bateu para a aprovação unânime de cada uma das declarações. A única controvérsia foi deixada para depois: os presidentes não chegaram a um acordo se as decisões devem ser tomadas por consenso ou devem ser submetidas ao voto. Rafael Correa (Equador), Chávez (Venezuela), Raul Castro (Cuba) e Evo Morales (Bolívia) propuseram manter o critério do consenso até o próximo encontro no Chile quando então se deve resolver a questão. Correa foi um dos mais críticos ao critério do consenso. Para os diplomatas argentinos, este mecanismo garante a igualdade num cenário onde a heterogeneidade dos países é muito grande.
A Celac está nas mãos de uma "troika", assim denominada por Chávez o trio encarregado de dar corpo ao bloco até o próximo encontro que acontecerá no Chile. "Com o comandante Chávez e com o comandante e presidente Raúl Castro formamos uma troika. "Viva a diferença’, como diriam os franceses. Pensamos diferente e assim podemos aproximar nossas posições", disse Piñera. Castro sucederá o presidente do Chile. A harmonização de interesses tão divergentes exigirá a maestria dos engenheiros dessa nova estrutura. Na Celac convivem países bloqueados pelos Estados Unidos como Cuba, outros que avançam em Tratados bilaterais de comércio, como o Chile, Peru, Colômbia e México e outros com uma dependência histórica nessa área, como grande parte das ilhas caribenhas.
O presidente equatoriano foi o mais duro ao questionar o papel da Organização dos Estados Americanos (OEA). "Precisamos de um novo sistema interamericano. A OEA tem sido historicamente capturada pelos interesses dos EUA. Isto a converte em pouco confiável para os tempos da América Latina", disse ele acrescentando que "apenas pela atitude que teve durante o conflito nas Ilhas Malvinas merece desaparecer". Correa escolheu como segundo tema de sua apresentação os meios de comunicação. Enfatizou que é um defensor absoluto da liberdade de imprensa, mas não da "mentira". Alertou que "o poder fático planetário que constitui os monopólios tenta substituir o Estado de Direito pelo Estado de Opinião e expressa os interesses do grande capital". Chávez lembrou que a mídia jogou um papel importante no golpe que lhe afastou do poder em 2002. Evo Morales também disse que a sua principal oposição é representada pelos meios de comunicação.
O nicaraguense Daniel Ortega, que acaba de ser reeleito, condenou o papel dos EUA na região e a sucessão de atentados a bomba na Síria e na Líbia. "As potências não têm vergonha em defender os seus interesses cometendo crimes de lesa humanidade", repetiu ele. Chávez perguntou então "o que teria sido a América Latina, se os Estados Unidos não tivésse apoiado e patrocinado tantos golpes de Estado".
Pouco antes, Chávez deu a palavra ao presidente de Honduras, Porfirio Lobo.
- "A propósito como está o amigo Mel Zelaya", perguntou o venezuelano diante do incômodo de Lobo, que acabou sendo presidente depois de uma eleição após o golpe contra Zelaya.
- "Muito bem, pediu que lhe enviasse lembranças", respondeu o hondurenho e passou a falar dos benefícios da integração regional.
O colombiano Juan Manuel Santos pediu o fim das FARC e do ELN e para que a Celac interceda no processo de paz. "A paz é uma questão da Colômbia, tenho a melhor disposição para sentar se fica claro que estão dispostos a conversar seriamente. Agradeço a Celac", disse depois de lembrar do assassinato de quatro reféns faz poucas semanas. O colombiano também aludiu à necessidade de reforçar o comércio intra-regional, conforme havia sido destacado por Cristina Kirchner e destacou que "agora não é como antes em que todos os investimentos vinham dos Estados Unidos". Chávez insistiu na formação de um Fundo de Reservas "com a contribuição de todos os países da região. Ou não confiamos uns nos outros? Confiamos mais na banca de Basileia?".
"Um em cada dez habitantes no mundo vive na região da Celac, crescemos a uma média de 5,6% no ano passado e neste ano 5%. A Celac é essencial, muitos pensam que podem andar mais rápido, mas juntos podemos ir mais longe e seguros. Hoje, a unidade é o caminho ", resumiu Piñera, o empresário chileno que se tornou presidente e a quem as voltas da história o colocou junto com Chávez e Castro, no processo de concepção deste novo organismo.
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Celac: No caminho da unidade latino-americana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU