16 Novembro 2011
No livro do vaticanista Marco Politi sobre Joseph Ratzinger, uma análise severa sobre a qualidade e os limites do atual pontífice.
A reportagem é de Lorenzo Scheggi Merlini, publicada no jornal L"Unità, 15-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um papa que suscita "ternura". Que deve ser admirado pela tenacidade com que enfrenta as fadigas do pesado ministério petrino; decisivamente moderado nos costumes e quase ascético no estilo de vida; um estudioso apaixonado; um intelectual que alcança admiráveis alturas de pensamento e que, como tal, abre caminho nos ambientes intelectuais, sobretudo europeus. Uma pessoa de 84 anos coerente que já disse que, em caso de impedimento por motivos de saúde física ou mental, não hesitará em renunciar.
Mas também intransigente em reafirmar o corpus tradicional da doutrina católica, indiferente (ou impermeável) perante os sinais que vêm de dentro da própria Igreja em matéria de moral sexual, bioética, sacerdócio feminino, celibato, e que já gritam que já é hora de dar início a uma discussão sem preconceitos sobre todas essas frentes. E ainda: um homem que, mesmo tendo sido protagonista de posições inovadoras do Concílio, coloca-se agora à frente de todos aqueles que, teimosamente, negam o porte revolucionário que ele teve.
Um papa eurocêntrico, aterrorizado pelos "ismos" que vive como uma ameaça mortal para a Igreja e jamais como uma oportunidade. E, no fundo, foi por isso que ele foi eleito. Um papa – e é o tema recorrente de todos os capítulos – incapaz e talvez até desinteressado pelo governo concreto de uma comunidade mundial de um bilhão e duzentos milhões de fiéis espalhados por todo o mundo, que, além disso, está cercado de colaboradores não à altura das tarefas e que não o ajudam nem a evitar erros diplomáticos.
O mais recente trabalho de Marco Politi – talvez o mais perspicaz, informado e culto entre os vaticanistas italianos –, que chegou há poucos dias às livrarias (Joseph Ratzinger: Crisi di un papato, Ed. Laterza, 328 páginas), é um livro que merece toda a atenção exigida pela sua leitura complexa, embora muito fluida e apaixonante.
Ele se apresenta com um título claro, mas não gritado, fala de um papado em "crise". Mas, vendo bem, ao refazer os episódios mais marcantes dos setes anos ratzingerianos, todos documentados de forma esmerada, com um conjunto de materiais realmente imponente, digno de um historiador mais do que de um jornalista, surge um afresco impiedoso, que muitas vezes faz pensar em um verdadeiro fracasso.
Capítulo após capítulo, desfia-se a crise com o mundo islâmico, a crise recorrente com os judeus, a revogação da excomunhão imposta aos ultraconservadores – negacionistas – anticonciliares de Marcel Lefebvre, nomeações inoportunas de bispos indignos e o câncer da pedofilia, tolerado, ocultado por muitos, muitos anos.
Politi, obviamente, analisa o Bento XVI das últimas e duríssimas posições e dos procedimentos consequentemente adotados contra a pedofilia e os padres pedófilos, mas constata, respaldando a afirmação com muitíssimos documentos, um atraso culpado. Portanto, esses aspectos negativos já caracterizaram o papado e prevalecem, defende o vaticanista, sobre aqueles, muito importantes, positivos.
Uma tese certamente discutível que, obviamente, não é compartilhada por todos. Especialmente por aqueles que pensam que deve prevalecer, no julgamento, o papel de denúncia do papa contra o capitalismo financeiro enlouquecido, contra o liberalismo que produz miséria e pobreza, contra a deriva de um mundo que parece ter perdido os valores fortes e que se move sem uma bússola.
Mas certamente as argumentações e os fatos mostrados por Politi são pedras que absolutamente não podem ser evitadas.
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Quando o vento da crise chega à cúpula da Igreja Católica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU