20 Novembro 2011
A reportagem é de Stéphanie Le Bars, publicada no jornal Le Monde, 15-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Vítima anunciada dos ventos contrários na Igreja e na imprensa generalista e militante, a revista cristã festeja os seus 70 anos, e o momento é muito difícil. Desde junho, o jornal não está mais à venda nas bancas. Apenas cerca de 7.000 assinantes – dez vezes menos do que nos gloriosos anos 1950 e 1960 – mantêm, todas as semanas, um dos últimos monumentos da imprensa francesa.
Um apelo "às ofertas isentas de impostos" foi lançado em setembro. "O jornal precisa de 150 mil euros para continuar e de outros 500 mil para se desenvolver", explica Anciberro. Dois anos atrás, o Témoignage Chrétien estava em más condições, e só um apelo aos leitores, que gerou 250 mil euros, é que permitiu que ele não sucumbisse.
Na sua sede parisiense, sobriamente indicada por uma placa dourada parafusada à porta de um apartamento, a equipe do Témoignage Chrétien, reduzida pela metade em dois anos, ainda acredita em uma saída. "Com 10 mil assinantes, podemos começar novamente a investir", assegura o editor-chefe. Mas, para a socióloga das religiões Danièle Hervieu-Léger, a missa acabou: "O Témoignage Chrétien é o ponta de lança de uma corrente muito datada, que está no fim da corrida".
Os leitores, "cristãos de esquerda" politizados ou militantes, envelheceram juntamente com o jornal. "O cristianismo progressista que ele encarnou se tornou minoritário durante o pontificado de João Paulo II", reconhecem os responsáveis pelo jornal, que apontam para a afirmação conservadora da Igreja em matéria de moral e a fracassada evolução dentro da instituição.
Enquanto o Témoignage Chrétien vai cada vez pior, a revista conservadora Famille Chrétienne encontrou um público próprio. "Os leitores do Témoignage Chrétien pertencem àquela geração que conheceu uma série de `desprazeres` no plano político e religioso: a queda da utopia comunista, a desilusão do Terceiro Mundo, a desilusão depois das promessas não cumpridas do Concílio Vaticano II, a experiência do `socialismo empresarial`", é a análise de Danièle Hervieu-Léger.
O declínio lento – mas, ao que parece, inevitável – começou, de fato, nos anos 1960. "A guerra da Argélia foi um momento de ruptura", assegura Jérôme Anciberro. "O Témoignage Chrétien tomou posição pela independência, o que provocou conflitos nas igrejas, onde o jornal, então, era amplamente distribuído". A descolonização, a causa palestina, o apoio aos padres operários também se tornaram características do jornal, no qual os maiores teólogos progressistas do Concílio têm a possibilidade de se expressar. Mas, em nível religioso, desde 1968 e com a publicação, por parte do Vaticano, da encíclica Humanae Vitae, que proíbe a contracepção, os católicos progressistas estão começando a se distanciar da instituição.
"Essas pessoas desiludidas não necessariamente deixam Igreja, mas, se nela permanecem, se sentem desconfortáveis", resume Philippe Clanché. Assim, não transmitiram aos seus filhos e netos as suas práticas religiosas, a sua fé. "E não lhes transmitiram nem a sua assinatura do Témoignage Chrétien", lamenta o jornalista.
Nesse contexto, o jornal, que não se define como "jornal da Igreja" – "aqui não se fala de devoções ou de objetos religiosos" –, se esforça para tornar "audível a mensagem da Igreja que se tornou inaudível". "Queremos fazer com que as pessoas entendam que ser cristão não significa necessariamente ser papista, reacionário e bloqueado com relação à sexualidade", afirma Philippe Clanché com um sorriso.
Isso porque o mundo católico, quantitativamente restrito, é cada vez menos interpretado por uma diferença esquerda-direita. "As diferenças existem majoritariamente entre aqueles que se interessam no crescimento, no ambiente, nos problemas antropológicos, e os outros. Podemos assinar textos com Christine Boutin – candidata à presidência do partido cristão-democrata – sem pôr em causa a nossa herança histórica", afirmam os responsáveis pelo jornal.
"De modo geral, notamos na Igreja uma vontade de fazer com que pessoas muito diferentes falem entre si", observa Philippe Clanché. "Para alguns, o fato de se sentir em minoria faz com que uns e outros se aproximem em uma sociedade que se supõe hostil. Para nós, trata-se de debater, e pensamos que podemos discutir de maneira inteligente entre católicos".
A imprensa católica segue essa evolução. Os dois polos – o conservador, representado há dez anos pela Bayard Presse (La Croix, Le Pélerin) e o progressiva, representado pel La Vie (publicação do grupo Le Monde) – são substituídos por um campo onde as opiniões estão mais misturadas.
Além disso, os novos leitores reivindicados pelo Témoignage Chrétien "não estão necessariamente comprometidos na política ou na Igreja institucional, mas buscam um olhar cristão sobre aquilo que não está certo no mundo", explica Jérôme Anciberro. "Também recebemos algumas perguntas de estudantes universitários", confirma Philippe Clanché. É nesse novo público, em particular altermundista, que os responsáveis pelo jornal apostam para o seu relançamento: "Gostaríamos de convencer aqueles que ainda ousam pensar que uma mudança da sociedade é possível".
Em apoio a essa convicção, o jornal escolheu festejar os seus 70 anos, no dia 19 de novembro, organizando em Paris as primeiras Assises Nationales de la Diversité Culturelle, "para responder a todos aqueles que decretam o fracasso do multiculturalismo". Para isso, o Témoignage Chrétien se associou ao jornal semanal gratuito de atualidades muçulmanas Salam News.
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A crise de Témoignage Chrétien e o recuo dos "cristãos de esquerda" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU